Em busca de alternativas para reduzir impactos ambientais e gerar energia, comitiva do Vale do Taquari viaja ao Paraná, onde conhece projetos na área de biomassa. O grupo visita, nesta segunda-feira, 23, o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), em Foz do Iguaçu (PR), e exemplos com biodigestor, que transforma matéria orgânica em fonte de energia e adubo.
Estão à frente do debate o Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Emater/RS-Ascar e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). “Criamos um grupo voltado ao agronegócio, atento ao desenvolvimento sustentável do setor”, explica o presidente do Codevat, Luciano Moresco.
Segundo ele, um dos gargalos para ampliar a criação de suínos, por exemplo, é o destino dos dejetos. “Legislação delimita o volume e muitos produtores já não conseguem mais ampliar o plantel”, observa. De acordo com Moresco, o sistema com biodigestor seria uma alternativa para destinação correta dos dejetos e oferecer novas fontes de energia.
O Vale já possui algumas iniciativas de aproveitamento da matéria orgânica, mas o objetivo dos líderes regionais é buscar um modelo coletivo, reduzindo custo de implantação. “Talvez uma cooperativa ou associação possa ser a alternativa para operar este modelo, onde recebe os dejetos e através do biodigestor gera energia e adubo. É uma forma de cuidar do meio ambiente e gerar renda”, comenta o presidente do Codevat.
Mobilização regional
O gerente da Emater/RS-Ascar, regional de Lajeado, Marcelo Brandoli, fala da importância de ampliar o debate sobre a correta destinação de dejetos. “Santa Catarina e Paraná estão bem mais avançados neste aspecto”, observa.
Cita a importância de envolver a Univates, Embrapa, municípios, governo do estado e entidades do setor. “Nosso Vale do Taquari é muito produtivo, mas precisamos ter o cuidado na questão ambiental. Gerar energia limpa e evitar contaminação do solo são aspectos importantes”, diz Brandoli.
Sustentabilidade
Coordenador regional do STR, Marcos Hinrichsen, observa que os próprios produtores têm essa preocupação com a sustentabilidade. “Onde o terreno é muito dobrado não tem como colocar um chiqueirão, por exemplo. Isso impede investimentos pois acaba não tendo onde destinar os dejetos”, pontua.
Na sua avaliação, gerar energia elétrica ou até mesmo gás veicular a partir desta matéria orgânica torna-se uma alternativa muito interessante. “Hoje já temos o exemplo da energia solar, o sistema é cada vez mais popular. O biogás pode ser outra forma de investir com sustentabilidade”, comenta Hinrichsen.
O exemplo do Paraná para o Vale
O projeto feito em Entre Rios do Oeste (PR), foi concebido pela Aneel com a temática de arranjos técnicos e comerciais para inserção da geração de energia elétrica a partir do biogás oriundo de resíduos e efluentes líquidos.
Patrocinado pela Companhia Paranaense de Energia (Copel) e executado por CIBiogás e Parque Tecnológico Itaipu (PTI), o objetivo do projeto é gerar energia elétrica utilizando o biogás produzido em propriedades suinocultoras.
As propriedades rurais estão conectadas a uma rede coletora de 20,6 quilômetros (ramal principal) que transporta o biogás até uma central termelétrica de 480kW de potência instalada com dois grupos motogeradores. Na minicentral, o biogás é transformado em energia elétrica, que por sua vez compensa o consumo de energia dos prédios públicos de Entre Rios do Oeste.
O município hoje conta com aproximadamente 4 mil habitantes. Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), a cidade concentra um plantel de 155 mil suínos, sendo o quarto maior produtor do estado e 16º do Brasil.
Granja Colombari
Localizada em São Miguel do Iguaçu (PR) a propriedade possui um rebanho aproximado de 5 mil suínos, 350 bovinos para pecuária de corte, e utilizam o biofertilizante (um dos produtos da biodigestão) para fortalecer a pastagem.
A granja faz parte de um projeto piloto no Paraná que desenvolve uma microrrede, no qual mantém-se o sistema de geração distribuída a biogás.
Resultados do projeto
• Tratamento diário de 215 toneladas de resíduos;
• Produção de 4.600 m³/dia de biogás;
• Até setembro de 2020, o governo municipal economizou R$ 604.505,26 em energia elétrica;
• A média de economia mensal no período de setembro de 2019 a Setembro de 2020 foi de R$ 46.462,87;
• O mês de setembro de 2020 apresentou a maior produção desde o início das operações com 113 MWh, alcançando 70% de todo consumo de energia dos prédios públicos municipais.