Análise preliminar indica que coberta caiu sobre aquecedor

Tragédia em Estrela

Análise preliminar indica que coberta caiu sobre aquecedor

Incêndio no bairro Alto da Bronze resultou na morte de bebê que completou 1 ano na semana passada. Segundo relato de vizinhos, telhado em chamas demorou menos de 10 minutos para cair. Cenário dificultou entrada na casa e impossibilitou resgate

Análise preliminar indica que coberta caiu sobre aquecedor
Casa fica nos fundos de terreno da família. Na construção de madeira, viviam a mãe, o pai e o casal de filhos (Foto: Carlos Eduardo Schneider)
Estrela

“Foi a pior sensação do mundo”. Esse foi o sentimento do bombeiro Rodrigo Pires da Silva ao encontrar o corpo carbonizado de uma criança de 1 ano às 10h de quinta-feira, 12. Os bombeiros militares de Estrela chegaram ao local pouco depois das 8h, minutos depois do chamado. A casa de madeira estava em chamas e o telhado já havia desabado.

“A gente torce para que não tenha um corpo lá. Meu desejo é que tivesse passado alguém lá e tirado a criança”, relata Silva. Ele atua como bombeiro desde 2008, mas quando encontrou o bebê, não conseguiu desassociar o ofício da emoção. “Eu também sou pai, tenho uma menina de seis anos”.

O tenente Vicente Wendt é bombeiro faz 32 anos. Essa ocorrência, porém, ficará na memória. “Nessas horas, eu gostaria de ser o super-herói que acham que nós somos”, lamenta. Durante o resgate, Wendt desceu nos escombros, e voltou com um cachorro vivo. O público que assistia ao sinistro recebeu o agente com aplausos. “Nesse momento eu me emocionei, caiu uma lágrima. Eu poderia estar carregando aquela criança”.

Para o combate das chamas, foram utilizados dois caminhões e 10 mil litros d’água. O foco do incêndio foi apagado em 35 minutos, mas a ocorrência durou cerca de duas horas.

Assistência à família

Os pais da criança moravam com os dois filhos, nos fundos da casa dos avós, ambos de 74 anos. Enquanto a filha mais velha, de cinco anos estava na creche, o bebê ficava com os idosos.

A mãe estava no supermercado onde trabalha e chegou em casa quando as chamas ainda estavam acesas. O pai recebeu a notícia do incêndio no seu emprego em uma olaria. “Achei que fosse outra casa. Só tinha um risco de fumaça na outra rua. No meu pensamento, ele estava bem”.

No primeiro atendimento, a Secretaria de Saúde concedeu o auxílio-funeral. “A partir de agora, vamos oferecer os serviços de psicólogos. Hoje, eles estão preocupados com o sepultamento. Amanhã, eles vão ter necessidade de outras atenções”, diz a diretora de Desenvolvimento Social, Tatiana Oliveira.

O sepultamento da criança será às 11h desta sexta-feira, no Cemitério Municipal de Canabarro, em Teutônia.

Perícia e inquérito

A Polícia Civil instaura inquérito para apurar as circunstâncias do incêndio e como era o cuidado com a criança na casa. A partir disso, será verificado se há ou não alguma responsabilização criminal à família.

Em princípio, diz o delegado Juliano Stobbe, o incêndio foi “culposo” (não intencional). O Instituto Geral de Perícias (IGP) esteve no local. Em uma análise prévia, o fogo começou devido ao aquecedor elétrico. Um cobertor teria caído sobre o aparelho.

“A criança foi a primeira atingida. Foi muito rápido. Todo o material no quarto era inflamável. O cobertor, o colchão e a casa de madeira. Foram poucos minutos e o teto já tinha ruído.” O laudo com os detalhes sobre os motivos do sinistro serão entregues à investigação nas próximas semanas.

Entrevista

Zeloá Machado Vieira • psicóloga

• O luto é natural, inconsciente e pode se manifestar como raiva, culpa ou negação. Para a psicóloga, é importante ressignificar a perda em um espaço de memória e buscar motivação para continuar.

“Seguir em frente não significa desrespeitar a morte de alguém”

• A Hora – De que forma essa tragédia impacta sobre o emocional da família?

Zeloá Machado Vieira – Se trata de algo muito delicado, pois é um assunto tão frágil e doloroso. Para a família, o impacto está relacionado a como se encara a morte, as suas crenças, pois cada pessoa reage de uma forma diferente. Seja por sua personalidade, cultura, experiências e circunstâncias de vida na qual se encontra.

Neste momento, o esperado é a passagem do luto. Importante avaliar que não estamos falando só da perda física, mas de todo o simbolismo que representa, as expectativas de futuro, projeções de vida. São partes de nós que morrem junto.

Há ainda sintomas emocionais, de raiva, culpa, tristeza, solidão, que podem desencadear crises de ansiedade, alucinações. Além disso problemas físicos, como: aperto no peito, alteração no sono, perda de apetite, dor de estômago, falta de ar e taquicardia.

• Como lidar com uma situação como essa?

Zeloá – O período de luto deve ser respeitado. Cada indivíduo enfrenta essa situação conforme consegue. É natural que a pessoa passe por uma fase de negação, raiva, depressão até chegar a um estágio de aceitação. Isso é perfeitamente compreensível, chega a ser prejudicial quando terceiros tentam privar os enlutados de sua dor e sofrimento. São fases por vezes inconscientes. Por isso não é possível prever um tempo de duração. O luto se torna disfuncional quando ficamos presos em uma fase e não conseguimos aceitar.

• E quanto ao sentimento de culpa?

Zeloá – Em situação de mortes trágicas, é comum surgir a culpa do sobrevivente, o fato de “o outro ter morrido e eu não. Me faz sentir culpa por estar viva.” Isso pode desencadear comportamentos autodestrutivos. Buscamos evidências, fantasiosas, que comprovem a nossa culpa no ocorrido.

São tentativas de achar um motivo ou significado, acabamos por encontrar um culpado para amenizar a sensação de impotência ou se punir.

De qualquer forma, é importante haver um acompanhado profissional para ajudar nessa ressignificação, a trabalhar formas de aceitar o que aconteceu, de ver nossa impotência sobre a vida. O fato de conseguirmos seguir em frente não significa desrespeitar a morte de alguém, ela ainda existe em nossa memória e no nosso coração, significa que apesar da perda encontramos forças e motivação para continuar.

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