Como a motocicleta entrou na sua vida? Há quantos anos roda?
Bom, é preciso diferenciar o que é ter uma moto e o que é viver a cultura da motocicleta. Meu pai sempre teve moto e cresci vendo ele andando. Depois, meu irmão mais velho me apresentou a cultura “custom” (motos estradeiras). Aí foi paixão à primeira vista. Pensei: é isso que quero e vou correr atrás deste sonho.
Comecei a participar de eventos, mesmo sem ter uma motocicleta dessas. Lia muito sobre o assunto, busquei me inteirar sobre o funcionamento dos clubes de moto e seus princípios. Quando eu tinha uns 30 anos comprei a minha Harley Davidson. Aquilo era um ideal para mim, por isso esperei um pouco até ter a minha.
Desde que peguei ela, passei a rodar sempre. São 12 anos de estrada. Esse foi o princípio para fundamos o nosso MC.
Desde então, qual o espaço da motocicleta no seu cotidiano?
Se eu pudesse, estaria 24 horas por dia rodando. Como não dá, busco o máximo que posso estar em meio as nossas atividades, juntando os irmãos de clube. Mantemos nossas jantas uma vez por semana na sede. E sempre que possível, nos organizamos para pegar a estrada, pois esse é o espírito do clube. Criamos ele para termos a vivência sobre as motos.
Como funciona um clube de motociclistas?
Criamos o Cabrones MC depois de uma viagem ao Uruguai. Fomos entre cinco pessoas e depois agregamos mais três. Esses oito são os fundadores. Nos baseamos nos clubes americanos dos anos 60 e 70. Os conceitos estabelecem regras e padrões, como o respeito a hierarquia. O comando tem o presidente, o vice, o capitão de estrada e o sargento de armas. Cada um tem uma função dentro do clube.
O capitão de estrada é responsável pela logística das viagens. Os pontos de parada, de abastecimento, enfim. O sargento de armas cuida da segurança dos integrantes na estrada e fora dela.
Para os iniciantes, eles entram como “prospects”. Passam por uma série de provas, conhecem a ideia do clube. Com o tempo de convivência com os irmãos, mostram quem são e sua lealdade com o MC. Então, podem evoluir para meio escudo. Depois de um tempo, podem se tornar “Escudado”, que é quando passou pelas duas etapas iniciais.
O que a estrada tem para ensinar?
Essa é boa. Parece simples, mas não é. Costumo dizer que os verdadeiros soldados se forjam na estrada. Nunca sabemos o que pode acontecer. Por exemplo, já fomos duas vezes para o Chile. São viagens de seis, sete mil quilômetros. Neste trajeto, muita coisa acontece. É o cansaço, o frio, a chuva, moto que estraga. E tudo isso tem de ser resolvido naquele momento. Então, a irmandade, a parceria, se firma assim, nas dificuldades e na dor.
Esse é o interessante da estrada. Pois ela proporciona alegrias e desafios que vamos resolvendo de qualquer forma. A estrada é uma grande professora.
E o rodar, rodar em trem, como chamamos, quando se enfileira 12, 15 ou 20 motocicletas, é espetacular. É uma sensação indescritível. Quando se entra neste mundo, não se quer mais sair.