Relatório expõe desafios ambientais e econômicos

Aquecimento global

Relatório expõe desafios ambientais e econômicos

Especialistas alertam para fenômenos extremos e risco à produção de alimentos. Impacto para o Vale seria o maior risco de inundações e secas

Relatório expõe desafios ambientais e econômicos
Inundações a exemplo de julho de 2020 podem ocorrer com maior frequência na região (Foto: Aldo Lopes)
Vale do Taquari

Os efeitos do aquecimento da terra acontecem em escala global. Frente aos riscos em diferentes partes do planeta, quando se avalia o Vale do Taquari, há uma tendência para enchentes e períodos de estiagens prolongadas.

Episódios a exemplo da inundação de julho de 2020 podem ocorrer com maior frequência. Essa é uma das análises a partir do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU.

Especialistas afirmam que eventos extremos: cheias, chuvas torrenciais, frio e calor acima da média serão a tônica dos próximos anos, fruto do aquecimento global e reflexo da ação do homem com o meio ambiente. A neve no final de julho e o veranico em agosto são sinais desta mudança de padrões.

Conforme a meteorologista Estael Sias, da MetSul, há um grande equívoco ao dizer que o frio intenso contradiz o aquecimento global, quando na verdade trata-se de uma consequência.

Ainda de acordo com a meteorologista, o planeta está aquecendo tão rapidamente que os cientistas anteciparam a projeção do aumento médio da temperatura em 1,5°C para 2030, uma década mais cedo em relação ao estimado em 2018.

As condições extremas no tempo refletem nos aspectos ambientais e econômicos. Segundo a economista Cintia Agostini, esse cenário irá limitar a produtividade e competitividade, aumentar os custos de produção e inviabilizar novos negócios.

“Alguns aspectos são do processo de crescimento e já se falava na década de 70. De modo geral, vai impactar tudo que está na escala global, não apenas na produção agrícola e processos industriais, mas também nós como sociedade”, comenta a economista.

Na sua análise, Cintia destaca o crescimento do Vale do Taquari acima da média nacional, mas alerta para os impactos ambientais negativos. “Crescemos muito, mas não avançamos em relação ao saneamento básico, além de estar entre as quatro regiões do RS que mais poluem, conforme última atualização do setor industrial.”

“Ainda há como evitar o pior”

Apesar do cenário desafiador, Cintia diz que há como evitar parte dos danos. “A solução está em cada um de nós. Ações individuais e coletivas que vão ao encontro do consumo consciente. Fazer mais com menos e fazer mais e melhor com o mesmo”, sugere a economista.

Em paralelo, serão necessárias políticas públicas que responsabilizem erros e valorizem os acertos, avalia Agostini. “Temos bons exemplos no Vale, mas ainda falta incentivar e educar, ter uma fiscalização mais efetiva”, acrescenta.

Tecnologia para avançar nessas demandas há, mas o acesso ainda é um limitador. A economista cita a disponibilidade de plataformas para produzir com menor impacto ambiental. O desafio é fazer essa tecnologia acessível.

Produção de alimentos

A produção de alimentos é um dos pilares da economia do Vale do Taquari e está diretamente ligada à condição do tempo. Nos últimos anos, períodos prolongados sem chuva comprometeram, principalmente, a produção de grãos. Essa situação refletiu em outros setores, como é o caso do aumento de custos para criadores de aves, suínos e na bovinocultura leiteira.

Técnico da Emater-RS/Ascar, Alano Tonin observa que essas situações mostram o potencial de interferência na atividade agrícola. “Já enfrentamos condições adversas e a tendência é se acentuarem.”

Fenômenos naturais aos extremos tendem a desequilibrar o ecossistema, observa Tonin. “A chuva torrencial causa a erosão do solo e perda de fertilidade, além de não repor os níveis hídricos, pois não é absorvida corretamente pelo solo”, explica.

Legislação ambiental

A pesquisadora e professora universitária Elisete Maria de Freitas faz uma análise sobre as leis ambientais do país. Segunda ela, embora bem elaboradas, muitas vezes não são cumpridas. Essa condição reflete no aquecimento global e na emissão de dióxido de carbono, um dos gases do efeito estufa.

“A última alteração no Código Florestal beneficia quem descumpriu a legislação antes de 2008. Essas pessoas não precisarão restaurar áreas danificadas e beneficiam atividades causadoras de impactos ambientais”, observa Elisete.

Restauração

Restaurar áreas degradadas às margens dos rios Forqueta e Taquari é o objetivo do projeto da Univates. A ação está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis e tem a coordenação da professora Elisete.

“Vamos testar diferentes metodologias e verificar o que pode e o que não pode ser feito. Essa iniciativa de certa forma contribui para melhorar o ambiente e recuperar danos causados pelo homem e eventos naturais, como a enchente de 2010”, observa Freitas.

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