Como conheceu o mundo drag queen?
O mundo drag surgiu de forma orgânica e natural para mim. Conforme fui crescendo, fui me montando. Mas fui entender realmente a arte drag quando morei em São Paulo. Conheci astros como RuPaul, Pabllo Vittar, e outros ícones do drag queen e também da cultura preta. Assim me dei conta que nós crescemos sem entender esta arte.
Como foi a primeira vez que se montou como drag?
A primeira vez que me montei foi no ensino fundamental, em uma gincana do colégio. Foi icônico. Ali eu vi que tinha jeito para a coisa. As outras vezes foram em confraternizações de fim de ano de uma empresa que trabalhava. Fui a mais bonita nos dois anos que houve competição. Depois comecei a fazer em despedidas de solteiro. Peguei o gosto pela maquiagem, pela roupa. Vi que gostava do salto e do vestido.
Como define a “Shuri The Queen”?
É uma drag queen bicha, preta, feminina e militante. E uma militante que pensa por si própria, pois tenho ideologias que divergem tanto da militância gay, como da negra. O nome surgiu como indicação de uma amiga. A Shuri é a irmã do Pantera Negra. Uma mulher negra e inteligente. Uma guerreira africana.
O que é necessário para ser uma drag queen?
Ter a consciência de que a arte drag é um ato político em si. Contra o machismo, patriarcado, racismo. Contra o padrão de beleza estabelecido socialmente. Temos drag barbada, alta, bicha, gorda, preta. De todo o tipo. Tem que entender que drag é plural. Drag é tudo. Drag é todos.
Já sofreu muito preconceito?
Sou uma gay, preta e pobre. Lógico que já sofri. Foi mais na infância, pois a criança não tem filtro. Naquele tempo não se entendia o que era uma pessoa gay e preta. Foi muito complicado. O pior é você não se conhecer, não saber quem é. Hoje em dia as coisas são mais veladas. Hoje também sei me defender. Tenho argumentos para isso. Eu me entendo e sei quem eu sou. E tenho orgulho de mim. Isso faz toda a diferença.
Acredita que és um exemplo para outras pessoas que queiram entrar nesta arte?
Acredito que sim. Não só pela beleza. Mas por todo o meu trabalho. Falo de questões raciais, mas tento abordar os mais diversos assuntos.
Qual o teu sonho?
Não é ser a drag queen mais famosa do Brasil ou ter milhões de seguidores. Sonho em começar uma faculdade e conseguir concluir. Pois a maioria das pessoas negras entram em faculdade mas acabam não conseguindo se manter. As questões econômicas falam mais alto. Mas existe também o racismo constitucional. Não nos sentimos aceitos. Por isso quero começar uma faculdade e terminar. Quero também olhar para trás e ver tudo que eu fiz e alcancei. Tudo que eu pude ser. Terminar uma vida bem. Pois a maioria dos jovens negros terminam mortos. Conseguir chegar no final da vida já será um sonho realizado.