“A gente nasceu dentro da confeitaria”

ABRE ASPAS

“A gente nasceu dentro da confeitaria”

Gilmar Leipnitz, 74, conhecido como “Folha”, foi apelidado em função da popular receita de mil-folhas. O doce tem sua origem na França em 1651 e seu nome é uma referência ao número de folhas da massa que o compõem, em camadas com um recheio cremoso e coberto de glacê. O confeito fez parte da vida de várias gerações de Lajeado. Além da receita, herdou do pai a paixão pela confeitaria, que levou como ofício para a vida toda

“A gente nasceu dentro da confeitaria”
(foto: Claudio Zagonel Neto)
Vale do Taquari

Como o senhor começou no ramo de confeitaria?

A gente nasceu dentro da confeitaria. Meus pais eram confeiteiros e padeiros, a gente sempre teve padaria, então fui entrando no ramo sem querer. Durante minha infância e adolescência, ajudar na produção dos mil-folhas e outros doces era parte da rotina. Meu pai nos chamava para ajudar a derramar a água para fazer o pão de milho. Nem todos os irmãos seguiram na área, mas eu segui. Herdei a profissão, a continuidade foi muito natural.

Como começou a história da família na região?

Nasci em Cruzeiro do Sul, que na época pertencia à Lajeado. Moramos um tempo em Guaporé e depois voltamos para Lajeado. Meu pai, Edwino Leipnitz, abriu uma lancheria no centro da cidade em 1967, onde produzíamos doces e salgados. Na época, além do restaurante, também administrávamos um hotel.

E como aprendeu a fazer a famosa receita de mil folhas?

Nossa receita de mil-folhas sempre existiu, desde meu pai, só que na época a receita era um pouco diferente. Se usava banha de frigorífico, porque ainda não existia a margarina que temos hoje. Eu fiz um curso de confeiteiro e acabei aperfeiçoando a receita da massa, usando margarina, e a massa ficou bem mais saborosa. A gente aprendeu muita coisa porque vivíamos dentro da padaria. O creme é uma receita de família. Meu pai trouxe em 1948 para Lajeado, quando veio de Guaporé, onde ele trabalhava com um confeiteiro. O glacê também é uma receita nossa. Na época, todas as padarias faziam seu próprio glacê, não tínhamos acesso ao produto pronto. Fazer o glacê é muito trabalhoso já que, para produzir um balde, leva cerca de duas horas, os funcionários perdem muito tempo. Hoje é diferente, surgiu um glacê pronto e as padarias acabam comprando. Eu gosto do meu glacê, e como tenho tempo, nós seguimos fazendo nosso próprio glacê.

Seus doces fizeram parte da vida de várias gerações. O que isso significa para o senhor?

Não sou cozinheiro, gosto de cozinhar pra mim. Hoje, cozinhar é um hobby, que também me ajuda nas finanças. Mas como confeiteiro, sinto orgulho e satisfação. De fazer uma coisa que é apreciada pelas pessoas. Isso é muito gratificante. A gente, desde aquela época, fez coisa boa. Sempre nos preocupamos em produzir os doces com carinho e cuidado. Essa fama, que até hoje o pessoal se lembra dos nossos doces e comenta com saudades, significa muito.

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