Em cada rua, uma história

Opinião

Bibiana Faleiro

Bibiana Faleiro

Jornalista

Colunista do Caderno Você

Em cada rua, uma história

Lajeado

Moisés (nome fictício) estava deitado debaixo de um telhado em um prédio na Avenida Benjamim. Ele dormia com um grande casaco e uma coberta no chão duro do lugar. Quando nos aproximamos para lhe dar um potinho com sopa quente, ele sentou e tratou de conversar.

Moisés gosta de futebol e tem Guerreiro, atleta de futsal, como ídolo. Nascido na serra gaúcha, já passou pelas ruas de Porto Alegre e diz ter sido abençoado na Padre Cacique. Moisés gosta de contar sobre a vida. “Óh, o mistério”, ele diz. Ele também gosta de ler, e leu um trecho de um livro fino que guardava amassado no bolso do casaco.

Naquele dia, ele estudava um herói da história. Moisés é esperto, tem família na cidade natal. Aos 16 anos, ele saiu da antiga Febem. Não contou o que aconteceu, mas talvez faltou alguém para lhe mostrar o caminho certo. Antes e depois disso. No entanto, o que é caminho certo?

Moisés, no auge de seus 30 e pouco anos, trabalha com reciclagem e guarda um dinheirinho para voltar para Caxias assim que der. Ele mora, hoje nas ruas de Lajeado, mas é um homem do mundo. Um andarilho que tem sonhos, que passa fome e sente frio. Mas gosta de conversar com algum estranho que cruza com ele pela calçada.

Mesmo com o dinheiro guardado, ele reconhece que hoje ainda perde a quantia para a bebida e o cigarro. E, apesar de já terem oferecido um teto onde morar, Moisés gosta da rua. Talvez ali ela tenha liberdade. Ou talvez a possibilidade que o agora em que ele vive lhe traz é de poder sempre melhorar. Afinal, cada conquista que ele guarda debaixo do sorriso, às vezes, cansado já é motivo para, de fato, sorrir.

Moisés não nos conhece, e nós não conhecemos Moisés. Assim como tantas outras pessoas que vivem nas ruas por aí. Às vezes queremos vê-los nos abrigos, onde há uma cama onde dormir e não entendemos por que, ainda assim, muitos preferem estar nas ruas.

Mas Moisés tem sua história. Assim como a Ana (nome fictício), que quando viu o potinho com sopa, disse que ali vinha a esperança que ela pedia. Ao lado dela, Pedro (nome fictício) dizia ser a última noite na rua. Ele havia procurado ajuda para tratar o alcoolismo. E, de fato, na noite seguinte, não andava mais por lá.
Talvez, Moisés, Ana e Pedro precisem mais do que um prato de sopa quente em uma noite fria de inverno.

Eles precisam de alguém que os incentive a parar com a bebida e o cigarro. E que faça isso com tantos outros, ainda antes de chegar à adolescência. Mas enquanto eles escolherem estar nas ruas e precisarem de ajuda, alguém vai estender a mão e ajudar. Até que, um dia, Moisés volte à terra natal com uns trocados no bolso e outras histórias para contar.

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