O papel do cidadão na separação do lixo é um dos fatores fundamentais para o sucesso na reciclagem, indica relatório da Sema. Mistura dos materiais na hora do descarte prejudica a separação e aproveitamento dos resíduos.
Doutor em Engenharia Química, Gustavo Reisdörfer, aponta alguns dados importantes no relatório disponibilizado pela Sema. A mistura de lixos tanto na coleta seletiva quanto na convencional prejudica a capacidade de reciclagem. O lixo orgânico misturado com o lixo reciclável soma 20,6%. Já o lixo reciclável junto com a coleta convencional compõe 30,9%. Esses dados indicam que a separação dos materiais nãoé feita da forma adequada pelos moradores do município.
Foram mais de 10 mil toneladas de lixo recolhidas na coleta convencional na cidade de Lajeado somente em 2021. Na coleta seletiva, foram 376 toneladas, sendo 335 toneladas desse material reciclado. Esses números apontam que 3,2% do lixo recolhido no município é reciclado, valor próximo da média nacional.
Outro ponto de destaque, aponta Reisdörfer, é que 44,1% do lixo recolhido na coleta convencional poderia ser tratado pelos próprios cidadãos. “Os dejetos orgânicos compõem grande parte do lixo na coleta convencional, material que poderia ser aproveitado em composteiras, se transformando em adubo”, explica.
Impacto da separação inadequada
Bióloga e coordenadora do Centro de Educação Ambiental, Edith Ester Zago de Mello afirma que ainda existe muita mistura de resíduos nas residências. Existe um dia correto para a destinação do resíduos secos (recicláveis), e é neste dia que o cidadão deve colocar o resíduo seco para o caminhão da coleta seletiva levar.
“O que ocorre é que o caminhão no dia da coleta acaba recolhendo todos os resíduos da lixeira, então se foi colocado resíduo errado o caminhão acaba levando junto também”. A bióloga aponta a necessidade do cidadão separar em sua casa os resíduos secos dos orgânicos e rejeitos e também coloque o lixo no dia correto para o recolhimento. “Nada difícil, visto que é responsabilidade de todos nós. Sempre reforçamos que todos devem fazer sua parte tanto o município quanto o cidadão”, afirma.
A separação inadequada do lixo impacta diretamente no trabalho dos recicladores, conta o Presidente da Cooperativa de Recicladores do Vale do Taquari (Coorevat), Diogo do Couto. “O lixo reciclável é contaminado pelos resíduos orgânicos, nosso material acaba sendo comercializado por um valor abaixo do valor que poderia por causa dessa contaminação”, explica.
Para Diogo, a educação ambiental da população é fundamental para a resolução do problema “Para as pessoas, o lixo só é um problema quando está dentro das suas casas. Quando é colocado na lixeira, é aí que o problema começa de verdade.”
Do lixo, o sustento
Trabalhando há oito meses como catador, Percival Gaspar dos Santos, 61 anos, faz todos os dias o mesmo trajeto com sua caminhonete, recolhendo o lixo pelas lixeiras da cidade. No fim do dia, com a caçamba cheia, leva o material para casa, onde faz a separação para vender a uma empresa de comércio de sucatas. Percival trabalha por conta própria e, do lixo, tira o sustento para ele e a esposa. Nada se perde para o catador: plástico, vidro, latinhas de alumínio, papel e papelão. Tudo é acondicionado com cuidado na caçamba da caminhonete adaptada.
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Percival tira o sustento da coleta de materiais recicláveis nas lixeiras (Foto: Renata Lohmann)
Entre o material para a reciclagem, ele mostra um aspirador de pó que retirou da lixeira. Com frequência, encontra eletrodomésticos e eletrônicos. Percival conta que algumas pessoas separam o lixo, mas que normalmente ele precisa abrir os sacos e separar ele mesmo o material: restos de comida, cascas de fruta e embalagens plásticas estão todas misturadas em um saco, ele mostra. “Eu tomo cuidado para não rasgar os sacos e fechar tudo direitinho, assim não prejudico o trabalho dos lixeiros”, conta. Para ele, o cadastramento dos catadores parece uma iniciativa interessante para organizar os trabalhadores.