No início de julho, o mundo passou a conhecer mais sobre uma doença de nome difícil, a “estenose diverticular do cólon”. O interesse pelo tema cresceu devido à cirurgia realizada pelo Papa Francisco para corrigir o problema. Aos 84 anos, o Pontífice se recuperou bem do procedimento, que abriu a discussão sobre os cuidados com o trato digestivo.
Médico especialista em Cirurgia Oncológica pela Sociedade Brasileira de Cancerologia, Dr. Hélio Fernandes, explica que a chamada “doença do Papa” começa pela existência de divertículos no intestino grosso. Divertículos são pequenas bolsas que ocorrem na parede intestinal, resultantes da pressão aumentada no interior do intestino por hábitos inadequados de evacuação ao longo da vida. Sendo assim, pessoas com quadros de constipação crônica, têm tendência a desenvolver mais divertículos ao longo de suas vidas e muitas os possuem sem saber.
Lembra que os divertículos podem se manter inertes sem trazer sintomas e sem representar um problema, mas eventualmente podem inflamar e até perfurar, ocasionando a doença chamada “diverticulite” No caso de diverticulite surgem sintomas de dor abdominal e febre. Esse quadro infeccioso pode evoluir de forma satisfatória com tratamento clínico com uso de antibióticos ou evoluir desfavoravelmente chegando a necessitar de procedimento cirúrgico para sua solução.
Nos casos tratados clinicamente pode ocorrer uma cicatrização inadequada desta área de forma a perder-se a elasticidade intestinal daquele seguimento do intestino. Isto pode resultar em um estreitamento do órgão naquele seguimento, causando uma obstrução ao trânsito normal das fezes. “No caso do Papa foi exatamente o que ocorreu tendo sido necessária uma cirurgia para corrigir este ponto de estreitamento e desta forma reestabelecer o funcionamento correto do trato intestinal”, aponta. Porém, Fernandes afirma ser possível agir-se preventivamente a fim de tentar evitar a formação dos divertículos, por meio da mudança de hábitos alimentares.
Como se precaver
A prevenção à diverticulite passa principalmente por manter hábitos intestinais saudáveis. Conforme Fernandes, o padrão saudável para a evacuação varia de acordo com a pessoa, mas a eliminação do conteúdo presente nos intestinos não deve ultrapassar 48 horas.
Segundo ele, manter uma ingestão regular de fibras vegetais e de água ajuda a produzir fezes mais amolecidas, reduzindo assim a chance de desenvolver a doença. Lembra que a presença de divertículos pode ser observada em um exame de raio-x chamado Enema Opaco.
No caso das pessoas com divertículos identificados, Fernandes recomenda evitar a ingestão de sementes ou produtos que chegam ao intestino sem serem degradadas pelo sistema digestivo.
“Nem todas as sementes são prejudiciais, mas as sementes de uva, pipoca, bergamota ou maiores, têm chance de entrar em um divertículo, favorecendo a diverticulite.”
Outro exame importante, em especial para pessoas com mais de 50 anos, é a colonoscopia. O procedimento não apenas verifica os divertículos, mas também as condições gerais do cólon e a existência de lesões que podem resultar em câncer.