Estrear como colunista do jornal A Hora é o reconhecimento de que os comentários no rádio do grupo agregam valor e conteúdo aos nossos ouvintes. Agora na mídia impressa, abordaremos temas relacionados à gestão empresarial, governança, cenários econômicos e aspectos voltados à inovação e liderança.
Em recente Congresso para Conselheiros Certificados promovido pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), discutimos qual será o papel dos Conselhos no Futuro. Como serão tomadas as decisões em 2040? Para suportar esse exercício de futurologia debatemos como a transformação no ambiente empresarial e as tendências de mercado e tecnologias vão demandar novos modelos de gestão, processos, lideranças e, por consequência, “novos” Conselhos.
Para enveredarmos nos conceitos que envolvem a alta administração das organizações, entre a propriedade e a gestão, vamos nos situar no que a Governança Corporativa propõe para as partes interessadas, aquelas que realmente estão envolvidas nos ritos da gestão, as pessoas. Governança significa “ato de governar, governo, governação” e Corporativa remete ao que é “relativo ou próprio de uma corporação: deriva do latim còrpus, òris ‘corpo’; assume no latim o significado de ‘reunião’ de pessoas num só grupo, num só corpo”. Temos então a reunião de pessoas num só grupo como a melhor definição de Governança Corporativa.
O IBGC preconiza Governança Corporativa como um sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre os sócios, conselheiros, diretoria, órgãos de controle, funcionários e demais partes interessadas (comunidade, governos, fornecedores, clientes e etc.). Este conjunto de interesses precisa de uma execução com boas práticas que convertam princípios em recomendações objetivas, com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos, capital, inclusive, e contribuindo para a qualidade da gestão, sua longevidade e o bem comum.
Mas como o longo prazo consegue vencer o curto prazo? Priorizaremos o lucro líquido? Teremos na gestão pessoas que sejam representantes da propriedade (os donos) ou traremos profissionais qualificados do mercado para fazer a gestão? Cresceremos com recursos próprios ou buscaremos financiamentos com terceiros? Teremos dados e informações suficientes para a tomada de decisão? Seremos sustentáveis? Respeitaremos o planeta terra sem o uso de recursos naturais? Priorizaremos fontes de energia renovável? Teremos um olhar para a economia circular na contratação de fornecedores? A diversidade na seleção e promoção de pessoas será um pré-requisito? Desenvolveremos as pessoas da nossa organização para que consigam buscar mais conhecimento? Teremos recursos e tempo suficiente para executar tudo isso que acabamos de questionar?
São tantas perguntas. Mas por onde começar um Conselho do futuro? A sugestão é iniciar essa jornada criando fóruns específicos para a alta administração como as reuniões de Conselho. Temas que respondam essas perguntas podem ser encaminhadas através de uma pauta prévia. Requisitos como local (presencial ou virtual), datas e periodicidade dos encontros, horário (início e término) e quem serão as pessoas que obrigatoriamente participarão também devem ser regulados. Havendo a necessidade de estudar algum assunto previamente pelos integrantes da reunião, é mandatório dar um tempo aos membros. Ainda podem ser convidadas pessoas da própria organização ou de fora, mas com competências específicas que contribuam nos assuntos pautados. Uma liderança disciplinada, que convoque este tipo de reunião, tenha um regramento para sua condução, observe os registros e deliberações a partir de atas bem redigidas, ajuda muito para os entendimentos passados e organiza o futuro. A pandemia aprovou o formato de encontros virtuais e quebrou algumas barreiras.
Cientes de que vivemos em constante adaptação, nós, conselheiros, precisamos estar atentos às mudanças, cada vez mais atualizados e olhando para o futuro, para assim podermos ajudar as organizações a se manterem vivas, a tomarem decisões de maneira ágil, segura, em um mundo cada vez mais disruptivo e com inovações constantes.
Obs.: Nossa segunda coluna abordará os “noholders”. Você já ouviu falar neles?