As alterações no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em vigor desde abril, valorizam o bom motorista e contribuem para uma condução mais segura, essa é a avaliação do motorista Alexsandro Wathier, 46, com 25 anos de experiência.
“O trânsito está cada vez mais carregado e requer motoristas preparados”, observa Alexsandro. Ele elogia a necessidade dos exames toxicológicos e constante treinamento conforme a carga transportada. “O aumento de validade da habilitação é um reconhecimento aos bons condutores”, acrescenta Wathier.
Na empresa onde trabalha, Giovanella Transportes, com sede em Estrela, qualidade e segurança são prioridades. Conforme o diretor, Jeancarlo Giovanella, a empresa investe em uma frota atualizada, tecnologia e qualificação dos profissionais.
“São mais de 600 caminhões, todos monitorados em tempo real e com imagens da cabine do motorista”, explica o empresário.
Em relação às mudanças no Código de Trânsito, lembra da importância quando implementada a Lei Seca, proibindo dirigir após consumo de bebida alcoólica. “Isso ajudou muito a reduzir acidentes. Hoje nosso maior problema ainda é o uso do celular durante a condução”, afirma Jeancarlo.
Em sua empresa, no momento que o motorista utiliza o celular, um alerta é emitido. “Nossa preocupação é com a segurança do profissional e sua qualidade de vida. Nossos clientes nos cobram isso”, esclarece Giovanella. A empresa também limitou as horas de trabalho e velocidade máxima dos veículos. “Com horas extras, o motorista não pode trabalhar mais que 11 horas, incluindo as pausas regulamentadas por lei”, acrescenta.
Ainda de acordo com o empresário, nos últimos cinco anos cresceram cerca de 60%, esse percentual poderia ser maior, mas optou em prezar pela qualidade e não na quantidade. “Nosso veículo mais antigo é um caminhão 2019 e já estamos providenciando a troca. A entrega de novos caminhões atrasou diante da falta no mercado”, explica.
Escassez de mão de obra
O alto nível de qualificação exigido e o interesse pela profissão em declínio, são apontados como fatores para a escassez de mão de obra. Quem confirma a informação é o presidente da cooperativa de transportes Vale Log, Adelar Steffler.
“Com o envelhecimento da categoria e a vinda de caminhões cada vez mais sofisticados, a falta de motoristas já é uma realidade. Muitos estão deixando a função por conta da idade, outros por não ter habilidade de manusear estas novas tecnologias”, afirma o presidente da Vale Log.
O motorista que deseja se tornar caminhoneiro precisa passar por todo processo de habilitação, com obrigatoriedade de apresentação de exames toxicológicos regulares, treinamento e certificação, além de obter experiência mínima antes de ser contratado por uma empresa.
“Hoje todo o mercado é muito exigente. Precisamos transportar com mais qualidade e menor custo, além de investir em capacitações como direção defensiva e condução econômica. Tudo isso para nos mantermos sustentáveis e transportando com segurança”, afirma Steffler.
Perspectiva positiva
Segundo relatório do Linkedin sobre Profissões Emergentes em 2020, a de motorista está entre as 15 em ascensão no Brasil. Isso se deve, dentre outras coisas, ao aquecido mercado de logística e transporte. Os motoristas assumiram certo protagonismo durante a pandemia. A categoria não parou e garantiu o abastecimento da população durante a crise sanitária, arriscando a própria saúde para manter o país funcionando.
“Precisamos trazer e dar oportunidade aos jovens e as mulheres, apresentando a eles à realidade da profissão de motorista – os pontos positivos e negativos – mostrando que, com a evolução dos caminhões em termos de tecnologia, e com qualificação e empenho, existe uma ótima oportunidade de crescimento financeiro nesta carreira”, observa o presidente da Vale Log.
Entrevista
- Lucas Scapini – diretor efetivo da Fetransul
Diretor comercial no grupo Scapini e diretor efetivo da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Rio Grande do Sul (Fetransul), Lucas Scapini avalia o cenário e aponta as projeções para o setor logístico. Comenta sobre a adaptação dos motoristas frente às tecnologias e os movimentos do mercado que exigem maior qualificação dos motoristas.
A Hora: O que os motoristas têm a celebrar neste dia 25 de julho?
Lucas Scapini: Os motoristas celebram nesta data toda sua importância e profissionalismo. A visibilidade é fundamental para exaltar sua relevância. Há também o sentido religioso, dia do padroeiro São Cristóvão, reverenciado por sua proteção no trânsito.
Quais são as perspectivas e projeções para o futuro da profissão?
Scapini: Precisamos de mais motoristas capacitados. Essa demanda ocorre em razão do avanço tecnológico, dos equipamentos modernos embarcados nos veículos. Essa mão de obra qualificada será o futuro da profissão.
Por que é importante a constante qualificação dos profissionais do transporte?
Scapini: Essa qualificação vai ao encontro da dinâmica do mercado, clientes e operações exigem um transporte aperfeiçoado. Precisamos acompanhar a evolução, para garantir qualidade em nossos processos.
Diante do avanço tecnológico, quais as principais mudanças no setor de transportes?
Scapini: Novidades surgem a todo o momento. Essa transformação do setor favorece, sem dúvida, a agilidade do transporte e segurança dos profissionais. Os veículos estão cada vez mais completos e por isso, são necessários profissionais capacitados para operá-los. A tecnologia proporciona também, melhor gestão da frota e acompanhamento em tempo real no transporte das encomendas.
Qual a realidade das empresas de transporte? Falta mão de obra qualificada?
Scapini: De modo geral percebo a necessidade na capacitação e qualificação da mão de obra. Nem todas as empresas têm essa preocupação. Nós no grupo Scapini, proporcionamos constante treinamento aos motoristas e toda equipe. Acreditamos que isso faz a diferença no dia a dia e gera melhores resultados à empresa.
Quais os impactos das alterações no Código de Trânsito Brasileiro?
Scapini: Foram ajustes importantes e necessários que preservam o bom motorista. O novo CTB proporciona maior regulação e por consequência, a profissionalização do transporte.