Os cuidados com a saúde costumam se intensificar quando o paciente desenvolve alguma doença adquirida. Também é assim com a saúde mental. A maneira de se alimentar afeta o bem-estar psicológico. Essa é uma das linhas de pesquisa dentro da psiquiatria nutricional, ramo que estuda o papel dos alimentos no funcionamento do cérebro.
Cliente da Feira de Agroecologia em Lajeado, Antônio Gringo, 69, faz as compras toda a segunda-feira. “Venho buscar vida”, resume. Para ele, a alimentação saudável é fundamental, hábito compartilhado pelos familiares. “Nada de comida industrializada.”
Para Gringo, os benefícios desse cuidado com a alimentação são evidentes para o organismo. Por outro lado, o impacto sobre a saúde mental ainda é um campo pouco conhecido.

Antônio Gringo opta por alimentos naturais em vez dos industrializados (Foto: Renata Lohmann)
Por esse motivo a psiquiatria nutricional é considerada uma nova área de estudo. Trata da relação da alimentação com transtornos mentais e metabólicos nas doenças crônicas, como a depressão, ansiedade e Alzheimer. De acordo com o médico psiquiatra Olivan Moraes, o cuidado preventivo é fundamental. Em entrevista para a Rádio A Hora 102.9 FM, destacou os cuidados necessários com a alimentação, bem como quais produtos que aumentam os riscos de problemas.
“Temos o poder de escolha sobre o que comemos e o cuidado com a alimentação e atividade física já são conhecidos. O ideal é não nos prendermos à procura só do tratamento, mas buscar ajuda antes”, afirma. De acordo com Moraes, o cérebro precisa de açúcar como fonte de energia. O problema está no excesso e na forma de monitorar o açúcar no sangue.

Psiquiatria nutricional aponta papel dos alimentos na saúde mental (Foto: Renata Lohmann)
Detalhes
Os macronutrientes são a base dos alimentos. Água, carboidratos, gorduras e proteínas são classificados como macronutrientes. A função é fornecer energia para o organismo. Para uma alimentação saudável, é preciso fazer um balanço dos alimentos relacionados aos macronutrientes.
Os alimentos mais processados e industrializados têm mais carboidratos, que também estão presentes em alimentos como mel, pão, arroz, milho, massa, açúcar, entre outros. De acordo com Moraes, os açúcares geram processos inflamatórios no organismo que, de forma crônica, podem causar impactos na saúde mental e doenças degenerativas. A genética do indivíduo e questões ambientais também interferem nesta equação.
A nutricionista e doutora em Gastroenterologia e Hepatologia, Juliana Bruch Bertani, conta que há estudos que apontam essa associação entre o excesso de açúcar e transtornos mentais. Além de efeitos já conhecidos, como excesso de peso, doenças metabólicas e cardiovasculares.
Alguns alimentos, apesar de trazerem um prazer imediato, são considerados promotores de stress, como: álcool, chocolate, açúcar e cafeína. O consumo piora o estado mental em longo prazo, pois não tem nutrientes essenciais. Já alimentos ricos em fibras e verduras, além da hidratação adequada, promovem a saúde do cérebro e do corpo.
O papel do paciente
De acordo com Moraes, o papel ativo das pessoas com cuidados na alimentação é fundamental para o bem estar físico e mental.
Esse papel ativo é o maior desafio de quem busca ajuda. “Muitos pacientes, quando consultam um psiquiatra, colocam todo o compromisso do sucesso do tratamento nos comprimidos ou no médico, focando na medicação, e não nos hábitos.”
Para o médico, o nutricionista e o psicólogo precisam compor essa rede de apoio ao paciente. A mudança do estilo de vida é o mais difícil, considera.