O RS já foi referência nacional em educação. Ocupou as primeiras colocações no início da aplicação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Era o 3º no ranking nacional no início dos anos 2000.
Passado pouco mais de uma década, viu a qualidade da rede pública despencar. Hoje, está na 11ª posição entre os 26, mais o Distrito Federal. O índice é calculado a partir de duas peças: a taxa de rendimento escolar – aprovação – e médias de desempenho nos exames padronizados aplicados.
A previsão é que o novo levantamento seja aplicado em setembro desde ano. A pesquisa avalia uma escala de zero a dez. A série de resultados do Ideb iniciou em 2005, quando foram estabelecidas as metas bienais de qualidade para o país, estados, municípios e escolas. A média nacional geral registrada em 2005 era de 3,8. A intenção é chegar a 6,0 em 2022.
No entanto, pela análise prévia, há uma perspectiva de redução nas notas. Tudo por conta do impacto da pandemia, que obrigou o fechamento das escolas e a adoção do modelo de aulas remotas.
Como forma de conhecer onde estão os prejuízos dos alunos, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) avança com a estratégia de aulas programadas justo para reduzir essas perdas. Para conhecer onde estão as lacunas, foram feitas mais de 500 testes com estudantes de todos os níveis de ensino da rede estadual.
Entrevista
Raquel Teixeira • secretária estadual de Educação
• Natural de Goiânia, a professora Raquel Teixeira assumiu a Seduc faz três meses. É doutora em Linguística pela Universidade Berkeley, da Califórnia, EUA, graduada em Letras pela UnB. No sábado passado, concedeu entrevista ao Programa PENSE, da rádio A Hora 102.9 . Para ela, o RS tem a maior desigualdade do país entre as redes pública e particular.
“A desigualdade educacional é a mãe de todas as outras”
• A Hora: Houve uma mudança de perfil no comando da Seduc. O próprio governador reforçou a sua missão, de qualificar a educação pública e melhorar a nota do Ideb do RS. Como isso será possível?
Raquel Teixeira: O que me ajuda nesta fase da vida é ter passado por diversas experiências. Fui professora de educação infantil até doutorado e pós-doutorado. A partir disso, percebo que a educação requer um rigor científico. Precisamos de evidências para fazer as mudanças. Como secretária de Educação de Goiás tive a alegria de ter conseguido bons resultados.
Acima disso tudo, sempre tive sorte de ter professores e gestores caminhando comigo. Ninguém faz nada sozinho na vida. Muito menos na educação. Nosso progresso sempre será coletivo. Por isso a preocupação do governador Eduardo Leite é pertinente. O RS já foi modelo de educação, agora está na 15ª posição no país.
• Como se chegou nesta posição?
Foi gradativa. Afetou mais o fluxo das escolas do que a proficiência. Medimos a qualidade do ensino por dois fatores: excelência e equidade. A primeira diz respeito ao conhecimento do aluno. A outra é acolher, universalizar, massificar o ensino.
Aqui no estado há um grande problema. As redes são muito desiguais. O público e o privado estão muito distantes. Para se ter uma ideia, em 2017, quando estava à frente da educação de Goiás, fomos o 1º lugar no Ensino Médio nas escolas públicas. Quando pegava a rede privada, caíamos para a segunda posição. Significa que a rede privada estava muito próxima em termos de resultado ao segmento público.
Já a educação gaúcha, noto uma desigualdade grande e também uma certa naturalização disso. Sobre isso confesso, com respeito a todos, essa sensação do público ser pior não se deve aceitar. Não precisa ser e não pode ser pior. Não podemos pactuar com isso, até por que 82% das crianças e dos jovens estão em instituições públicas.
• O fato é que a educação precisa ser prioridade. Mas como?
Tem que ser prioridade, acima de tudo. É o futuro do estado. Quando avaliamos os números, os estudos, vemos que essa desigualdade está inclusive dentro da própria rede pública. Na pandemia, tivemos escolas com 19% de engajamento nas aulas remotas. Outras com 79%.
No específico, essa diferença está na infraestrutura das escolas, no acesso a internet e no nível socioeconômico das famílias. O perfil do público mostra isso. Os com menor engajamento são meninos negros em situação de vulnerabilidade. Já os com mais participação, são meninas brancas, de classe média, com maior renda per capita.
Temos de entender: a desigualdade educacional é a mãe de todas as outras. Hoje temos conhecimento de como a escola interfere sobre o trabalho e a renda da vida adulta desses alunos.