Nos cabides, jaquetas jeans de mais 30 anos, saias e blusões fazem parte de um ambiente alternativo e preocupado com a sustentabilidade. A Casa BEV (Brechó Espaço Vintage) fica no bairro São Cristóvão, em Lajeado, e é um dos lugares que incentiva a moda sustentável na região.
O nome já existe há cinco anos, quando Karine Portz morava em Porto Alegre. Na época, ela fazia voluntariado como professora de reforço escolar. No lugar havia um brechó e todo lucro era revertido para as crianças do colégio.
“Fiquei encantada com as mil possibilidades que aquilo trazia, principalmente a parte das roupas estilosas e únicas, e também o baixo custo das peças. Vivenciando aquilo de perto, peguei muito gosto por brechós até que resolvi abrir um”, conta Karine.
Quando voltou a Lajeado, abriu o primeiro espaço, ainda pequeno. No início o famoso termo “garimpar” era usado para diversas peças diferentes. Até ela entender o que o público consumia e se adaptar.
“Foi nessa época que conheci o Vintage, peças com o cadastro na etiqueta que têm mais de 20 anos. Após centralizar mais meu estilo de garimpo, passei a entender que o espaço físico que tinha até então não era suficiente para a demanda de clientes que estavam consumindo no brechó”, conta. A partir de então se mudou para a residência onde hoje está a Casa BEV.
Quando começou a garimpar, dava preferência para bazares beneficentes. Apesar deles ainda fazerem parte das buscas de Karine, a necessidade de novas mercadorias aumentou junto com o brechó e surgiram fornecedores mesmo de fora do estado.
Ela acredita que a adesão aos brechós se deve ao crescente interesse sobre o consumo sustentável. Para ela, falar de consumo consciente e roupas Vintage é sinônimo de qualidade.
“O jeans, principalmente, que é uma peça que exige para a sua produção uma quantidade absurda de água é um grande ponto também. Tirando que a qualidade e durabilidade do produto ao longo dos tempos foi decaindo muito, tudo pra gerar cada vez mais consumo e consequentemente mais descarte”, ressalta Karine. As formas de consumo também mudaram e hoje a internet é grande aliada do espaço.
“Então, comprar em brechó é revolucionário. É importante que se olhe com mais responsabilidade pras indústrias de fast fashion e o quão prejudiciais elas são pro meio ambiente e pro meio social”, acredita.
Para quebrar o tabu
Mesmo com mais adeptos à cultura dos brechós, ainda há preconceito quando se fala em peças de segunda mão. De acordo com a designer de moda Mirella Barboza, 24, muitas pessoas pensam na questão de energia e de por onde aquela roupa já com história de vida andou.
“Mas roupa nova não significa energia boa. Para quebrar esse tabu é preciso fortalecer o entendimento de como é o mundo da moda, uma indústria que não vive só do glamour”, destaca.
A designer acredita na necessidade de transformação de empresas, tanto na moda quanto em outros setores. “Muitas marcas estão surgindo pensando em impulsionar uma transformação, e profissionais da área ambiental também têm sido importantes no papel de conscientização”, ressalta.
Mirella iniciou um mestrado em Design para a Sustentabilidade, é voluntária do movimento Fashion Revolution Porto Alegre, e atua com conscientização de moda sustentável no perfil do Instagram @mirellabarboza_.
“Definir a moda sustentável é difícil, mas é preciso garantir os direitos de todos os trabalhadores, priorizar os direitos da natureza, falar sobre inclusão de pessoas e acima de tudo ser um movimento em prol do planeta, não apenas um nicho de mercado”, ressalta.
De acordo com ela, cada roupa ou outros utensílios da moda utilizam grandes quantidades de recursos naturais finitos para as produções.
“Quando falamos em produtos com apelo ambiental, devemos pensar que tudo o que é mais sustentável e o que já existe e que pode ser reaproveitado, por isso os brechós são grandes aliados e uma das melhores formas de se fazer uma moda mais sustentável. Incentivar o consumo em brechós ajuda a poupar recursos naturais que podem ser necessários para outras indústrias”, destaca a designer.
Segundo ela, com a internet fica cada vez mais difícil fugir dessa realidade sobre a crise climática, com perfis dispostos a divulgar práticas de vida com menor impacto ambiental.
Na busca pela autenticidade
Entre as clientes assíduas do espaço está a tatuadora Alice Joanello, 26. Curiosa para conhecer e consumir em brechós, ela levou tempo para encontrar um que se encaixasse no estilo que procurava. Mas depois de conhecer a Casa BEV, passou a consumir apenas roupas de segunda mão.
A exclusividade das peças é um dos fatores que a incentiva nas compras em brechós. Outro ponto é a economia. “Pra mim, sustentabilidade e economia andam de mãos dadas quando se trata de consumir em brechó. Toda a minha relação com o consumo de roupas mudou, conheci peças e tecidos diferentes e assim hoje sei o que procurar”, afirma. Ela costuma procurar peças de diferentes estampas e estilos. Quanto mais divertida e diferente, melhor.