Mapa revela seis áreas com sinal precário

telefonia móvel em lajeado

Mapa revela seis áreas com sinal precário

Zonas sem cobertura de celular foram identificadas a partir de estudo de empresa concessionária do serviço de transporte coletivo. Instabilidade afeta moradores de pelo menos nove bairros e trava o lançamento de aplicativo para qualificar a mobilidade urbana no município

Mapa revela seis áreas com sinal precário
Sinal precário prejudica os negócios de Isac. Clientes da lanchonete tentam fazer pedidos de telentrega, mas não conseguem contato (foto: Renata Lohmann)
Lajeado

Moradora do bairro Bom Pastor, Claudinara Krohn precisa ir à casa da vizinha para conseguir sinal no celular (foto: Renata Lohmann)

Sair de casa para usar o telefone virou rotina para Claudinara Krohn, moradora do bairro Bom Pastor. Com frequência, ela precisa ir à residência da vizinha para conseguir sinal no celular. A falta de conexão prejudica atividades simples, como utilizar Uber e Ifood, aplicativos que dependem de geolocalização, como também possíveis situações de emergência. “Tenho medo que a escola do meu filho tente me ligar e não consiga contato”, conta.

No bairro Conventos, instabilidade prejudica os negócios de Isac da Silveira. Clientes tentam ligar à lancheria para pedir telentrega, mas não conseguem contato (foto: Renata Lohmann)

Isac da Silveira mora e também tem uma lancheria no bairro Conventos. Para ele, a situação prejudica os negócios: os clientes tentam ligar para pedir telentrega e não conseguem contato. “Preciso ir até a esquina para conseguir sinal, então confiro as ligações perdidas dos clientes para poder ligar de volta. Nem todo mundo usa WhatsApp, então o Wi-Fi não resolve totalmente o meu problema”, conta.

A falta ou instabilidade de sinal prejudica de forma crônica moradores de áreas dos bairros São Bento, Conventos, Moinhos D’Água, Igrejinha, Planalto, Campestre, Santo Antônio, Morro 25 e Bairro das Nações.

As zonas de sombra de sinal de celular foram mapeadas pela Expresso Azul em decorrência do desenvolvimento de um aplicativo para as linhas de ônibus urbano da cidade. A criação do aplicativo é item obrigatório na licitação do transporte público coletivo do município vencida pela empresa em 2020.

De acordo com o diretor da concessionária, Pedro Lourenço Guarnieri, o aplicativo já está pronto, mas a empresa hesita em fazer o lançamento já que as sombras de sinal afetam sua funcionalidade. Todas as paradas de cada linha são mapeadas, então o aplicativo permite ver em tempo real onde o ônibus se encontra e quanto tempo levará para chegar à parada. Com as sombras, o serviço fica sem sincronia, o que prejudicaria a funcionalidade para os usuários.

Lajeado busca soluções de mobilidade, como o desenvolvimento de aplicativo para o sistema de transporte público e tratativas para firmar um acordo com o aplicativo Waze, de localização e informações sobre o trânsito compartilhadas em tempo real por seus usuários. Essas iniciativas também esbarram no problema das zonas de sombra no sinal de celular.

Em busca de soluções

Coordenador de T.I. da administração municipal, Luis Antônio Schneiders faz parte do comitê que busca soluções de infraestrutura de comunicação de dados. Schneiders garante que reuniões com as operadoras de telefonia estão agendadas: “Procuramos contato com as operadoras com dois objetivos: informar sobre as áreas de sombra e verificar a possibilidade de aumentar a cobertura nessas áreas afetadas.”

De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), um município é considerado atendido pela telefonia móvel quando pelo menos 80% da área urbana do distrito sede possui cobertura. Portanto, mesmo nesses municípios, é possível haver áreas sem cobertura da rede móvel. Lajeado possui 91,71% da área coberta pelas operadoras, quantidade superior ao exigido pela Anatel. Segundo estimativas do órgão com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 99,46% dos munícipes vivem na área coberta.

Uma combinação de fatores

Schneiders explica que a falta ou instabilidade no sinal é causada por uma combinação de fatores, já que não é possível controlar a propagação do sinal no ar. Quanto mais distante a localidade de uma torre de celular, mais fraco e instável é o sinal. As características geográficas e de relevo também influenciam na qualidade da recepção: o sinal tende a seguir uma linha reta, podendo haver uma área de sombra em uma zona mais baixa, o que reflete ou redireciona o sinal. Atrás do relevo, tende a se ter uma baixa qualidade de sinal. A sobrecarga de uso em uma área densamente povoada também pode ser um fator de interferência.

Esse parece ser o caso de Eloá, moradora do bairro Centro. A área não apresenta sombra de sinal, mas também tem dificuldade para conseguir utilizar seu celular em sua residência. Só é possível se conectar no pátio da frente ou dos fundos da casa e, por isso, ela acaba perdendo ligações importantes. Como solução, usa a conexão Wi-Fi e liga por aplicativos, além de ter uma linha fixa. Eloá especula que a falta de sinal pode se dar por barreiras físicas, já que a casa fica em uma região mais baixa e houve um aumento significativo de prédios na região.

Para solucionar a situação das sombras de sinal, Schneiders afirma que seria necessário estudo de realocação de torres de celular, ou mesmo a instalação de novas torres. O mapeamento da Expresso Azul pode ajudar nesse contato com as operadoras, indicando áreas problemáticas na cidade para um estudo mais aprofundado.

“Queremos ver o que eles podem fazer. Em termos técnicos, tem pouco que nós, da prefeitura, podemos fazer pela melhoria do sinal.” Cabe às operadoras avaliarem seu interesse financeiro. “Nosso intuito é comunicá-los oficialmente, e tentar sensibilizá-los para investir em melhorias.”

Mobilização regional

Vice-presidente do Codevat, Cíntia Agostini participou de diversas reuniões nos últimos 10 anos na tentativa de resolver esse problema. Os Ministérios Públicos Federal e Estadual já foram acionados, assim como o Procon do Rio Grande do Sul. “A resposta das operadoras é sempre a mesma: que eles atendem o que a legislação exige”, conta. Além disso, a obrigatoriedade de atendimento de 80%  da área do município se refere às áreas urbanas, e não rurais.

Para Cíntia, a legislação é permissiva para que as operadoras atuem desse jeito. “Nós temos um problema muito sério. A legislação foi criada há mais tempo, precisa ser atualizada”.

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