O pedágio de Troia

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

O pedágio de Troia

Vale do Taquari

“Cavalo de Troia”, episódio ocorrido em 1.250 A.C, foi protagonizado pelos gregos que, após nove anos de guerra, não conseguiram adentrar nas inexpugnáveis muralhas de Troia. Por ideia de Odisseu construíram um cavalo de madeira e o deixaram nos portões da cidade, como um pretenso presente, simulando reconhecer a derrota. Os troianos, impacientes, saturados da guerra, trouxeram o “presente” para dentro das muralhas. E, durante a noite, gregos escondidos no interior do cavalo, abriram os portões para seus exércitos, que destruíram a cidade de Troia.

Semana passada foi apresentado, em Encantado, o tão aguardado “Plano Avançar”, do Governo do Estado, de concessão de rodovias estaduais à iniciativa privada. Pretensamente um audacioso programa de melhoria logística do RS, acenado aos gaúchos desde os Governos Yeda, Tarso e Sartori. Finalmente viriam contrapartidas aos pesados pedágios que vimos pagando desde 1996. Bem mais do que os nove anos da guerra entre Grécia e Troia, a ponto de, perigosamente mortos pelo cansaço, estarmos pretensos a aceitar qualquer projeto de pedagiamento, mesmo que contenha, em seu bojo, tal qual para os troianos, elementos que nos penalizem.

Pois o “Avançar” passa a ideia de um “Cavalo de Troia”, especialmente para o Vale do Taquari. Apesar da boa apresentação feita pelo secretário estadual Leonardo Busatto que, pacienciosamente, também ouviu lideranças regionais presentes. Só que as falas não aceitaram o plano na forma posta, deixando claras as condições que a região quer ver atendidas.

Isto porque, há 23 anos pagamos milionárias tarifas às concessionárias Univias e EGR, tendo migalhas e pouquíssimas obras como contrapartidas: conservação das estradas, melhoria de poucos acessos a cidades (rotatórias em Boa Vista do Sul, Westfália e Encantado) e o alargamento de sete quilômetros da 386, em Pouso Novo. Somente.

Após décadas de espera, um novo plano de pedagiamento é apresentado, incompleto, dando menos de um mês para discussão, em três audiências públicas (pouco produtivas), sem tempo para uma discussão aprofundada, com municípios e comunidades, quanto às suas reais necessidades. Isto, para permitir sua implantação já em janeiro de 2022, a tempo de o candidato a presidente, Eduardo Leite, poder relacioná-lo como uma das suas realizações, não importando os avanços acanhados que contém, nos seus trinta anos de vigência previstos.

Mantém postos físicos de cobrança de pedágio, continuando a penalizar os municípios onde instalados, quando legislação federal, recentemente aprovada, permite a cobrança eletrônica do pedágio. Portais instalados sobre a rodovia, a determinados intervalos, têm equipamento que impacta mecanismo eletrônico instalado nos veículos, pagando menos e pelo real uso que se fez da rodovia, sem precisar-se parar. Adicionalmente, parte do valor que pagarmos aqui, o Estado quer aplicar em rodovias de outras regiões.

Quanto às obras previstas, pior ainda. Em dez anos, apenas poucos quilômetros de duplicação. Lajeado/Arroio do Meio, por exemplo, só depois de dez anos. Isto que o trecho Venâncio/Muçum, desde 2012 já tem um pré-plano de duplicação pago pelo Vale do Taquari e entregue ao Estado, sem ter sido levado em conta. Quer dizer: continuaremos pagando para continuar não recebendo a devida contrapartida.

Enfim, muitas razões nos levam a não aceitar o “Plano Avançar” como está, e nem sua implantação num prazo tão curto. A região tem bem claros os princípios que devem ser atendidos. Nem que a sua implantação demore mais dois ou três anos. Tempo curtíssimo para quem, há décadas, vem sendo penalizado. Certamente não seremos vencidos pela impaciência troiana.

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