Sem clima eleitoral, Putinga escolhe prefeito

Eleição

Sem clima eleitoral, Putinga escolhe prefeito

Conhecido na parte alta do Vale por disputas eleitorais acirradas, município terá pleito suplementar neste domingo para definir o novo governo, após impugnação da chapa eleita em 2020. Campanha, porém, não deslancha entre a comunidade. Para especialista, pandemia contribui com baixo envolvimento

Sem clima eleitoral, Putinga escolhe prefeito
Campanha fora de época é marcada por pouco engajamento da população e propagandas discretas dos candidatos (Foto: Mateus Souza)
Vale do Taquari

No próximo domingo, 4, cerca de 3,9 mil eleitores irão às urnas para escolher o novo prefeito e vice de Putinga. A eleição suplementar, um fato atípico na curta história do município da parte alta do Vale do Taquari, terá duas chapas em disputa. O clima de campanha eleitoral, porém, não se reflete na comunidade.

Nas ruas da área central, há poucos elementos que remetem a uma campanha política. Bandeiras nas casas e adesivos nos carros identificam as preferências pelas duas candidaturas majoritárias. Mas, nas palavras de moradores, é pouca propaganda comparado com outros pleitos. Nada de santinhos espalhados, nem fôlderes, muito menos carros de som.

“As pessoas não parecem muito engajadas desta vez. Moro aqui há 28 anos e parece realmente que está bem mais calmo do que em outros anos”, relata um servidor público municipal, que critica a necessidade de uma nova eleição no município.

Para um comerciante, que tem ponto em frente ao Hospital Doutor Oscar Benévolo, isso indica uma “conscientização” da população. “Nunca vi uma campanha tão tranquila como esta. Talvez seja pelo fato de ocorrer fora de época, e por conta da pandemia”, opina. De fato, Putinga tem uma mortalidade por covid-19 acima da média do Estado. Esse foi um dos motivos que levou a Justiça Eleitoral a adiar a eleição suplementar, que ocorreria inicialmente em maio.

Desta vez, a campanha transcorreu sem maiores adversidades. As urnas eletrônicas estão prontas e serão distribuídas aos locais de votação na manhã do próximo sábado, 3, segundo a chefe do Cartório Eleitoral de Arvorezinha, Angélica Ramos. As regras para o pleito permanecem as mesmas de 2020, com uso obrigatório de máscara para votar. O horário será das 7h às 17h.

“Vi a prefeitura nascer”

Há 32 anos, Agostinho Zanotelli é proprietário de um bar e sapataria situado na rua Duque de Caxias, em frente às sedes dos poderes Executivo e Legislativo. E também percebe um ar de “tranquilidade”, mesmo estabelecido em uma das ruas mais movimentadas da cidade.

“Que continue assim, né? Aqui as campanhas sempre foram muito estressantes. Se não piorar nos últimos dias, será uma das mais tranquilas que já vi e isso é bom para todos nós”, comenta o comerciante de 68 anos. Ele, que conheceu quase todos os prefeitos da história de Putinga, espera manter a boa convivência com o futuro gestor. “Vi a prefeitura nascer.”

Por ser comerciante, Zanotelli espera que o futuro governante olhe para o comércio, bastante prejudicado com a pandemia. “Estão todos quebrados. Também é preciso investir na agricultura e na saúde”, afirma.

“Eleição passa, amizades ficam”

Airton Fontana, 54, é proprietário de uma loja de motos na rua principal de acesso à Putinga. Para ele, o fato de ser um município pequeno deveria servir para a população se unir, e não dividir, como ocorre em tempos de campanha. “Eleição passa, as amizades ficam. As pessoas deveriam se abraçar mais”, opina.

Já Adriano Beltrami, trabalhador da construção civil, entende que o comportamento da população também se dá pela descrença com os políticos. “Não se pode apenas prometer. Tem que cumprir. É isso que os moradores esperam do seu prefeito. Mas aqui se tem muita marcação”, comenta.

Investimentos na agricultura

Como quase todos os municípios da parte alta do Vale, Putinga tem no setor primário uma das suas principais fontes de arrecadação. Produtos como a soja e o milho predominam nas lavouras. E, para a maior parte das pessoas ouvidas, é o setor que merece uma atenção especial do futuro prefeito.

Em 2018, segundo dados do Sebrae, a agricultura representava 31,2% na participação dos setores no Valor Adicionado (VA) de Putinga. “Nós dependemos muito do interior. Se a nossa agricultura vai bem, nós também vamos”, comenta Zanotelli.

Entrevista

Fredi camargo
• O cientista político avalia que cenário pandêmico contribuiu com o pouco interesse da população pela campanha, num município onde o contato direto com o eleitor ainda é a principal arma dos candidatos.

“A pandemia esfriou o clima de eleição”

• Mesmo faltando poucos dias para a eleição, não se percebe um clima de campanha na cidade como em anos anteriores. A que isso pode ser atribuído?
Acredito que esta eleição estar fria tem muito a ver também com a situação da pandemia. Putinga teve muitos casos para o tamanho do município. E a forma de se fazer campanha nesses locais é muito peculiar, onde pouco se usa ferramentas como rádio e redes sociais e, sim, o método de visitação, de contato com o eleitor. Lá, dá para visitar praticamente todas as casas, conversar com todas as famílias. E a pandemia esfriou isso.

• Eleição suplementar não causa um desgaste nos eleitores, que terão de ir às urnas depois de sete meses?
No caso de Putinga, acho que a população meio que se cansou da disputa familiar. Isso pode ser um dos fatores. É uma coisa meio provinciana, um comportamento bem local, quase como uma briga dentro de uma paróquia. Dificilmente consegue se brigar por projetos, por um pensamento de município.

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