“Não tinha hora, nem tempo ruim”

ABRE ASPAS

“Não tinha hora, nem tempo ruim”

Leonardo Pozzebon, 77, é taxista aposentado e reside em Boqueirão do Leão, município onde exerceu a profissão por 38 anos. Hoje com rotina mais tranquila, se dedica aos cuidados da horta e à paixão por cavalos.

“Não tinha hora, nem tempo ruim”
(foto: Felipe Neitzke)
Vale do Taquari

Como surgiu o interesse e a disponibilidade em ser taxista?

Foi uma questão de oportunidade. Quando vim para Boqueirão do Leão, em 1974, me ofereceram uma Kombi usada, fechei o negócio e fiz dela minha ferramenta de trabalho. Naquela época, poucas pessoas tinham um veículo e quem precisava de alguma corrida acabava me procurando. Eram dois pontos de táxi no centro, eu atendia próximo ao hospital.

Qual era a demanda de viagens e quantas horas trabalhava por dia?

Não tinha hora, nem tempo ruim. Estava disponível dia e noite. Muitas vezes, de madrugada, batiam na porta de casa para fazer uma viagem. O acesso ao telefone era para poucos e por isso além de levar pessoas, também me tornei um mensageiro. Pelo fato da maioria das estradas serem de chão batido e poucos trechos de asfalto, o tempo de viagem variava muito.

Quais as recordações e o quanto esse serviço fez a diferença na sua vida?

Meu objetivo sempre foi ajudar as pessoas. Trabalhei naquilo que realmente gostava, mas teve momentos ruins. Entre as lembranças, três viagens, pessoas que faleceram no táxi enquanto levava para atendimento médico. Isso jamais vou esquecer. Em outras situações, eu informava a família sobre o óbito. Fui também motorista dos policiais, no início dos anos 70 não tinha viatura em Boqueirão do Leão.

Quando ia para cidades que não conhecia, como se localizava?

O jeito era pedir informação. Às vezes alguém que conhecia o local ia junto. Fiz algumas viagens para fora do estado e nunca tive problemas. Ser taxista foi um grande aprendizado, conheci muitos lugares e pessoas. Fiz boas amizades nessa profissão.

Quantos quilômetros rodava durante o ano?

Entre as décadas de 70 e 90 foram os melhores momentos. Rodava em média 70 mil quilômetros ao ano. Tive dez carros enquanto taxista. O primeiro veículo novo, direto da concessionária foi em 1975. Em 1982 o governo lançou alguns incentivos para quem tinha táxi, mas o desconto era para automóvel a álcool. Comprei uma Fiat Panorama, mas em Boqueirão não tinha posto com etanol. Então tinha que aproveitar e abastecer fora. Levava alguns galões para garantir estoque em casa. Nos dias de frio, passava trabalho para ligar o carro.

Qual sua rotina atual e quando se aposentou?

Desde 2013 não tenho mais o táxi. A quantidade de viagens reduziu muito e deixou de ser algo lucrativo. Hoje me dedico aos cultivos da horta e no trato de animais. Tenho alguns cavalos e passo o dia em função. São dias mais tranquilos, sem aquela correria toda.

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