Desde criança, Jean Mara Lafortune, 45 anos, gostava de ir à Igreja. O pai, sacristão, ajudava nas celebrações e levava o filho para as missas. Foi naquela comunidade de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, na Vila de Lascahobas, no Haiti, que ele teve a certeza de que queria seguir a religiosidade como profissão. Mais tarde, veio ao Brasil para estudar e, depois de passar por Santa Cruz do Sul e Candelária, toma posse como pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Capitão, no próximo sábado, às 16h.
O padre assume o lugar de Silvério Schneiders, que morreu de câncer no último dia 10. No Brasil desde 2005, Lafortune é o único padre haitiano da Diocese de Santa Cruz do Sul e esta é a primeira vez que vem ao Vale do Taquari para trabalhar.
“Minha expectativa é de que eu possa trabalhar em conjunto com a comunidade, porque não conheço a realidade de lá. A pastoral não é um tipo de receita. Vou chegar e ver o que precisa ser feito”, diz o padre.
Desafio e acolhimento
Quando chegou ao sul, o haitiano se instalou em Viamão, mas já passou por mais de 16 municípios do estado. Na época, veio com
a Congregação Oblatos de São Francisco de Sales, já que no país natal não havia uma casa de formação religiosa.
Em solo brasileiro, estudou Teologia na Escola Superior e De Espiritualidade Franciscana (ESTEF), em Porto Alegre, além de
se formar no curso de Filosofia da Unisinos, em São Leopoldo.
“A ideia de estudar para ser padre vem comigo desde criança e foi crescendo. Não somente a ideia, mas o sentimento. Finalizei os estudos em 2017”, conta Lafortune.
O estágio foi feito na Comunidade de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Santa Cruz do Sul, onde foi ordenado
diácono em 2019. A ordenação sacerdotal de Lafortune foi em dezembro do mesmo ano, na comunidade Nossa Senhora Aparecida do Bairro Esmeralda.
Depois de trabalhar como vigário na cidade, há cinco meses foi transferido para a Candelária, na Igreja Nossa Senhora da Candelária, onde atua até assumir a Paróquia de Capitão.
O estrangeiro diz ter sido sempre bem acolhido pela comunidade, mas conta que a adaptação não foi fácil. Inserido em outra cultura, culinária e geografia, nem mesmo o português ele entendia bem. Foram precisos alguns meses para aprender a língua.
Mas, depois de 16 anos, alguns hábitos já são praticados por ele, como o gosto pelo chimarrão. “Eu gosto de tomar depois do meiodia, para fazer a digestão”, conta.
Mais próximo da região
No Vale, padre Lafortune quer continuar um trabalho de acolhimento de estrangeiros, promovido pela Pastoral do Migrante da Diocese de Santa Cruz do Sul, do qual é coordenador.
“Onde tem estrangeiro, a gente está lá para atender, acolher e encaminhar. O primeiro passo é atender as necessidades imediatas
como roupas e alimentos. Depois esses migrantes são encaminhados para as políticas públicas dos municípios”, ressalta o padre.
Caso o município não tenha um serviço para acolher as famílias, a equipe da pastoral entra em contato com vereadores ou prefeitos
para garantir o direito e acesso dos migrantes às políticas públicas, educação, saúde e trabalho.
“Muitas pessoas saíram dos seus países para procurar oportunidades”, destaca. “Agora, Arroio do Meio, Lajeado e outras cidades
vão ficar mais perto para a pastoral estender esse trabalho, mas o ideal é que cada paróquia tenha sua própria equipe”, afirma Lafortune.
Segundo ele, o desemprego é o principal incentivo para os haitianos deixarem a terra natal e se instalarem no Brasil. A busca por
oportunidades é também fator que contribui para a vinda de outros estrangeiros.
O olhar da Diocese
“Dentro da perspectiva de uma Igreja Samaritana, a diversidade de culturas é muito bem-vinda. Além disso, neste momento, a região que mais recebeu migrantes dentro da Diocese é o alto Taquari. Com isso, a partir de Capitão, fica muito mais fácil para o padre Jean atender estes migrantes”, ressalta o padre Roque Hammes, coordenador de pastoral e assessor de imprensa da Diocese
de Santa Cruz do Sul.
Ele ainda destaca que esse será um acréscimo à comunidade que vai exigir acolhida tanto do padre quanto do povo. “Com isso, ambos vão sair no lucro”, acredita