Baixa adesão marca aulas presenciais no Ensino Médio

DISTÂNCIA E PERDA DE VÍNCULO

Baixa adesão marca aulas presenciais no Ensino Médio

Entre a educação remota ou em sala de aula, falta de obrigatoriedade faz com que estudantes optem por continuar atividades em casa. Ministério Público teme aumento da evasão escolar no pós-pandemia

Baixa adesão marca aulas presenciais no Ensino Médio
Crédito: Filipe Faleiro
Vale do Taquari

Turmas com espaço para atender até 16 alunos repletas de cadeiras vazias. “Teve dias que cheguei na escola para dar aula para dois ou três alunos”, diz a professora de Português, Maria Clarice Lazzaron.

Esse cenário tem sido comum nas escolas de Ensino Médio da rede estadual. A própria Coordenadoria Regional de Educação (CRE) confirma a baixa adesão nas atividades presenciais. Como não é obrigatório o retorno às escolas, os estudantes optam por ficar em casa.

Pelo fato das aulas serem divididas entre presencial, por meio do Google Classroomm, ou por trabalhos remotos, a coordenadoria não dispõe de números com relação a cada uma dessas alternativas.

“Não há como sabermos o percentual de alunos, pois não é um número estático. Alguns vão uma semana e não comparecem depois. Então migram para a internet ou retiram os trabalhos impressos. Vários fatores interferem neste afastamento”, diz a coordenadora da 3ª CRE, Cássia Benini.

Entre esses motivos, destaca-se a opção pelo trabalho em detrimento ao estudo, diz a vice-diretora da Escola Érico Veríssimo, de Lajeado, Diana Lazzaron. “Em contato com alunos e com as famílias, vimos que são prioridades. O jovem conseguiu algum trabalho e passou a organizar o estudo em outros horários.”

Em cima disso, se abre uma discussão sobre prioridades. Pelo fato de muitas famílias terem perda de renda, alunos a partir dos 16
anos passam a contribuir com o orçamento de casa. “Vamos saber o reflexo disso no futuro”, realça a vice-diretora.

“Essa baixa adesão nos preocupa. O Ensino Médio é uma etapa de três anos. O aluno que entrou no primeiro ano em 2019, passou todo o ano passado longe da escola. Retorna em meio as restrições”, argumenta a coordenadora Cássia Benini.

As escolas da rede estadual voltaram às aulas presenciais no dia 3 de maio. Começou pelas escolas de Educação Infantil e pelos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Já o Ensino Médio retornou no dia 12 do mesmo mês, por meio do modelo híbrido de ensino, com atividades presenciais e remotas por meio da plataforma digital.

A carga horária diária foi estabelecida em três horas presenciais e duas horas remotas. O investimento em equipamentos de proteção nas escolas ultrapassou os R$ 15 milhões em materiais de higienização para todas as escolas da rede pública.

“Escola vazia é uma escola triste”

Em meio a aula de Português e Literatura, o silêncio é o que mais chama atenção. “Não tem mais aquela conversa paralela, a participação, o debate. Ganhamos em alguns pontos, como na concentração, mas perdemos no contato”, relata a professora Maria Clarice Lazzaron.

Na tarde de segunda-feira, 28, havia quatro alunos na sala e outros cinco por meio da plataforma do Google. No geral, a turma do 2º ano do Ensino Médio da Érico Veríssimo teria 25 estudantes. “É muito estranho esse silêncio”, diz um dos alunos.

Conforme a professora, uma turma com menos alunos possibilita um atendimento mais individualizado. “Aquela qualidade do ensino, que tanto queremos, é mais possível quando temos menos alunos. Em uma turma com 15 pessoas, é possível estar mais próximo.” Por outro lado, faltam momentos de integração. “Escola vazia é uma escola triste”, resume Maria Clarice.

Volta da obrigatoriedade

Conforme a coordenadora regional de Educação, Cássia Benini, há um debate em nível estadual para o retorno da obrigatoriedade dos alunos às aulas presenciais. “Queremos o maior número possível de alunos dentro da escola”, frisa

Pelo fato das escolas particulares terem retornado com as atividades quase normais, o próximo passo seria de estabelecer uma cobrança também para os alunos da rede estadual. De acordo com Cássia, com a possibilidade de aulas híbridas, a responsabilidade
pelo retorno ou não dos alunos cabe às famílias.

“É o pai e a mãe que escolhem. Mas de fato, nos frustrou essa baixa adesão dos estudantes.” A preocupação central das equipes diretivas e dos professores é a perda do vínculo do jovem com a escola.

De acordo com Cássia, quando se percebe as faltas às aulas, seja presencial ou pela plataforma do Google, junto com a não entrega dos trabalhos, a família é consultada. Caso não haja avanço para o retorno, os pais podem ser responsabilizados

A promotora regional de Educação, Vanessa de Vargas, em entrevista concedida ao Programa Pense, da Rádio A Hora, admitiu o risco de evasão escolar devido a esse distanciamento. Para ela, é preciso um acompanhamento constante das equipes dos colégios para evitar a saída de alunos.

“A pandemia interferiu nas nossas vidas. Ainda assim, os pais precisam acompanhar os filhos, verem se estão cumprindo com as atividades escolares.”

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