Turmas com espaço para atender até 16 alunos repletas de cadeiras vazias. “Teve dias que cheguei na escola para dar aula para dois ou três alunos”, diz a professora de Português, Maria Clarice Lazzaron.
Esse cenário tem sido comum nas escolas de Ensino Médio da rede estadual. A própria Coordenadoria Regional de Educação (CRE) confirma a baixa adesão nas atividades presenciais. Como não é obrigatório o retorno às escolas, os estudantes optam por ficar em casa.
Pelo fato das aulas serem divididas entre presencial, por meio do Google Classroomm, ou por trabalhos remotos, a coordenadoria não dispõe de números com relação a cada uma dessas alternativas.
“Não há como sabermos o percentual de alunos, pois não é um número estático. Alguns vão uma semana e não comparecem depois. Então migram para a internet ou retiram os trabalhos impressos. Vários fatores interferem neste afastamento”, diz a coordenadora da 3ª CRE, Cássia Benini.
Entre esses motivos, destaca-se a opção pelo trabalho em detrimento ao estudo, diz a vice-diretora da Escola Érico Veríssimo, de Lajeado, Diana Lazzaron. “Em contato com alunos e com as famílias, vimos que são prioridades. O jovem conseguiu algum trabalho e passou a organizar o estudo em outros horários.”
Em cima disso, se abre uma discussão sobre prioridades. Pelo fato de muitas famílias terem perda de renda, alunos a partir dos 16
anos passam a contribuir com o orçamento de casa. “Vamos saber o reflexo disso no futuro”, realça a vice-diretora.
“Essa baixa adesão nos preocupa. O Ensino Médio é uma etapa de três anos. O aluno que entrou no primeiro ano em 2019, passou todo o ano passado longe da escola. Retorna em meio as restrições”, argumenta a coordenadora Cássia Benini.
As escolas da rede estadual voltaram às aulas presenciais no dia 3 de maio. Começou pelas escolas de Educação Infantil e pelos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Já o Ensino Médio retornou no dia 12 do mesmo mês, por meio do modelo híbrido de ensino, com atividades presenciais e remotas por meio da plataforma digital.
A carga horária diária foi estabelecida em três horas presenciais e duas horas remotas. O investimento em equipamentos de proteção nas escolas ultrapassou os R$ 15 milhões em materiais de higienização para todas as escolas da rede pública.
“Escola vazia é uma escola triste”
Em meio a aula de Português e Literatura, o silêncio é o que mais chama atenção. “Não tem mais aquela conversa paralela, a participação, o debate. Ganhamos em alguns pontos, como na concentração, mas perdemos no contato”, relata a professora Maria Clarice Lazzaron.
Na tarde de segunda-feira, 28, havia quatro alunos na sala e outros cinco por meio da plataforma do Google. No geral, a turma do 2º ano do Ensino Médio da Érico Veríssimo teria 25 estudantes. “É muito estranho esse silêncio”, diz um dos alunos.
Conforme a professora, uma turma com menos alunos possibilita um atendimento mais individualizado. “Aquela qualidade do ensino, que tanto queremos, é mais possível quando temos menos alunos. Em uma turma com 15 pessoas, é possível estar mais próximo.” Por outro lado, faltam momentos de integração. “Escola vazia é uma escola triste”, resume Maria Clarice.
Volta da obrigatoriedade
Conforme a coordenadora regional de Educação, Cássia Benini, há um debate em nível estadual para o retorno da obrigatoriedade dos alunos às aulas presenciais. “Queremos o maior número possível de alunos dentro da escola”, frisa
Pelo fato das escolas particulares terem retornado com as atividades quase normais, o próximo passo seria de estabelecer uma cobrança também para os alunos da rede estadual. De acordo com Cássia, com a possibilidade de aulas híbridas, a responsabilidade
pelo retorno ou não dos alunos cabe às famílias.
“É o pai e a mãe que escolhem. Mas de fato, nos frustrou essa baixa adesão dos estudantes.” A preocupação central das equipes diretivas e dos professores é a perda do vínculo do jovem com a escola.
De acordo com Cássia, quando se percebe as faltas às aulas, seja presencial ou pela plataforma do Google, junto com a não entrega dos trabalhos, a família é consultada. Caso não haja avanço para o retorno, os pais podem ser responsabilizados
A promotora regional de Educação, Vanessa de Vargas, em entrevista concedida ao Programa Pense, da Rádio A Hora, admitiu o risco de evasão escolar devido a esse distanciamento. Para ela, é preciso um acompanhamento constante das equipes dos colégios para evitar a saída de alunos.
“A pandemia interferiu nas nossas vidas. Ainda assim, os pais precisam acompanhar os filhos, verem se estão cumprindo com as atividades escolares.”