Por Elisabete Barreto Müller
Quando me convidaram para escrever esta coluna, pela relevância na vida de tantas pessoas, pensei que não poderia ser outra a abordagem da minha estreia: a Casa de Passagem do Vale.
Em 1998, ano da inauguração dessa única casa-abrigo regional para acolher mulheres vítimas de violência, ainda não existia a Lei Maria da Penha e nem todos os mecanismos de proteção que foram implementados depois dela. Assim, falar sobre violência contra a mulher e estimular a comunidade do Vale do Taquari a refletir sobre a problemática, à época, foi algo difícil e muitíssimo desafiador, como se retirássemos o véu da invisibilidade sobre o tema.
Importante que se diga que, em 1997, uma mulher havia sido morta pelo marido e esse fato nos impulsionou a buscar auxílio para criar um abrigo que pudesse acolher mulheres em perigo, proteger e tentar salvar vidas.
Dessa forma, criamos uma comissão que pensou em estratégias para buscar um consórcio de municípios na região, com base no número de habitantes e estatísticas de violência. Depois de uma união de esforços, a entidade foi criada e legalmente registrada, sendo que as prefeituras parceiras, a partir de então, repassam verba mensal para a sua manutenção.
No entanto, esse valor destinado pelas prefeituras é insuficiente e a Casa de Passagem necessita de constante auxílio da comunidade para se manter através de doações e, desde a sua fundação, conta com um grupo de voluntárias, tanto da diretoria, quanto de profissionais técnicas. Além de abrigar em local sigiloso e alimentar mulheres vítimas de violência doméstica e familiar que estão em risco de vida, e seus filhos com menos de dezoito anos, a entidade também lhes oferece atendimento psicológico, social e jurídico. A Casa recebe as vítimas a qualquer dia e horário e a triagem para abrigamento é feita pela Polícia Civil no registro da ocorrência. Depois que a vítima dá entrada e tem o acolhimento inicial pela zeladora, a equipe técnica faz os devidos contatos com a rede de enfrentamento à violência contra a mulher para que a usuária possa sair fortalecida e consiga romper com o ciclo violento.
Não é um voluntariado fácil! São muitos os entraves e preconceitos e a verba para manutenção da Casa é sempre escassa. Requer disposição, responsabilidade e bastante perseverança. Além disso, é um trabalho ininterrupto porque, infelizmente, a violência de gênero é persistente, histórica e estrutural em nossa sociedade, não escolhendo dia ou hora para acontecer. Mas não desistimos porque, como costumamos dizer, somos mulheres que cuidam de outras mulheres.