É dentro de um barco que Vanderlei Becker, 55, quer morar. Em meio ao oceano e com a possibilidade de desbravar o mundo, em uma embarcação construída por suas próprias mãos.
O projeto do veleiro iniciou há quatro anos e oito meses, e foi concluído em maio deste ano. Ao lado da esposa, a ideia é conhecer rios, lagos e mares da região, para depois sair em direção ao norte pela costa brasileira.
O sonho de ser andarilho vem da infância, com a influência dos desenhos animados do Incrível Hulk e Kung Fu, na década de 70. “Eles iam de local em local e seguiam viagem”, conta Vanderlei.
Natural de Santa Catarina, ele cresceu em Taquari e, anos mais tarde, foi para Santa Cruz do Sul. Lá, conheceu Ieda de Camargo, com quem divide a vida em um sítio no município faz 18 anos. Ao lado dela, Vanderlei colocou em prática aquele velho sonho.
Foi depois de uma viagem a Maceió e um passeio de jangada que surgiu a ideia de construir um pequeno barco e sair mar a dentro. Mas, na época, outras atividades eram prioridade. Até cerca de cinco anos, quando comprou um projeto para a construção do veleiro.
Vanderlei já havia feito cursos e aprendido sobre a atividade náutica. E, apesar de conhecer bem a prática da marcenaria, era a primeira vez na produção de um barco. “Quando imprimi as plantas, ver todas as peças do barco, os detalhes a serem construídos, mexeu muito comigo”, descreve ele, eletricista de profissão.
O modelo escolhido é de um veleiro bem estruturado e forte, próprio para travessias oceânicas e para o alto mar. Ele mede 11 metros de comprimento, 3,85 metros de largura e pesa mais de 10 toneladas. Todo o processo da construção foi compartilhado no canal do YouTube Veleiro Lelei, como é carinhosamente chamada a embarcação.
Em alto mar
Depois de finalizado, a preocupação era se o barco flutuaria. Naquele primeiro dia, um furo do tamanho de uma agulha foi o único defeito, consertado em pouco tempo depois. A primeira travessia foi de Rio Pardo a Taquari.
“Viver em um barco tem aquela coisa de andarilho, de poder ir para qualquer lugar com tua casa, com gastos apenas da alimentação”, destaca Vanderlei.
A ideia do casal é poder dar a volta ao mundo. Mas antes disso, querem conhecer a região, e seguir para o norte brasileiro. O Caribe também está na lista de destinos. Mas o resto é ainda uma incógnita.
Hoje o casal se divide entre o sítio mantido em Santa Cruz do Sul, e o Iate Clube Guaíba, em Porto Alegre, local onde o barco fica até receber o mastro de vela.
O Veleiro Lelei
Na estrutura, um quarto de polpa, com 1,90m², armários, uma cozinha com geladeira, fogão e pia. O barco também possui água quente e energia por meio de placas solares. Em outro cômodo, foi criada uma mesa de navegação com instrumentos para a leitura das cartas náuticas.
“A diferença em relação a uma casa é que a área interna é menor. Mas em compensação, temos uma varanda e um ‘pátio’ enormes, de frente para a água”, destaca Vanderlei.
Antes mesmo da finalização do veleiro, ele e Ieda queriam viajar. Compraram um barco em Salvador e foram buscar. Mas a embarcação precisava de reparos. Depois de uma semana de reformas, saíram pelas águas em direção ao sul.
“O barco veio de Salvador a Porto Alegre dando problemas”, conta Vanderlei. Eles passaram por uma tempestade e as velas rasgaram. Depois, em Vitória, o motor estragou. Outros problemas com o diesel também ocorreram pela travessia.
“Essa foi minha primeira experiência em alto mar. Foram 40 dias que vivi no barco, eu aprendi demais. Foi como um teste, ou eu ia navegar, ou desistir”, lembra.
Um comunicado à Marinha, o registro das peças adquiridas e uma carteira de navegação foram as exigências para colocar o barco na água e viajar.