A cultura do machismo e a crença de que os homens são superiores as mulheres foi o tema abordado na manhã desta terça-feira, 22, pela professora universitária e delegada aposentada, Elisabete Barreto Müller, em comentário semanal no Frente e Verso, da Rádio A Hora 102.9.
O machismo faz parte da estrutura da sociedade e está em todas as esferas, nas mais variadas relações. “E o pior, sendo normalizado por muitas mulheres”, lamenta. Por isso, segundo a comentarista, nem sempre o machismo é explícito e violento de forma física, muitas vezes é disfarçado.
Termos em inglês ganham força para explicar comportamentos relacionados ao machismo. Um deles é o “manterrupting” que em português significa “homens que interrompem”. Elisabete lembra que essas interrupções ocorrem de formas desnecessárias, não permitindo que as mulheres concluam frases.
Ao citar exemplos para esse termo, lembra de fato ocorrido no Supremo Tribunal Federal (STF) quando dois ministros, Luiz Fux e Ricardo Lewandowski, falaram que concederiam a palavra a Rosa Weber. “A presidente do STF Cármen Lúcia falou no mesmo mento que ele não concederia a palavra porque era a vez de Rosa Weber falar”, conta.
Outro caso que ganhou a internet foi quando a Manuela D’Ávila foi interrompida mais de 60 vezes no programa Roda Viva. Nos últimos dias, outro fato envolvendo a jornalista chamou atenção quando uma foto da filha foi divulgada e ameaçada de estupro. “Nesse caso da Manuela há machismo doentio e um discurso de ódio muito forte que não aceita que a mulher possa se posicionar”, observa. A comentarista aproveitou para desejar força à Manuela. Atitude que, segundo Elisabete, deveria de ser adotada por todas as mulheres, sem levar em conta o viés partidário.
Episódios de machismo na CPI Covid também foram destacados pela comentarista nesta terça-feira. Um deles envolve o comentário de três médicas. Duas eram a favor do tratamento precoce e a outra não. Jair Bolsonaro fez uma live e elogiou as profissionais que defendiam o tratamento, mas desqualificou aquela que era contra.
Na segunda-feira, 21, o presidente da república mandou uma mulher jornalista “calar a boca” após ser questionada sobre não usar a máscara. “A cobrança do Bolsonaro por um tratamento respeitoso para as profissionais na CPI Covid não vale para essa repórter?”, questiona.
Elisabete comenta que esse destemperamento foi um ataque a liberdade de imprensa. “Ele tem o direito de reclamar, mas não dessa forma. Como nós mulheres devemos reagir diante de uma atitude dessa? Como pode uma parlamentar ao lado do presidente não ter dado apoio a mulher que estava sendo ofendida? Ela mostrou apoio tirando a máscara e ficando ao lado do patriarcado.”
Para uma sociedade melhor, justa e igualitária, precisa-se desconstruir essa arraigada cultura machista e isso significa rever conceitos.
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