O sorriso é considerado o cartão de visitas das pessoas e, para muitos, um dos principais elementos que mantém a autoestima. O que grande parte da população não sabe, é que a saúde bucal não está relacionada somente à questão estética, mas também a prevenção da saúde em geral. Uma pequena lesão na boca é a porta de entrada para micro-organismos e bactérias que podem atingir a corrente sanguínea e colocar em risco outras partes do corpo.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que cerca de 11% da população brasileira nunca foi ao dentista, o que é preocupante, segundo a cirurgiã-dentista Tássia Konzen. Outros oito milhões de brasileiros, com mais de 30 anos, usam prótese e três em cada quatro idosos não possuem dentes.
“Se não temos dentes suficientes não há uma mastigação adequada e, com isso, nosso estômago tem mais dificuldade para fazer a digestão”, o que representa erro na quebra de proteínas e absorção de vitaminas, explica Tássia.
Ainda que escovar os dentes e utilizar o fio dental sejam tarefas simples, a dentista afirma que existe certa relutância de algumas pessoas em fazer, diariamente, essas tarefas, seja por falta de tempo ou informação.
Como a boca é uma das principais portas para bactérias é preciso atenção aos sinais que ela apresenta. “Naturalmente o corpo humano possui micro-organismos e alguns são específicos da flora da cavidade bucal”. Quando ela está em desequilíbrio aparecem os primeiros problemas, sendo os mais conhecidos o tártaro, as cáries, a gengivite e a periodontite.
Hoje estudos já mostram que o acúmulo da colonização de bactérias na cavidade oral, além de provocar alterações na boca, é capaz de influenciar no curso de patologias sistêmicas como a diabetes e problemas cardíacos, bem como interferir na gestação.
Saúde bucal x Diabetes e cardiopatias
Assim como as mudanças na boca podem prejudicar o controle da glicemia, a diabetes também influencia na saúde oral. Segundo Tássia, pacientes diabéticos têm maior propensão a desenvolver gengivite e a doença periodontal.
Para aqueles que possuem a diabetes descompensada (não controlada), percebe-se maior dificuldade em realizar procedimentos invasivos, como “extrações, raspagens e cirurgias, pois eles apresentam problemas de coagulação sanguínea e, consequentemente, dificuldade de cicatrização”.
Não fazendo os procedimentos acumulam-se bactérias na boca que, quando não bem higienizada, é um caminho para organismos entrarem na corrente sanguínea e se alojarem em outras partes do corpo.
Já para os cardíacos, principalmente aqueles com problemas na válvula mitral, a dentista explica que eles não podem ter gengivite ou periodontite, pois, em casos extremos, há chances de desenvolver a endocardite bacteriana, infecção causada por micro-organismos que são levados ao coração por meio da corrente sanguínea.
Em casos mais graves, dependendo da situação do paciente, quando o tratamento de canal não é realizado ou há demora para corrigir uma infecção no dente, as bactérias levam a complicações mais sérias, como a Angina de Ludwig.
“É importante destacar que quando a gente fala de dente e dentista não é só a beleza. A estética é apenas a consequência de todo o cuidado que há por trás”.
Problemas respiratórios
Outra questão importante a se observar na saúde bucal é a sua relação com os problemas respiratórios, principalmente em crianças. Quando existe obstrução da passagem de ar pelo nariz, a tendência é de que as pessoas respirem pela boca. Isso ocorre muitas vezes por alterações do trato respiratório ou em decorrência de gripes, resfriados, sinusites e alergias.
“Quando puxamos o ar pelo nariz ele passa nos pelos que são considerados filtros. Ali fica toda a sujeira, então o oxigênio chega aos pulmões quente, limpo e umidificado”, enquanto que, ao respirar pela boca, ele entra no organismo frio, sujo e seco, explica a dentista. Por isso a sensação de garganta seca e queimação nas vias aéreas.
Respirar pela boca por muito tempo implica em modificações da anatomia do rosto, especialmente no posicionamento da língua e lábios. Além disso, cáries ou problemas nas gengivas surgem com mais facilidade devido à falta de saliva. “Na verdade tudo está conectado. O nosso organismo é um só”.
Outra mudança comum é a halitose, popularmente conhecida como “mau hálito”, que muitas vezes é relacionada somente ao sistema gastrointestinal. Quem respira pela boca tem maior ressecamento bucal, o que leva ao aumento da descamação das células da mucosa e, consequentemente, das bactérias que dela se alimentam. Assim, forma-se a chamada saburra lingual, uma camada de placa esbranquiçada que fica sob a língua. Sem os cuidados adequados, ela pode se tornar um problema crônico.