O valor pago ao produtor pelo litro de leite indica retomada. Na apuração feita pela regional da Emater/RS-Ascar, a valorização chega a R$ 0,20 em relação ao mês anterior. O valor médio se aproxima de R$ 2,00 em junho, ante R$ 1,80 pago em maio aos produtores no Vale do Taquari.
Neste cenário, há dois extremos. Produtor com menor rendimento recebe na faixa de R$ 1,60 por litro, já aquele com uma estrutura maior, chega a R$ 2,45. Além da política comercial de cada empresa, a qualidade e escala de produção são determinantes.
De acordo com o técnico da Emater, Martin Schmachtenberg, historicamente nesta época do ano os preços se elevam, tanto para o produtor quanto ao consumidor. “Com a chegada do frio, aumenta o consumo dos produtos lácteos de modo geral”, observa.
A valorização do litro de leite busca também equilibrar a disparidade diante da alta nos custos de produção, puxados pelo preço do milho e concentrados. Se considerar o valor do quilo da ração e do litro de leite, o saldo é negativo.
“Recebemos R$ 1,77 por litro e leite e pagamos R$ 2,16 o quilo da ração”, comenta Valtair Cavalli, 43, de Boqueirão do Leão. A família está no setor faz 15 anos, sendo a principal atividade. Apesar da diferença entre custo e renda, ainda conseguem obter algum lucro e manter a propriedade.
São 26 vacas em lactação, produzindo em média 8 mil litros/mês. Conforme o produtor, a oscilação de preços é histórica e muitas vezes injusta para quem está no campo. “Agora estamos recebendo um pouco a mais pela bonificação, resultado da qualidade do leite”, explica.
Valor de referência
Conforme dados do Conseleite, o preço de referência era de R$ 1,43 no início do ano, registrou queda em fevereiro, leve alta em março e nos meses seguintes se manteve estável, mas abaixo de R$ 1,50/litro.
O coordenador do Conseleite, Alexandre Guerra, explica que a tendência do mercado lácteo gaúcho é de recuperação. “A volta às aulas presenciais, o pagamento do auxílio emergencial e a redução da produção nacional são fatores que, somados, ajudaram a retomada”, pondera.
No campo, também há sinais de recuperação com elevação da captação. Apesar do otimismo com o clima que vem favorecendo as pastagens, a situação da pandemia ainda exige atenção para possíveis instabilidades no consumo.
Ordenha robotizada
A família Fell, no interior de Estrela, fez investimento robusto para ampliar a produção e agregar valor. São 160 vacas em lactação, de um plantel de 300 animais. A produção diária é de 5,5 mil litros.
Hélio Fell, 55, observou oportunidades e instalou ordenha robotizada e infraestrutura de climatização. Na última venda recebem R$ 2,33 o litro. “O preço baixou no início do ano e agora começa a reagir. Estava bem preocupado”, comenta.
Os investimentos foram viabilizados tendo em vista a sucessão na propriedade. Leandro Fell, 31, segue os passos do pai e busca tecnologia para melhorar a produtividade. “Vamos focar na genética dos animais para produzir leite em quantidade e qualidade”, ressalta.