Em meio ao novo avanço nas contaminações, com impacto sobre leitos clínicos e de UTIs do Estado e do Vale do Taquari, a perspectiva de aceleração no envio de doses para imunizar pessoas fora dos grupos de risco traz otimismo para o controle da pandemia. Tanto que o governo do Estado projeta conseguir imunizar 70% da população até setembro.
Tal condição traria um novo ciclo de controle da covid-19 após um primeiro semestre de campanha marcada por atrasos e falta de doses para o reforço vacinal. O percentual é considerado por especialistas como margem mínima para a redução na circulação do vírus, nos contágios, ocupação hospitalar e nos óbitos.
Isso em caso de confirmação do programa para entrega de doses. Este mês, estima o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do RS (Cosems), seria o maior em termos de doses aplicadas, com imunização geral para pessoas a partir de 50 anos.
Apesar do otimismo, há também algumas incertezas, em especial com algum empecilho para atender o cronograma de entrega das vacinas. Nestas condições, chegar ao percentual estipulado para a “imunidade de rebanho” seria entre outubro ou novembro.
Conforme o Ministério da Saúde, o total de novas vacinas para os municípios seria de 176 milhões de julho a setembro. Junto com as unidades compradas da Janssen, o país teria disponível mais de 320 milhões de doses.
Menos restrições, espera Cosems
Alcançar o percentual de 70% da população imunizada traria condições para algumas regras serem alteradas, em especial quanto ao uso de máscaras. Pelo menos é o que afirmou o presidente do Cosems do RS, Maicon Lemos, durante entrevista concedida nessa sexta-feira à Rádio A Hora 102.9 FM.
Para Lemos, a vacinação em massa possibilita a imunidade de rebanho. Frente ao cronograma de entrega do doses pelo Ministério da Saúde, o Cosens almeja uma distribuição suficiente para atender com a primeira dose a população com 45 anos neste mês.
No próximo mês, haveria condições para vacinar a faixa etária a partir dos 35 anos sem comorbidades, disse Lemos. Em seguida, para 25 anos e em setembro, qualquer gaúcho acima dos 18 anos. Essa estimativa traria o que chamou de “imunidade de rebanho”, o que quebraria o ciclo de contágios.
Pelo acompanhamento dos dados da covid no RS, Lemos frisa a necessidade de haver uma estratégia para priorizar pessoas mais suscetíveis a quadros graves. “Se olharmos os óbitos, vamos identificar que a grande maioria deles se deu na população acima de 50 anos com e sem comorbidades.” Essa condição faz com que o mês de junho seja dedicado para atender esse público, ressaltou.
“Estamos sonhando com o controle da pandemia em 2021”
Ainda que a possibilidade de vacinação até setembro seja animadora, o infectologista e professor da Univates, Guilherme de Campos Domingues, tem uma visão diferente. Três aspectos levam a essa posição: o controle às crianças, o movimento anti-vacina e as mutações do vírus.
“Estamos sonhando com o controle da pandemia em 2021. Espero que eu esteja errado, mas acho pouco provável.” De acordo com ele, o conceito de imunidade de rebanho é incerto frente ao comportamento do coronavírus. “Não se alcançou isso com a covid. A imunidade não é duradoura. Os anticorpos parecem não ficar muito tempo no organismo. Com a vacina, já sabemos que será necessário reforço todos os anos”, argumenta.
Mesmo no caso de vacinação em grande escala, Domingues destaca que as restrições sanitárias, de uso de máscaras e exigência de distanciamento social permanecerão no cotidiano da sociedade. “Qualquer pessoa com sintoma gripal, febre, tosse, vai seguir em alerta, precisando se afastar para evitar riscos de contágio.”
Uso de UTIs sobe 70% em uma semana
A ocupação hospitalar no Vale do Taquari permanece com uma tendência de elevação. Conforme o comitê de dados, em sete dias, de 26 de maio até essa quarta-feira, o crescimento foi de 70%.
“O cenário que projetávamos vem se confirmando. O vírus circula nas nossas cidades e é fundamental estarmos atentos a esse momento”, frisa um dos integrantes do comitê, o secretário da Fazenda de Lajeado, Guilherme Cé.
Pela análise do grupo, desde o dia 23 de maio há uma crescente nas internações clínicas, o que representa maior pressão sobre a UTI. Esse movimento acontece sete dias após a subida dos casos.
O percentual de pacientes com necessidade de atendimento hospitalar aumentou 31,2% na metade do mês passado e 33,3% entre o fim de maio e início de junho. Nos 19 hospitais que fazem parte da região de Lajeado, até quarta-feira havia 76 pacientes em leitos clínicos. Pelo histórico da pandemia, 30% destes precisarão de vagas na UTI.
Na quarta-feira, o Vale do Taquari recebeu o primeiro “A”, do sistema de monitoramento feito pelo governo Estadual. Se refere ao “Aviso”, em que se vislumbra uma tendência de alta no contágio, ocupação hospitalar e de óbitos.
Nesta etapa, a região não precisa comunicar ao governo gaúcho quais medidas serão adotadas. Ainda assim, o comitê de dados sugeriu aos prefeitos da região a suspensão de jogos coletivos e limitação no horário de atendimento noturno para bares e restaurantes.
“Não é uma imposição. Os prefeitos vão adaptar a recomendação conforme a realidade dos seus municípios. Caso seja emitido um “Alerta”, já antecipamos o procedimento que será adotado. Esse sim com medidas impositivas”, diz o assessor jurídico da Associação dos Municípios do Vale do Taquari, Juliano Heisler.