Em maio de 1893, o Theatro São João abria as portas, sem festas nem alarde. Na época, as batalhas da Revolução Federalista não permitiram uma inauguração a altura do investimento de membros da comunidade taquariense.
Mais de 120 anos depois, o teatro foi reinaugurado ontem, em evento online, com público restrito. Com capacidade para 244 pessoas, a reforma iniciou em 2018 e custou R$ 1,1 milhão. O recurso é proveniente da Lei de Incentivo a Cultura (LIC) e R$ 30 mil da administração municipal.
O presidente da Sociedade Cultural Theatro São João, Homero Cunha, destaca o envolvimento dos conselheiros e os produtores culturais que auxiliaram na busca pelo investimento.“Eu estou liderando um grupo muito bom. É um trabalho de equipe, trabalho de grupo que levou a gente a chegar neste ponto”, afirma.
Nos anos 90 e 2000, o teatro chegou a receber espetáculos. Muito do esforço era feito pelos artistas. Para fazer uma apresentação, era necessário levar cadeiras, fazer as cortinas e improvisar um palco. “Nós estávamos efetivamente carentes de um local que pudesse abrigar esse tipo de atividade. Agora nós temos plateia, sonorização, luz, cortinado. Com certeza vai ganhar um alento a arte cênica de Taquari”, celebra Cunha.
A coordenadora de Cultura, Sabrina Pereira de Freitas, salienta a riqueza de grupos artísticos no município. “Muitos grupos passaram por aqui. Ainda temos hoje grupos de teatro e de dança. São pessoas que não se deixaram abater por não ter um espaço”.
O município conta com a Companhia de Arte Jefferson Brandão, o Bailart, o CTG Pelego Branco e a Escola de Teatro Patrícia Sattler.
O passado
Na virada do século XIX para o século XX, o teatro recebia peças teatrais que ocorriam em Pelotas e Porto Alegre, maiores centros urbanos do estado na época. A ligação fluvial favorecia a chegada dos espetáculos por meio da Companhia de Navegação Arnt.
O local era denominado Sociedade Dramática Recreio Familiar, e em 22 de janeiro de 1930 passou a se chamar Sociedade Theatro São Pedro.
A época de ouro foi na década de 1940, que ainda está viva na memória de Wanda Saraiva Kern, 92. Ela fez parte da Companhia de Amadores Teatrais Anna Voges (CATAV), fundada em 1946.
Entre os espetáculos mais lembrados, a “Sinha Moça Chorou” e “A Esquina Perigosa”, dirigidos por Sofia Costa e Silva, irmã do ex-presidente General Artur da Costa e Silva.
“A última peça, A Esquina Perigosa, deu uma virada em Taquari. Era uma peça bem pesada. Naquela época a homossexualidade era uma coisa de outro mundo. Era um casal que ele gostava de um, e esse um gostava de outra”, relembra.
Outro grupo marcou as décadas de 60 e 70. O Teatro de Amadores Taquariense (TAT) manteve a cultura cênica do município.
Nos anos 1990, um grupo liderado pelo poeta Flávio Klein também utilizou o espaço cultural. Entre os atores, estava o atual prefeito André Brito.
Próximos passos
Após a pandemia, o chefe do Executivo quer aproveitar a estrutura para promover festivais de teatro.
“Tão logo termine essa pandemia a nossa ideia é criar os festivais municipais estudantis de teatro. Através da arte da cultura nós podemos formar cidadãos e caráteres. E quem sabe, ali na frente, estabelecermos um festival regional de teatro”, projeta Brito.
A parte de trás do Theatro São João tem vista para a Lagoa Armênia. O local terá um memorial do teatro, uma sala menor para pequenos eventos, apresentações e palestras.
No projeto ainda consta uma lancheria ou restaurante, que será locado com objetivo de manter o teatro.
Como funciona a LIC
Produtores culturais captam recursos para propostas de cultura aprovadas por uma comissão da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.
Os valores são oriundos do Imposto de Renda de pessoas físicas e jurídicas. O governo abre mão do imposto (renúncia fiscal) para que ele seja direcionado à realização de atividades culturais.