A lajeadense Solange Leonhardt, 67, carrega na bolsa dois casacos pequenos de tricô. Antes de sair de casa, eles ainda não possuem um destino certo, mas sempre chegam no colo de mães que cruzam por ela na rua, e que precisam de roupa para os filhos. A peça não é cobrada. O pagamento é o sorriso no rosto de quem recebe a doação.
“Esses dias fui na minha irmã e vi uma mãe entrando numa van escolar. Atravessei a rua e pedi quantos anos o bebê dela tinha e se ela aceitava um presente meu. O marido escolheu um dos casaquinhos, mas ela não podia pagar e ficou surpresa quando eu disse que não precisava”, conta a aposentada.
No ano passado, quando as lojas de lãs abriam, ela comprava o produto em grande quantidade para não faltar, e passava os dias tricotando. Foi nesse período que começou a levar as peças na bolsa para distribuir.
Solange aprendeu a prática ainda jovem, com a mãe, mas faz cerca de 30 anos que esse se tornou um passatempo diário. Com a confecção de uma peça por dia, as gavetas da sala estão sempre cheias de roupas destinadas à Liga Feminina de Combate ao Câncer, aos hospitais da região, ou às pessoas que ela encontra na rua. Mesmo com a grande quantidade de peças, ela nunca vendeu uma unidade do que produziu.
“Fico tão feliz em ver a cara de admiração que as mães fazem quando veem os casaquinhos, isso me motiva a continuar. Eu nunca quis vender as roupas, meu objetivo sempre foi doar”.
Há alguns anos ela também participou de um grupo de mulheres que confeccionava mantas vendidas pela Liga Feminina de Combate ao Câncer. Na casa dela, hoje, há 14 golas que também serão destinadas aos pacientes da Liga.
Com agulha e lã nas mãos, Solange gosta de trabalhar à noite, ao lado do marido que senta na sala para conversar ou assistir ao programa de tv preferido do casal. Apesar de se dedicar à prática desde a adolescência, foi depois de passar um período em Porto Alegre e voltar à Lajeado que a atividade tomou conta de seus dias.
Na época, as filhas ainda eram crianças e recebiam casacos e blusões feitos pela mãe. Agora é a vez dos netos. Algumas peças, inclusive, foram enviadas para a Finlândia para o neto de pouco mais de um ano que vive lá com os pais.
“Esses casaquinhos quem me ensinou foi a minha irmã, faço um por dia. Quando tenho dez, daí costuro e coloco os botões”, explica. Quando alguma amiga precisa de uma peça, ela também se prontifica a ajudar e gosta de ver as crianças vestindo as roupas que ela fez.
Além dos casacos, já tricotou muitos cachecóis, polainas e blusões de lã. Ela perdeu as contas de quantas peças já produziu, mas muitas famílias já receberam suas doações.