Queda de 60% no número de passageiros ameaça sistema

Transporte público

Queda de 60% no número de passageiros ameaça sistema

Subsídio na tarifa e isenção de imposto são propostas para atenuar dificuldades. Governo e empresa renegociam termos para evitar tarifa acima dos R$ 7. Entendimento é que preço inviabilizaria o serviço. Proposta do governo prevê aumento da passagem de R$ 3,90 para R$ 4,50

Queda de 60% no número de passageiros ameaça sistema
A frota de ônibus para o serviço em Lajeado foi definida para 34 veículos. Hoje, 22 estão em operação. Projeto de subsídio na passagem e isenção de imposto podem ser votadas na noite desta terça (Foto: Filipe Faleiro/Arquivo A Hora)
Lajeado

A pandemia é apontada como o principal fator à queda no número de passageiros nos ônibus em Lajeado. Pela expectativa da concessão, dos mais de 160 mil passageiros por mês, a média de está abaixo de 68 mil usuários.

Junto com isso, todos os custos de operação subiram. O principal indicador para reajuste da tarifa, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), tem uma alta acumulada de 37,4%. Em junho completa o primeiro ano da Expresso Azul como concessionária do transporte público. Por contrato, seria necessário uma revisão da tarifa.

Caso os patamares atuais dos custos de operação fossem repassados ao usuário, o preço da tarifa sairia de R$ 3,90 para mais de R$ 7. “Um aumento desse inviabilizaria o transporte coletivo na cidade”, admite o secretário da Fazenda de Lajeado, Guilherme Cé.
A partir disso, Executivo e empresa renegociam os termos do contrato. Tanto que dois projetos foram elaborados para atenuar os prejuízos à concessionária. O primeiro aspecto foi estabelecer uma tarifa viável.

De acordo com Cé, se chegou a uma passagem urbana de R$ 5. Em cima desse valor base, o município aceita subsidiar a tarifa em R$ 0,50 por seis meses. Neste cálculo, o aumento para o usuário seria pouco maior do que 15% ao usuário.

Para os cofres públicos, o subsídio emergencial custaria R$ 271,8 mil. Com isso, o passageiro teria uma passagem de R$ 4,50.
Outro projeto se refere a isenção do Imposto Sobre Serviço (ISS). Com isso, a empresa não precisaria recolher o tributo por um ano. Pelos cálculos da Secretaria da Fazenda, o impacto orçamentário para o município alcançaria pouco mais de R$ 106 mil.

Votação no Legislativo

As duas propostas estão em análise pelos vereadores. Os textos foram encaminhados na semana passada em regime de urgência. Na tarde de ontem, o assunto foi tema de reunião nas comissões parlamentares.

De acordo com o presidente da câmara, Isidoro Fornari (Progressistas), as matérias devem ser levadas à votação em plenário na sessão de hoje. “Vemos que há reclamações de passageiros, pela redução de linhas. E também da empresa, por ter menos usuários. É uma situação preocupante, pois a concessionária não consegue se sustentar pelo modelo que foi proposto”, argumenta.

Na avaliação do parlamentar, é preciso encontrar mecanismos para reduzir os prejuízos. “Se algo não for feito, a empresa vai falir ou rescindir o contrato. Isso não é bom para ninguém.”

Tornar o modelo sustentável

Essa é o principal desafio do sistema de transporte coletivo. Ter equilíbrio entre despesas para manter as rotas com a receita das passagens. “Quando fizemos a licitação, nosso intuito era corrigir problemas históricos do transporte público. No entanto, não sabemos se isso gerou efeito positivo ou negativo. Não há como avaliar o novo sistema em meio a pandemia”, argumenta o secretário da Fazenda de Lajeado, Guilherme Cé.

Pela tabulação da empresa, os horários com mais passageiros vão das 6h às 8h. À tarde, há mais procura entre às 16h até as 19h. O diretor da empresa participou de reunião com os vereadores na tarde de segunda-feira.

Devido a pandemia, também há uma série de protocolos sanitários para serem atendidos. Os coletivos podem rodar com no máximo 60% da ocupação. Representa o máximo de 54 pessoas por ônibus.

Nos melhores horários, a média de passageiros fica entre 30 a 45 pessoas. Caso esse número fosse uniforme, haveria melhores condições de sustentabilidade do negócio.

Segundo Guarnieri, a empresa foi muito prejudicada pela diminuição do número de passageiros e acumula prejuízos. “Temos um déficit grande e estamos fazendo uma ginástica para manter o mínimo possível da operação.”

Pensado para cada cidade

O urbanista e professor Augusto Alves destaca a importância do planejamento para estruturação de um sistema de transporte coletivo. “Cada cidade tem sua peculiaridade. Em municípios com alta densidade demográfica, costuma-se ter melhores condições. No caso de Lajeado, temos bairros periféricos espalhados.”

Essa condição, afirma, faz com que seja necessário mais deslocamentos, o que traz mais custos à empresa. Junto com isso, Lajeado se caracteriza por um alto índice de motorização. Estima-se que ultrapasse os 0,7 veículo por habitante. “Há uma questão cultural. Por comodidade, as pessoas preferem usar o veículo próprio. Isso pesa sobre o transporte coletivo. Essas questões fazem com que, em tese, a cidade não dê condições para a sustentabilidade do sistema.”

De acordo com ele, um modelo eficiente e sustentável torna a mobilidade urbana mais racional, pois evita uma grande concentração de veículos individuais, com menos engarrafamentos e poluição.

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