Como uma idosa de Imigrante recebeu três vacinas da covid

VACINADA POR ENGANO

Como uma idosa de Imigrante recebeu três vacinas da covid

Vilma Lucian Rufatto relembra erro cometido em posto de saúde de Imigrante. Fato ganhou repercussão nacional na sexta-feira

Como uma idosa de Imigrante recebeu três vacinas da covid
Arquivo
Vale do Taquari

Já imunizada com duas doses da CoronaVac, a moradora do distrito de Daltro Filho, em Imigrante, Vilma Lucian Rufatto, 72, recebeu uma terceira dose da vacina contra a Covid-19, na sexta-feira, dia 14, por engano. Dessa vez, da AstraZeneca.

Ela chegou à Unidade Básica de Saúde da localidade entre 13h30 e 14h, para receber a aplicação da vacina da gripe, três semanas de­pois de ter tomado a segunda dose da CoronaVac, no dia 19 de abril.

“A moça me atendeu, viu a carteirinha e anotou. Ela fez a vacina e quando terminou me pediu se aquela tinha sido a se­gunda dose. Eu disse que estava lá para fazer a vacina da gripe, ela ficou sem chão, eu também me assustei”, relata.

Em seguida, a responsável da unidade conversou com Vilma e a alertou sobre possíveis reações. “Como isso não é muito comum, ninguém sabia bem o que podia acontecer. Depois me procura­ram, veio a responsável da unida­de para saber como eu estava, o secretário me ligou, até o prefeito, foram bem atenciosos. Eles me li­gam todos os dias pra saber como estou”, conta.

Ainda na sexta-feira à noite, Vilma teve reações como calafrios e dores nas pernas. As recomen­dações dos profissionais de saúde foram que ela comunicasse se sen­tisse algo além dos sintomas já co­nhecidos pelas reações da Astra­Zeneca, mas a tranquilizaram que não haveria problemas maiores.

“Não queria que tivesse tan­ta repercussão, mas as pessoas acharam curioso e vinham me perguntar. Agora já estou bem, trabalhando em casa e esperando a vacina da gripe daqui algumas semanas”, afirma.

 Orientações da saúde

Segundo a secretária de saú­de do município, Joice Cristina Horst, a aplicação de uma dose da vacina AstraZeneca foi feita por engano por uma enfermeira que havia começado no mesmo dia na unidade. A profissional era contratada de uma empresa terceirizada. “A empresa enviou uma nota se responsabilizando pelo ocorrido”, explica a secre­tária. A profissional que aplicou a dose já foi substituída na UBS.

Assim que a aplicação incor­reta foi percebida, a Secretaria da Saúde entrou em contato com Vilma e segue monitoran­do a situação diariamente. Em contato com a 16ª Coordena­doria Regional de Saúde, a pre­feitura recebeu a orientação de que a moradora estaria apenas mais imunizada, sem ter maio­res problemas.

Segundo a secretária, a fun­cionária era responsável apenas pelas aplicações da vacina con­tra a Covid. “No nosso ponto de vista foi um erro de comunica­ção, e talvez falta de atenção da profissional. Ela estaria acom­panhada por outra funcionária do quadro de contratados por essa empresa, mas no momento da aplicação estava sozinha”, afirma Joice.


“Lamentamos o ocorrido porque alguém poderia ter se beneficiado com essa dose”

Entrevista com Ney Raffin

Médico imunologista afirma que a aplicação da terceira dose da vacina contra a covid-19 não é um problema para quem a recebe, e pode reforçar a imunização. No entanto, como duas doses do imunizante já seriam suficientes, ele lamenta o erro, já que a vacina poderia ser destinada a outra pessoa.

Existem poucos estudos sobre o assunto, mas o que se pode esperar de uma aplicação de três doses da vacina contra a Covid-19? Como o organismo pode reagir?

Quando o laboratório faz um plano, isso tudo é estudado desde o início, e culmina no sistema de vacinação. O fato de ela receber uma dose adicional da outra vacina não significa que ocorram problemas, pode até ter uma carga maior de imunidade, mas não temos estudos sobre isso. Lamenta­mos o ocorrido porque alguém poderia ter se beneficiado com essa dose. Referente a reação que ela teve, a CoronaVac é feita com o vírus inativo. Já a de Oxford, a As­traZeneca, é feita com o adenovírus vivo, que não tem capacidade de causar infecções, mas pode resultar em sintomas típicos de virose. Isso é um efei­to comum que não está ligado à vacinação adicional.

Foram aplicadas duas doses da CoronaVac e uma da AstraZeneca. Isso pode ocasionar algum tipo de pro­blema?

Não tem problema. A gente sabe que a eficácia da imuniza­ção da CoronaVac é de 50,6% dos casos, alguns não conse­guem criar anticorpos. Então ela tem ainda uma chance de 50% de pegar a infecção. Mas se tiver um paciente que fez a vacina e depois de um e mês e meio não tivesse anticorpos, teoricamente poderia fazer outra vacinação que funcionas­se, mesmo que fosse de outro laboratório. Mas não é o que se faz.

Essa terceira dose pode comprometer a imunização ou reforçar?

Melhora, porque ela tem a chance da imunização da Coro­naVac, mais a proteção inicial da Oxford. Teoricamente ela até se beneficiou. Mas a gente não faz duas vacinas numa mesma pessoa, porque se supõe que a primeira seja suficiente. Se com duas doses já temos essa proteção, por que eu vamos nos submeter a uma terceira ou quarta dose? Esse seria o reforço, tu tem a vantagem de fazer a cobertura ideal, mas injetar a mais não muda essa imunização, por isso é feito todo um estudo prévio.

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