Do cenário de otimismo com a economia em 2021 até a instabilidade para o fim do primeiro semestre. Janeiro e fevereiro foram meses de recorde nos indicadores, como mostra o Índice de Atividade Econômica (IBC), do Banco Central. Já março, a atividade no estado recuou 1%. Para analistas, essa é uma tendência para os próximos períodos.
“O indicador mostra que tínhamos uma perspectiva positiva. Esse cenário mudou e a previsão agora não é a que gostaríamos”, avalia a economista Fernanda Sindelar. Uma conjunção de fatores interferem sobre os resultados econômicos. Passam pelo avanço da pandemia em março até metade de abril, a desvalorização da moeda brasileira no mercado internacional, redução do consumo interno e os custos de produção à indústria.
“Tanto consumidores como empresas estavam otimistas quanto a amenização da emergência sanitária, mas a pandemia piorou, o que desmobilizou esse ânimo. Vejo que o Vale do Taquari, por ter uma economia diversificada e dinâmica, tem reagido mais rapidamente quando identifica oportunidade de expansão dos negócios. Porém, não estamos imunes quando há revés”, destaca o economista Eloni Salvi.
Para ele, se não houver um novo ciclo de restrição sanitária, o Vale tem condições de vivenciar uma expansão econômica no segundo semestre deste ano. Essa perspectiva de reação a partir de julho também é compartilhada por outra economista. Na avaliação de Cintia Agostini, é preciso verificar o movimento dos diferentes setores.
Na economia nacional e gaúcha, a exportação de commodities traz resultados positivos para o agronegócio de grande escala. “No entanto, vemos insumos agropecuários em falta para nossas atividades. Isso tem um peso muito grande sobre o Vale do Taquari, em especial devido ao milho”, afirma.
Com o custo de produção nas cadeias de aves, suínos e leite, há uma desmobilização das indústrias. “Uma reversão depende do preço no mercado internacional”. Diante dos aumentos da inflação sobre os alimentos, também não há como repassar esses aumentos ao consumidor, destaca Cintia.
O IBC é considerado a prévia do PIB. Os dados gaúchos no início deste ano apontam um avanço de 11,2% no primeiro trimestre. Acima dos 2,9% vistos no país. Esse salto positivo superior do RS se refere a comparação com o mesmo período de 2020, quando o RS sofria os impactos da seca.
Isenções em debate com o presidente
Nesta semana, a Câmara da Indústria e Comércio do Vale (CIC-VT) recebeu um ofício da Secretaria Geral da presidência da República, referente a crise no setor do agro, em especial na cadeia de produtores integrados. Os representantes da região destacam como fundamental atender as demandas da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Entre os pedidos, a autorização para importação de milho transgênico dos EUA para uso na ração animal até o fim do ano; isenção temporária da cobrança de PIS e COFINS sobre o custo do frete nas operações interestaduais de transporte de grãos; e a ampliação do acesso a crédito para armazenagem voltado às agroindústrias e cooperativas de proteína animal.
Conforme o presidente da CIC-VT, Ivandro Rosa, o documento da Secretaria Geral da Presidência reforçou o pleito para adoção de medidas emergenciais. “Aguardamos uma agenda para os próximos dias, entre ABPA e Ministério da Agricultura”, diz.
ECONOMISTAS ANALISAM ATUAL CENÁRIO
Eloni Salvi, Fernanda Sindelar e Cintia Agostini destacam momento complexo para o tripé regional (aves, suínos e leite) e opinam sobre como o Vale pode contribuir para a retomada econômica do RS.
“No momento, o seto alimentício está sendo impactado negativamente pelo aumento do preço do milho e da soja, por decorrência dos baixos estoques mundiais destes grãos. Neste caso, o setor da proteína animal não terá outra alternativa que buscar reajustar os preços, para manter o máximo de produção. Isto pode acabar por reduzir o consumo e a produção. É um setor vital para o Vale, e como a próxima safra destes grãos se dará somente no ano que vem, vejo que o cenário de preços altos continuará.”
Eloni Salvi
“O Vale é uma região agroexportadora. O que precisamos continuar tentando é desenvolver esse potencial e torcer pela recuperação do setor de aves, principalmente. Também temos diversos outros segmentos importantes. Na indústria de móveis, candies e bebidas. Estes precisam de segurança para continuar operando para avançar e recuperar o tempo perdido. Nos serviços, há uma insegurança muito grande, pois está muito vinculado à situação da pandemia e às restrições.”
Fernanda Sindelar
“Temos diferentes comportamentos quando olhamos para os setores. Naqueles ligados aos eventos, ao lazer, entretenimento, há condições muito difíceis. Mais de um ano sofrendo devido a pandemia. Na indústria química, moveleira e confecções, percebe-se uma retomada. Já os alimentos, em especial no tripé suínos, aves e leite, tivemos no ano passado condições positivas. Agora, toda essa cadeia é afetada. Isso vai interferir sobre todo o agro. O Vale só poderá contribuir se conseguir minimizar o impacto dos custos de produção.”
Cintia Agostini