1º trimestre no positivo antecede instabilidade

índice de atividade econômica

1º trimestre no positivo antecede instabilidade

Economia gaúcha cresceu 11,2% nos primeiros três meses do ano. No entanto, redução no consumo interno, alta nos custos de produção e restrições devido à pandemia indicam tendência de baixas consecutivas para próximo trimestre. No Vale do Taquari, indústria alimentícia convive com crise de insumos, o que interfere no ritmo de produção

1º trimestre no positivo antecede instabilidade
Aumento dos custos de produção impacta sobre setor primário.Indústrias reduzem alojamentos de aves e produtores amargam perda de renda CRÉDITOS: Felipe Neitzke
Vale do Taquari

Do cenário de otimis­mo com a econo­mia em 2021 até a instabilidade para o fim do primeiro semestre. Janeiro e fevereiro foram me­ses de recorde nos indicado­res, como mostra o Índice de Atividade Econômica (IBC), do Banco Central. Já março, a atividade no estado recuou 1%. Para analistas, essa é uma tendência para os próximos períodos.

“O indicador mostra que tí­nhamos uma perspectiva po­sitiva. Esse cenário mudou e a previsão agora não é a que gostaríamos”, avalia a econo­mista Fernanda Sindelar. Uma conjunção de fatores interfe­rem sobre os resultados econô­micos. Passam pelo avanço da pandemia em março até meta­de de abril, a desvalorização da moeda brasileira no merca­do internacional, redução do consumo interno e os custos de produção à indústria.

“Tanto consumidores como empresas estavam otimistas quanto a amenização da emer­gência sanitária, mas a pan­demia piorou, o que desmobi­lizou esse ânimo. Vejo que o Vale do Taquari, por ter uma economia diversificada e di­nâmica, tem reagido mais ra­pidamente quando identifica oportunidade de expansão dos negócios. Porém, não estamos imunes quando há revés”, des­taca o economista Eloni Salvi.

Para ele, se não houver um novo ciclo de restrição sani­tária, o Vale tem condições de vivenciar uma expansão eco­nômica no segundo semestre deste ano. Essa perspectiva de reação a partir de julho tam­bém é compartilhada por ou­tra economista. Na avaliação de Cintia Agostini, é preciso verificar o movimento dos di­ferentes setores.

Na economia nacional e gaú­cha, a exportação de commo­dities traz resultados positivos para o agronegócio de grande escala. “No entanto, vemos in­sumos agropecuários em falta para nossas atividades. Isso tem um peso muito grande so­bre o Vale do Taquari, em espe­cial devido ao milho”, afirma.

Com o custo de produção nas cadeias de aves, suínos e leite, há uma desmobilização das indústrias. “Uma reversão depende do preço no mercado internacional”. Diante dos au­mentos da inflação sobre os alimentos, também não há como repas­sar esses aumentos ao consumidor, destaca Cintia.

O IBC é considerado a prévia do PIB. Os da­dos gaúchos no início deste ano apontam um avanço de 11,2% no primeiro trimes­tre. Acima dos 2,9% vistos no país. Esse salto positivo supe­rior do RS se refere a compa­ração com o mesmo período de 2020, quando o RS sofria os impactos da seca.

Isenções em debate com o presidente

Nesta semana, a Câmara da Indústria e Comércio do Vale (CIC-VT) recebeu um ofício da Secretaria Geral da presidên­cia da República, referente a crise no setor do agro, em es­pecial na cadeia de produtores integrados. Os representantes da região destacam como fun­damental atender as deman­das da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Entre os pedidos, a autori­zação para importação de mi­lho transgênico dos EUA para uso na ração animal até o fim do ano; isenção temporária da cobrança de PIS e COFINS sobre o custo do frete nas ope­rações interestaduais de transporte de grãos; e a ampliação do acesso a crédito para armazena­gem voltado às agroin­dústrias e cooperativas de proteína animal.

Conforme o presi­dente da CIC-VT, Ivan­dro Rosa, o documento da Se­cretaria Geral da Presidência reforçou o pleito para adoção de medidas emergenciais. “Aguardamos uma agenda para os próximos dias, entre ABPA e Ministério da Agricul­tura”, diz.


ECONOMISTAS ANALISAM ATUAL CENÁRIO

Eloni Salvi, Fernanda Sindelar e Cintia Agostini destacam momento complexo para o tripé regional (aves, suínos e leite) e opinam sobre como o Vale pode contribuir para a retomada econômica do RS.

“No momento, o seto alimentício está sendo impactado negativamente pelo aumento do preço do milho e da soja, por decorrência dos baixos estoques mundiais destes grãos. Neste caso, o setor da proteína animal não terá outra alternativa que buscar reajustar os preços, para manter o máximo de produção. Isto pode acabar por reduzir o consumo e a produção. É um setor vital para o Vale, e como a próxima safra destes grãos se dará somente no ano que vem, vejo que o cenário de preços altos continuará.”

Eloni Salvi

“O Vale é uma região agroexportadora. O que precisamos continuar tentando é desenvolver esse potencial e torcer pela recuperação do setor de aves, principalmente. Também temos diversos outros segmentos importantes. Na indústria de móveis, candies e bebidas. Estes precisam de segurança para continuar operando para avançar e recuperar o tempo perdido. Nos serviços, há uma insegurança muito grande, pois está muito vinculado à situação da pandemia e às restrições.”

Fernanda Sindelar

“Temos diferentes comportamentos quando olhamos para os setores. Naqueles ligados aos eventos, ao lazer, entretenimento, há condições muito difíceis. Mais de um ano sofrendo devido a pandemia. Na indústria química, moveleira e confecções, percebe-se uma retomada. Já os alimentos, em especial no tripé suínos, aves e leite, tivemos no ano passado condições positivas. Agora, toda essa cadeia é afetada. Isso vai interferir sobre todo o agro. O Vale só poderá contribuir se conseguir minimizar o impacto dos custos de produção.”

Cintia Agostini

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