Estrela restaura escadaria histórica

Orla do rio Taquari

Estrela restaura escadaria histórica

Obra resgata um dos espaços mais importantes para o comércio do município nos séculos XIX e XX. Projeto é mais uma etapa da reestruturação da orla do Rio Taquari, iniciada há seis anos

Estrela restaura escadaria histórica
Após o aniversário de Estrela, está prevista a instalação de um painel em 3D com a imagem da antiga escada (Foto: Carlos Eduardo Schneider)
Vale do Taquari

Por quase 100 anos, a Escadaria do Zigue-zague foi uma das vias mais movimentadas de Estrela. O local era o caminho mais curto do Centro ao rio Taquari, onde chegavam as mercadorias.

Parte da estrutura foi reformada e será inaugurada amanhã, quando o município celebra 145 anos.

O projeto faz parte de um complexo cultural, que abrange o memorial de Estrela, a praça Menna Barreto, a galeria de arte nas paredes do prédio da Polar e a outra escadaria, da rua Arnaldo José Diel. O trabalho iniciou, em 2015, no governo de Celso Brönstrup (2005-2012) e busca valorizar a história de locais fundamentais ao desenvolvimento da cidade.

O pesquisador Airton Engster destaca a importância do Zigue-zague na origem do município. “Chegar até o porto era o mesmo que ir ao supermercado. Tudo era motivo para ir ao rio, desde lavar roupa, tomar banho, pescar, passear de barco e viajar”.

De acordo com João André Mallmann (“Jam Brasil”), também pesquisador, a estrutura, na extensão da rua Treze de Maio, tinha relevância logística. “A rua Coronel Flores é muito íngreme. As malas e mercadorias, que vinham de Porto Alegre, eram carregadas nas costas. O formato da escada ajudava”.

Em 1964, a ampliação da fábrica da Polar se estendeu por algumas ruas e avançou sobre parte da Escadaria do Zigue-zague. Um dos motivos foi a construção da BR-386. Com a Estrada da Produção, o transporte hidroviário foi preterido.

“Minha vida era entrelaçada com o Zigue-zague”

Maria Fani Scheibel, 78, viveu por 40 anos ao lado da escada. “Nós morávamos basicamente dentro. Tomávamos chimarrão na sacada do Zigue-zague”, relata a professora aposentada.

Ela conta sobre a movimentação da rua e lembra idas à padaria, na parte baixa da cidade, com amigas. “Logo após o Zigue-zague, caminhávamos com cuidado sobre os cascos das garrafas da Polar”.

Maria Fani exibe a foto dos pais, André e Maria Scheibel na escadaria (Foto: Carlos Eduardo Schneider)

Maria Fani recorda da ruptura no convívio com os vizinhos após a ampliação da fábrica, porém reconhece a importância da iniciativa para o município gerar empregos e arrecadar impostos. “A paralisação dos transeuntes deu um corte em nós porque tínhamos uma relação afetiva com o pessoal que morava lá embaixo. Mas era um momento importante para o desenvolvimento da cidade”.

Maria Fani relembra ainda das festas da rua Treze de Maio – da qual foi rainha –, do grande número de visitantes que chegavam em balsas vindas do Paço da Estrela, em Cruzeiro do Sul, e dos banhos de rio na praia da cascalheira.

Após a construção da barragem em Bom Retiro do Sul, a praia foi escondida pelo nível mais alto da água. Moradores da região inauguraram, em 1979, o monumento do Cascalho, para relembrar o local de lazer. Em 1961, o grupo havia assinado um documento contrário a expansão da fábrica.

Junto a uma grande pedra retirada do fundo do rio, foi instalada uma placa com os dizeres “Homenagem da Rua 13 de Maio à comunidade que anseia reconquistar seu Rio”.

Próximos passos

Outras etapas para a reforma da Escadaria do Zigue-zague ainda estão previstas.

Para o aniversário do município, foram reformadas a varanda, o canteiro de flores e o monumento do cascalho.

De acordo com a secretária de Cultura, Esporte e Lazer, Carine Schwingel, após o aniversário será feito um painel em 3D com a imagem do antigo Zigue-zague. “A pessoa vai ter, do início da escada, a impressão de que vai poder caminhar até o fim da escada”, revela.

A previsão para o término da obra é de dois meses.

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