Vale tenta controlar pandemia e consolidar aulas presenciais

Novo sistema

Vale tenta controlar pandemia e consolidar aulas presenciais

Com mais autonomia, região organiza estratégia com objetivo de garantir continuidade das atividades econômicas e de ensino. Modelo de alertas é considerado mais justo por autoridades políticas e representantes do setor produtivo

Vale tenta controlar pandemia e consolidar aulas presenciais
Comitê técnico da região elabora formato de controle da pandemia. Ideia é usar métricas no primeiro atendimento de pacientes com suspeita ou confirmação de contágio, antes de internação clínica ou na UTI (Foto: Filipe Faleiro)

Com indicadores estáveis em termos de contágios e ocupação de leitos, o Vale do Taquari avalia como o sistema de alertas criado pelo governo estadual pode ser implementado. A discussão começou na tarde de ontem, a partir de reunião da Associação dos Municípios (Amvat).

Já na quarta-feira é a vez do comitê técnico, que reúne analistas de dados e profissionais de saúde. Neste encontro, a perspectiva é estabelecer as métricas para adoção de medidas, afirma o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo. “Nossa ideia é acompanhar os números já no primeiro atendimento, a partir da procura de pessoas com sintomas nos postos de saúde, na UPA e nos hospitais.”

Esse indicativo, avalia Caumo, pode ser usado para antecipar a necessidade de leitos ambulatoriais e de UTI em caso de novo avanço da pandemia. “Nosso objetivo é ter menos riscos de novos fechamentos das atividades produtivas e de consolidar as aulas presenciais.”

O novo modelo gaúcho de enfrentamento da pandemia foi apresentado pelo governador Eduardo Leite na sexta-feira passada. Trata-se de um sistema de gestão compartilhada, em que a tomada de decisão é feita por cada uma das 21 regiões.

Ao invés dos cálculos de 11 critérios para definir bandeiras de risco, o Piratini criou o modelo chamado de “3As” (Aviso, Alerta e Ação). Por meio de análises diárias, o grupo técnico e o comitê de dados do Executivo comunicam a situação das localidades.

Três análises

Segmentos da sociedade regional ligados ao poder público, às empresas e profissionais de saúde, dividem opiniões sobre o formato compartilhado. Por um lado traz mais flexibilidade. Em outro, preocupa a interferência política quando houver a necessidade de medidas mais restritivas.

“Sempre fomos favoráveis à gestão regional. Inclusive nos posicionamos contra a própria Famurs, que não queria a responsabilidade sobre os prefeitos. Acreditamos que o controle da pandemia é mais eficaz e eficiente dentro dos municípios. Agora cabe saber se os prefeitos terão a articulação para estabelecer um sistema viável. Em um primeiro momento, acreditamos que sim”, frisa o presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), Ivandro Rosa.

Para o presidente da Federação das Associações dos Municípios do RS (Famurs), Emanuel Hassen de Jesus, o Maneco, Executivo gaúcho repassou a pressão das decisões sobre a pandemia. “Os prefeitos não têm como transferir essa responsabilidade e o governo simplesmente determinou. Desde o anúncio, não tivemos a oportunidade de avaliar se concordamos ou não.”

O infectologista e professor da Univates, Guilherme de Campos Domingues, destaca que mesmo no sistema anterior, já havia uma tentativa de individualizar as regiões e, mesmo assim, era comum haver distorções. “Encontrávamos municípios que não tinham uma situação compatível com a de vizinhos, tendo que adotar medidas restritivas por vezes desnecessárias. Como resultado, se ingressava com pedidos de reconsideração da bandeira.”

Para ele, o novo sistema tem condições de pormenorizar as análises para que se adote medidas mais adequadas tendo em vista a realidade local. “Acredito que se as prefeituras seguirem mantendo o grau de seriedade que encontramos até agora, não haverá maior risco.”

Reunião entre prefeitos

Na tarde de segunda-feira, 17, a Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) promoveu assembleia com os gestores da região. Conforme o presidente da entidade, o prefeito de Santa Clara do Sul, Paulo Kohlrausch, o encontro teve como principal propósito ampliar o entendimento sobre o novo sistema dos “3As”.

“O decreto saiu na madrugada de sábado para domingo. Neste momento, precisamos ter cautela e avaliar com profundidade a atuação dos prefeitos”, destaca. De acordo com ele, ao mesmo tempo em que os prefeitos têm mais autonomia, também se elevou muito o grau de responsabilidade dos gestores municipais.

As propostas de liberação para jogos, quadras esportivas e eventos foram parte do debate entre os prefeitos. Conforme Kohlrausch, cada município se comprometeu em elaborar uma análise das condições para alguma mudança. Um novo encontro foi agendado para sexta-feira.

“Estamos nos embasando na sugestão do comitê técnico da região, pois hoje julgamos ter pouco domínio do novo sistema para já autorizarmos reaberturas”, resume o prefeito de Santa Clara.

Primeiros alertas

Das 21 regiões gaúchas, o grupo de trabalho Saúde indicou ao gabinete de crise do RS a emissão de alerta para as regiões de Santo Ângelo, Ijuí, Passo Fundo, Cruz Alta e Cachoeira do Sul.

Esse movimento é o segundo nível do novo sistema. Pelos dados do boletim epidemiológico, as regiões apresentam alto grau de comprometimento da estrutura hospitalar. Em algumas localidades, a ocupação da UTI já ultrapassa os 100%, como é o caso de Cachoeira do Sul.

Além das cinco regiões em situação preocupante, outras sete também apresentam aumento nos contágios e receberão o aviso de que é preciso atenção (Santa Maria, Pelotas, Caxias do Sul, Uruguaiana, Santa Rosa, Palmeira das Missões e Santa Cruz do Sul).

Boletim do Vale do Taquari

Pela análise do grupo de Saúde, a região apresenta uma incidência de contágios abaixo da média do Estado. Nos últimos sete dias, o RS soma 224,4 novos casos para 100 mil habitantes. Já no Vale do Taquari, o número é de 162.

A região já teve quase o dobro da incidência gaúcha de novos casos. Em março, para cada 100 mil habitantes, eram 824 contágios no Vale. No restante do RS, a média era de 464 casos.

Quanto aos óbitos, a região também está com média abaixo do restante do RS. Conforme dados do boletim de segunda-feira, para cada 100 mil habitantes, a taxa de mortes era de 3,4, ante 6,5 do RS.

Acompanhe
nossas
redes sociais