Cátia Carina de Oliveira foi de motocicleta até a Unidade Básica de Saúde (UBS) de Santa Clara do Sul, em 2019, para saber o resultado do exame que diagnosticaria as causas dos sintomas que ignorou por meses. Pensava que o cansaço, os hematomas no corpo e os sangramentos pudessem ser por conta da medicação para um problema cardíaco. “A gente sempre deixa para última hora, prefere trabalhar do que buscar atendimento”.
Ela estacionou na frente da UBS, deixou a mochila na sala de atendimento e de lá, assustada, saiu de ambulância para ficar seis meses longe de casa. A partir daí teve que enfrentar a leucemia mieloide aguda, uma doença bastante rara para quem recém havia completado 30 anos. “Chorei durante todo o trajeto para o hospital”, declara Cátia, que lembra ter se perguntado diversas vezes por que isso acontecia com ela, até entender, ainda na ambulância, que de fato isso pode acometer qualquer um e a qualquer momento: ‘Se acontece com crianças e idosos, por que não comigo’?
Assim que chegou foi direto para a transfusão de sangue, e logo mais passou a se submeter às constantes quimioterapias. A dor pelo tratamento, o medo da morte e a baixa autoestima pela perda dos cabelos a acompanharam ao longo desses anos.
Cátia se emociona ao lembrar da importância da Liga Santa-Clarense de Combate ao Câncer para que ela superasse muitos desafios, e admite, levou meses para se abrir para o processo de receber o apoio. “No início eu achava que tinha que fazer tudo sozinha. Mesmo sem o salário de vendedora, e com o marido perdendo carga horária no trabalho, recusava ajuda porque entendia que outros poderiam precisar mais do que ela”, declara. “Depois entendi que, além da ajuda financeira para suplementos e exames, a gente precisa de apoio psicológico e de muitas outras coisas”.
Um dos gestos da Liga ela guarda com carinho na memória, e faz questão de compartilhar. Em um Natal, recebeu um presente especial na porta de sua casa: um pacote com bolachas pintadas feitas pelas voluntárias. “Algo simples, mas que para mim teve fundamental importância pelo carinho. Eu não esperava”. Ela agradece muito à Liga, em especial à presidente, Helena Herrmann. “Sempre que precisei mandava whats pra ela e ela imediatamente resolvia”, declara. “Tenho a sorte de estar em uma cidade muito boa”.
Cátia está na expectativa para receber a alta definitiva, marcada para agosto, e está ansiosa para voltar ao trabalho. “A gente começa a viver outra vez”.
Dia Municipal de Prevenção e Combate ao Câncer
Neste sábado, dia 15, Santa Clara do Sul celebra o Dia Municipal de Prevenção e Combate ao Câncer, data instituída por lei municipal. Fundada por 15 voluntárias, a Liga Santa-clarense de Combate ao Câncer completa 5 anos em junho, e tem o objetivo de ajudar pacientes com câncer de qualquer idade e gênero, desde a ajuda com o custeio até o apoio com a autoestima. A sede se localiza na Avenida 28 de Maio, no Centro, em uma ampla sala no terceiro andar do prédio do Banco do Brasil.
Dez colaboradoras trabalham na costura e trabalhos manuais, que são doados aos pacientes ou vendidos para auxiliar no custeio de exames e suplementação. Entre as voluntárias está Marciani Driemeier, 52, costureira chefe que está há três anos na entidade. Conta que a comunidade doa tecidos para as voluntárias confeccionarem peças como tapetes, bolsas, toucas, capas de garrafas térmicas, e outros itens. “Tudo sem custo. E às vezes a própria comunidade faz em casa e já manda pronto”.
“Precisamos que as pessoas adotem a Liga”
A pandemia impede eventos e pedágios para arrecadar dinheiro para manter a Liga, mas o trabalho de assistência aos pacientes com câncer continua de forma ininterrupta. Em 2020 foram captados R$ 30 mil por meio de doações diretas, e desses já foram utilizados R$ 23 mil para o pagamento de exames, remédios e suplementos. Por isso, é fundamental o apoio da comunidade. “Precisamos que as pessoas adotem a Liga”, ressalta a presidente Helena.
Ela lamenta a perda recente de 7 pessoas para o câncer, uma doença fatal quando o diagnóstico é tardio. E reforça a importância de o trabalho continuar sempre, exemplificando que cinco novos moradores estão recebendo ajuda, totalizando oito pessoas assistidas no momento.
Além da constante suplementação alimentar, o dinheiro é utilizado para pagar exames de colonoscopia, tomografia, biópsia e outros, além de remédios. Esse apoio financeiro é fundamental para os pacientes, que longe do trabalho sofrem pela perda do poder aquisitivo. Cedência de equipamentos, como cadeiras de roda, andadores e até perucas também integram a lista de ajuda.
Helena reforça que, além dos exames durante a doença, é cada vez mais imprescindível a realização dos exames de prevenção. Só no ano passado, ao longo do Outubro Rosa e Novembro Azul, foram pagos 35 exames de mamografias, e ao todo foram levadas ao exame em Lajeado 54 mulheres. Também foram feitos exames de prevenção para 60 homens, no laboratório em Santa Clara do Sul. “A liga tenta fazer um trabalho fidedigno, responsável, e a e ainda com apoio da nutricionista do posto e o do DR. Carlos, que ajudam na orientação”. Ela também informa que pacientes são encaminhados pelo posto para a oncologia.
“Só temos a agradecer e reforçar que seguiremos unidos”
Secretária da Saúde e Assistência Social de Santa Clara do Sul, Iara Kohlrausch afirma que nesses quatro anos em que a Liga de Combate ao Câncer está em atividade no município, o setor conseguiu avançar, aproximar e humanizar o acesso dos atendimentos aos pacientes. “Essa parceria é de extrema importância para todos, porque através da Liga, o governo municipal e a equipe da Unidade Básica de Saúde conseguem agilizar exames, diagnósticos e tratamentos que antes esbarravam em burocracias pontuais do sistema. Nunca sabemos quando vamos precisar de apoio e são nestes momentos mais frágeis e vulneráveis que fica ainda mais evidente a importância de ter uma mão estendida para nos apoiar e orientar”.
Ela ressalta que a Liga vem desempenhando de forma brilhante e solidária o papel na comunidade. “Só temos a agradecer e reforçar que seguiremos unidos, de mãos dadas pela causa”.
Como ajudar a Liga
Quem quiser contribuir mensalmente pode fazer por meio de um bloquinho e depositar na caixinha da Liga no supermercado STR. Ou então fazer debito em conta:
AG 0179
Conta 84211-7
A doação de tampas de garrafas pet e de latas de alumínio também é uma forma de ajudar a Liga a arrecadar dinheiro. Institutos de beleza também recolhem cabelos de doações.