Mais de 12 mil aguardam 2ª dose

CoronaVac atrasada

Mais de 12 mil aguardam 2ª dose

Falta das vacinas Coronavac pode reduzir anticorpos, alertam imunologistas. Com relação ao outro imunizante mais usado, o Astrazeneca\Fiocruz, Anvisa e Ministério da Saúde mudam orientação e pedem suspensão do uso em gestantes

Mais de 12 mil aguardam 2ª dose
Na última remessa de Coronavac, Lajeado recebeu 390 doses. Lote terminou na terça-feira e imunização com reforço está suspensa (Foto: Divulgação)
Vale do Taquari

A instabilidade na produção do Instituto Butantan para as doses da Coronavac traz incerteza quanto aos resultados da imunização. Por um lado, o Ministério da Saúde afirma que o aumento dos prazos para recebimento do reforço interfere pouco no nível de proteção.

Já especialistas em imunologia alertam para possíveis prejuízos na proteção. Entre os posicionamentos está a da Sociedade Brasileira de Imunizações. As pesquisas sobre a Coronavac apontam para uma eficácia de até 73,8% quando o intervalo entre as doses for entre 14 e 28 dias. Quando a aplicação ocorre em prazos maiores, não há evidências sobre a eficácia.

A produção nacional pelo Butantan está abaixo do esperado pela falta do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA). O ingrediente é importado da China. Na semana passada, o diretor do laboratório, Dimas Covas, alertou que só há possibilidade de manter a produção até o dia 14 de maio.

Há tratativas entre o Butantan e a Sinovac, laboratório chinês, para a chegada de mais carregamentos. Mas a matéria-prima só estaria disponível entre o dia 18 a 20 de maio. Confirmada essa expectativa, novas remessas da Coronavac só estariam disponíveis em junho.

Nas maiores cidades da região, uma nova remessa chegou nesta semana. Foram 2.120 doses destinadas para o reforço vacinal. Ainda assim, conforme a Coordenadoria Regional de Saúde, são 12.010 pessoas aguardando pela 2ª dose.

Suspensão para gestantes

A aplicação da vacina Astrazeneca\Fiocruz em grávidas foi suspensa no país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária e o Ministério da Saúde informaram sobre a decisão após a suspeita de um evento adverso grave. Uma gestante do Rio de Janeiro morreu após receber a substância.

Ainda não há confirmação de que o óbito foi devido à vacina, ainda assim, foi adotada essa suspensão enquanto não houver mais detalhes sobre o fato.

Entrevista

Ney Raffin – médico Imunologista

“Vacina boa é a que está na seringa”

• O atraso na segunda dose da vacina Coronavac interfere de que maneira sobre a imunização?
Antes de tudo, importante eu dizer. Não sou pesquisador de vacinas, não trabalho com estudos em laboratórios. Sou clínico, atendo pessoas. Mas tem algo muito óbvio na Medicina.

As vacinas contra a covid foram aceleradas diante do estágio da pandemia. Para se chegar aos resultados atuais, os laboratórios passaram por diversos estágios. Tivemos os testes in vitro, depois aplicação em animais, para só depois começar os testes em humanos.

Neste processo, foi se estabelecendo o modelo vacinal mais adequado para cada substância. No caso da Coronavac, se estabeleceu que a imunidade máxima seria atingida em duas doses, com um intervalo de 14 a 28 dias para o reforço.

Isso é o que o laboratório diz para se chegar ao patamar de proteção estipulado pelos estudos. Para a Coronavac é algo um pouco acima dos 50%. Veja bem, mesmo cumprindo a vacinação, não há 100% de proteção. Ela é eficaz para evitar agravamentos, mas não significa estar livre da doença. Então, se passar alguns dias. Vamos lá, sete, oito ou dez dias, não acredito que haverá grandes riscos. Agora, quando falamos de dois, três meses, a vacinação fica comprometida. Essa pessoa que recebeu a dose poderá não ter o mesmo grau de imunização da que recebeu a vacinação no prazo determinado em bula pelo laboratório.

• A posição do Ministério da Saúde, de minimizar os atrasos e afirmar não haver problemas é um risco?

Claro. Pois o laboratório, o conhecimento que teve para desenvolver a vacina não prevê os índices de eficiência em um prazo maior do que os 28 dias, no caso da Coronavac. Quando pegamos a bula da Astrazeneca\Fiocruz, a outra vacina mais usada no país, temos ali que a vacinação deve ocorrer de um a três meses após a primeira dose. Ou seja, os pesquisadores estão dizendo que dentro desse período, os estudos garantem os anticorpos necessários.

• Existe o perigo de termos cepas mais contagiosas e letais devido aos atrasos?

Acho pouco provável. Agentes patológicos como os vírus têm como característica serem mutáveis. Não acredito que a vacinação em atraso tenha potencial de modificar muito a doença para torná-la mais perigosa.

• A Anvisa emitiu um parecer para a suspensão do uso da Astrazeneca\Fiocruz para gestantes. Informações dão conta que a própria orientação do laboratório era para não aplicar a dose nestas pacientes. Qual a avaliação do senhor quanto a isso?

Quem decidiu aplicar, assumiu o risco. Como disse antes, todo o conhecimento da pesquisa está na bula. O laboratório fabrica a substância e informa sobre os efeitos colaterais. Isso não só nas vacinas, como nos medicamentos também.

Pelas informações, o laboratório não indica o uso em gestantes. Isso deve ser observado. Ainda que os efeitos adversos graves sejam incomuns, se há o alerta, ele precisa ser analisado. O que deve ser questionado e por que o laboratório sugere evitar o uso em gestantes? Isso é de praxe ou só porque não foram realizados estudos em grávidas?

• A vacinação é garantia para o país sair da crise sanitária e a sociedade voltar a “normalidade”?

Penso que sim. Tenho otimismo que logo vamos superar essa pandemia. Ela nos deixa várias lições. Muito ainda terá de ser feito. Talvez vamos continuar com algumas medidas de distanciamento, não na mesma intensidade. Mas a pesquisa, a ciência, evoluiu muito.

Vemos discussões de que essa vacina é boa e a outra não. Isso não existe. Vacina boa está na agulha. Temos de tomar as que estão disponíveis. Mesmo que surjam novas cepas, já temos pesquisas base para atualizações dos imunizantes.

Também acredito que logo haverá medicamentos para reduzir os casos graves da doença. Tenho esperança mesmo de que a covid vai perder intensidade e teremos melhores condições em breve.

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