“Fico feliz ao olhar o mapa e ver que naveguei por todos os mares”

Abre Aspas

“Fico feliz ao olhar o mapa e ver que naveguei por todos os mares”

Adriana Kerber, 45, é natural de Cruzeiro do Sul. Durante quase 10 anos, trabalhou no setor de turismo em viagens de navios de cruzeiro. Em 2019, ela voltou a fixar residência em terra firme, onde se divide entre as cidades de Estrela e Colinas

“Fico feliz ao olhar o mapa e ver que naveguei por todos os mares”
(Foto: Arquivo Pessoal)
Vale do Taquari

Pelas tuas experiências, quais são os principais desafios a bordo de um navio?
A primeira pergunta que as pessoas fazem é se eu já enfrentei alguma tempestade. As tempestades são vistas como problema pela maioria. Mas hoje eu vejo elas como muito bem-vindas. Se elas não existissem, não daríamos valor para a calmaria do mar. Passei por todos os continentes. E fico muito feliz quando olho o mapa e vejo que naveguei por todos os mares. Atravessei trópicos, fiz vários canais, fiz a Linha do Equador. Fiz mais de 90 países, sendo que em alguns lugares o navio é a melhor opção para se chegar.

Do que você mais gostava na profissão?
Meu setor era o de turismo, era uma agência de viagens a bordo. Eu fazia a organização de todos os passeios. Venda, contato com as agências em terra. E quando o navio atracava eu acompanhava os passeios e também fazia a parte de tradutora intérprete. A parte mais interessante é, sem dúvidas, a possibilidade de visitar esses lugares incríveis que tive a oportunidade. E ao mesmo tempo em que você deve desfrutar dos países que visita, deve também respeitar a cultura, a religião. Você tem que se adaptar ao lugar. Tem que ter um senso de turista, tem que saber turistar. O mais legal dessa área é que eu fazia o meu trabalho, mas fazia de conta que era uma turista.

Qual a sensação de estar em alto mar?
É incrível. Mas às vezes dá um cansaço. Seu corpo fica cansado, você tem dor de cabeça ,quer botar o pé no chão. Normalmente eu ficava de 10 a 11 meses a bordo. A pressão era grande, eu voltava cansada. Você abre mão de muitas coisas da sua vida quando escolhe o mar, não é fácil viver nele. Fico muito feliz que tive essa coragem. O navio normalmente navegava durante a noite. De manhã cedo, pelas 5h, eu escutava as hélices embaixo de mim, o motor mudando o ritmo, aí eu sabia que a gente estava chegando no próximo destino. Então todos os dias era aquela coisa bacana de pensar qual língua eu precisaria falar, onde estávamos chegando.

Já que as viagens duravam meses, você criava contato com os passageiros?
Sim. Quando você viaja, tem a oportunidade de conhecer as pessoas, que são os passageiros. Eles acabam virando membros da sua família. Pelo fato de falar seis línguas, fiz viagens de volta ao mundo a bordo de navios. Um momento marcante foi quando conheci o Sr. Fernando. Foi na minha primeira semana de trabalho, em uma excursão em Barcelona, na Espanha. Ele caiu, teve uma fratura exposta. Fiz os primeiros socorros, um momento difícil, porque ele tinha 89 anos. Hoje está com 99 anos. Passaram 10 anos desde então, e ficamos amigos depois desse acidente. Nós nos falamos todos os dias. Em uma viagem é muito interessante aproveitar não só o lugar, mas também conhecer pessoas.

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