35 anos de apoio e ressocialização

um dia de cada vez

35 anos de apoio e ressocialização

No dia 10 de maio de 1986 foi fundada a Central (Centro Regional de Tratamento e Recuperação de Alcoolismo), em Lajeado, que já recebeu quase 24 mil pacientes de todo o estado

35 anos de apoio e ressocialização
Nessa segunda-feira, 10, entidade fez aniversário de fundação (Foto: Filipe Faleiro)
Lajeado

As garagens que guardavam os barcos foram transformadas em habitações e o então clube náutico do município se tornou um espaço de tratamento. Há 35 anos, a Central – Centro Regional de Tratamento e Recuperação de Alcoolismo foi fundada em Lajeado, às margens do Rio Taquari. Esforço e solidariedade marcaram a construção que contou com a ajuda de muitos voluntários.

A iniciativa foi de Roque Braga Lopes, depois de um tratamento para o alcoolismo na capital. Voltando ao interior, quis ajudar outras pessoas a saírem do “fundo do poço”, como costumam dizer. Ele levava amigos até Porto Alegre, na Clínica Pinel para a reabilitação, até conseguir a área de terra para a construção da Central que, além do projeto físico, se preocupava muito com o humano. A ideia era tratar ao mesmo tempo os internos e os familiares que também participavam das reuniões de Alcoólicos Anônimos (AA).

Para que a Prefeitura de Lajeado pudesse ajudar na construção do espaço, era preciso um registro de Entidade Assistencial, que recebeu o registro oficial apenas em 25 de fevereiro de 1986. Durante a construção da entidade, o prefeito da época colocou à disposição da diretoria, materiais e profissionais. “Nós conseguimos areia e tijolos, ele dava o cimento. Nós arrumamos o servente e ele cedia um pedreiro. Nunca disse não quando era para ajudar”, conta o fundador na sua autobiografia “Nasci para quê?”.

Na época, prefeitos de outros municípios também ajudaram. Estrela doou 9 mil tijolos e a Central recebeu apoio de Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio, Fontoura Xavier, Muçum, Roca Sales, Arvorezinha, entre outros.

Em um sábado por mês era servido um carreteiro ao meio-dia e os pacientes já tratados levavam as famílias para ajudar no “mutirão Central”. Capinavam, pintavam, faziam a limpeza do pátio e traziam materiais. Enquanto isso, as campanhas para arrecadar fundos e terminar as reformas seguiram. Ainda era necessário colocar um telhado.

Depois de quase um ano de reformas, chegaram os acabamentos finais, como a colocação de ferro para as portas e janelas e os vidros. Lopes conta no livro que durante o ano de 1985, já havia 190 pacientes encaminhados para o centro e queriam chegar ao dia da inauguração com 240.

Naquele ano a equipe da Central também participou da Gincana da Câmara Júnior e tiraram o 1º lugar. O valor do prêmio foi destinado para o projeto “Operação mobiliar a Central”. “Todo mundo ajudou, Compramos 25 camas e ganhamos 25 colchões.

Compramos mesas e ganhamos cadeiras. Compramos refrigerador e ganhamos fogão”, conta. A inauguração do espaço foi marcada para 10 de maio de 1986 e dois dias depois ocorreu a primeira reunião de Alcoólicos Anônimos, com pouco mais de meia dúzia de homens reunidos.

Alguns anos mais tarde, a capacidade da entidade passou de 25 internações para 65 e começou a receber também mulheres e usuários de drogas.

Lopes esteve na diretoria da entidade até 2011. “Eu dou Graças a Deus que passei por isso, que estive no ‘fundo do poço’, porque depois disso descobri o que tinha nascido para fazer: ajudar outras pessoas”.

“Cada dia é um desafio”

Ademir Becker foi um dos quase 24 mil pacientes que passaram pela Central. Ele entrou em 2008, quando iniciou o tratamento. Depois disso, se voluntariou na instituição até 2011. Naquele ano, a Central fechou e quando foi reinaugurada, Becker passou a fazer parte da diretoria, em 2012, como administrador do centro.

“Moro ao lado da Central há 30 anos. Sempre tive problemas de alcoolismo, mas não aceitava. Depois do tratamento, quis de alguma forma, retribuir o que tinham feito por mim”, conta.

Ele ressalta a importância do centro na vida de pessoas de todo o estado que são encaminhadas para a Central e diz ser bonito ver a vida de médicos, dentistas e outras figuras da comunidade depois do tratamento.

Um momento de destaque dentro da entidade foi a reunião dos Alcoólicos Anônimos de número 5 mil, que ocorreu em agosto de 2020. Alguns meses antes, em abril, o espaço passou por um incêndio e a estrutura foi reconstruída com recursos próprios e algumas doações.

Para este ano, está nos planos da diretoria a colocação de energia solar na Central e, em 2022 está prevista a reforma dos banheiros. “Cada dia que a gente vem trabalhar aqui é um desafio. Temos que cada vez mais aperfeiçoar a equipe daqui pra frente, capacitar nossos funcionários”, afirma Becker.

A equipe é composta por clínico geral, psiquiatra, enfermeira, técnicos, assistente social, psicóloga, consultores terapêuticos, e monitores. As internações são feitas, em média, de 30 a 35 dias. Depois disso, os pacientes são encaminhados para suas casas e passam a participar das reuniões do AA.

Uma nova vida

“Eu não tinha outra alternativa. Minha vida pessoal, minha vida profissional, nada mais funcionava, então minha família sugeriu que eu fizesse o tratamento na Central”, conta um morador de Lajeado de 50 anos.

A passagem dele pela entidade foi em 2011, em recuperação ao uso de álcool e drogas. O dentista conta que a família também recebeu assistência social.

“Depois disso eu tive minha sanidade de volta, com um pensamento diferente. A partir daí passei a ter uma vida nova em relação à condição de trabalho, familiar, financeira, tudo mudou”, conta o dentista que hoje é casado e tem filhos. Para ele, a Central significou ressocialização.

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