“Primeiro lugar onde pedimos socorro é no hospital”

Abre aspas

“Primeiro lugar onde pedimos socorro é no hospital”

Moradora de Travesseiro, Eugênia Susana Steffler Neitzke, 52, se tornou conhecida pelo trabalho no Hospital de Marques de Souza. A profissional deixou a casa de saúde em 3 de abril, após 33 anos de dedicação

“Primeiro lugar onde pedimos socorro é no hospital”
Vale do Taquari

Como foi que chegou até o emprego no hospital?
Na época eu trabalhava na fábrica de móveis Tecla de Marques de Souza, mas a empresa faliu. Então os meus vizinhos, o Marino e Arlete da Costa, me indicaram para trabalhar no hospital. Foi ai que consegui entrar lá, em 1988.

Como foi esse início na nova profissão?
No primeiro dia faleceu um senhor. Pronto, fui pra casa decidida a não voltar mais. Naquela noite não dormi por ter visto aquele senhor falecer. Eu tinha uma filha pequena na época, então comecei a pensar em como sustentar ela e me obriguei a ir de novo. No segundo dia faleceu uma senhora e tive de ajudar a colocar ela no caixão. Pensei: ‘agora chega’. Mas ai me veio de novo o pensamento que eu precisava trabalhar pela minha filha. Isso me encorajou a seguir.

O que mais te assustou nessas primeiras experiências no hospital?
Foi difícil, pois meu coração era muito mole. Eu me apegava muito e mostrava meu susto quando me deparava com situações mais delicadas. Eu chorava e aquilo me doía. Depois de um tempo, comecei a ficar mais ‘dura’.

Quais foram as suas funções nas três décadas de trabalho ao hospital?
Trabalhei por três anos na copa, onde fazíamos praticamente de tudo. Na época, o hospital tinha até criação de porcos e galinhas. Tinha horta e também rachávamos lenha. Depois, saiu uma moça da faxina. Como adoro limpeza, fui trabalhar nesse setor, onde fiquei por dois anos. Lá, a gente trabalhava direto com o paciente e nesse período criei um vínculo muito grande com as pessoas. Dai, em 1993, uma moça da lavanderia casou e eu fui trabalhar lá. Fiquei na lavanderia até a minha saída.

Quais as coisas mais boas no hospital?
Quando a gente ama o que faz tudo é bom. Porém, o mais gratificante é ver o paciente sair vitorioso do hospital. Nessa época do coronavírus, por exemplo, a gente sofreu bastante, mas no fim foi feliz ver as pessoas saírem. É um sentimento que não tem explicação.

Teve alguma situação que lhe marcou no hospital?
Uma senhora de Marques de Souza ganhou bebê e eu estava levando chá da tarde para ela. Quando cheguei no quarto, a paciente estava roxa. Eu corri no corredor e gritei: ‘socorro’. Ela estava com uma hemorragia e foi salva graças ao meu pedido de ajuda.

Como foi a despedida no hospital?
Foi natural, estava na hora e acredito que cumpri meu dever lá. Dei o melhor de mim e sou muito grata.

O que fica de lição nessas quase três décadas que trabalhou lá?
Nunca deixar morrer o calor humano que o paciente precisa. A tecnologia faz muito, mas o carinho, aquele respeito com o ser humano que está ali no leito não muda e não tem prazo de validade. O ser humano precisa de afeto.

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