Em uma casa de madeira no alto do Morro Gaúcho, em Arroio do Meio, fica a Pousada da Vó Lúcia. Um lugar charmoso em meio à natureza onde mora Lúcia Kunzler, 72, há cerca de 45 anos. Foi lá que ela criou os filhos e onde, ainda hoje, cria galinhas e cuida do jardim. Em 2019, a filha Maria Kunzler, 47, fez ajustes na residência para receber hóspedes e atualmente é um dos 54 “anfitriões” registrados no site Airbnb.
Quem administra o perfil da pousada é Maria e, quando há reservas, ela leva a mãe para casa dela no centro do município. Podendo receber seis pessoas, a residência de fachada azul possui três quartos, sala, cozinha e hall de entrada. Além de uma lareira ao ar livre para acompanhar o jardim de Dona Lúcia. Para ter a experiência típica de uma casa de interior, uma horta fica à disposição dos hóspedes, assim como a colheita dos ovos de galinha e um fogão à lenha na cozinha.
Maria e a mãe Lúcia abrem a própria casa para hospedar visitantes. Segundo elas, aplicativos ampliam visibilidade do empreendimento (Foto: Bibiana Faleiro)
“No início foi estranho alugar a propriedade assim, porque minha mãe mora na casa. Mas ela aceitou bem e hoje gosta de receber as pessoas”, conta a filha, que é também lojista e advogada.
Em 28 de agosto de 2019 elas receberam o primeiro inquilino, de Rio Grande. Depois disso, a procura aumentou e quem se hospeda na pousada também divulga o lugar. Redes Sociais como Instagram e Facebook ajudam na divulgação e hoje metade das reservas são feitas pelo Airbnb e a outra metade pelo Instagram.
A casa já recebeu hóspedes de Goiás, São Paulo, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul e pessoas da região. Além de turistas de Frankfurt, na Alemanha, e da Suíça. “Alugar um espaço no interior é uma experiência bacana que tem cada vez mais procura”, comenta Maria. Tem vezes em que há 10 pedidos de reserva em um mesmo dia pelo Airbnb.
Potencial turístico
O Airbnb é um serviço online comunitário para as pessoas anunciarem, descobrirem e reservarem acomodações e meios de hospedagem. O site, que possibilita a comunicação entre turistas do mundo inteiro e donos de imóveis, conquista cada vez mais adeptos na região. Em julho de 2018, em reportagem do A Hora, o Airbnb registrava 21 anfitriões no Vale do Taquari e região. Até a tarde de terça-feira, esse número era de aproximadamente 54. Isso significa um aumento de mais de 150% no registro de anfitriões em quase três anos.
Presidente da Amturvales e empreendedor de turismo, proprietário do Sítio Paraíso dos Anjos, Leandro Arenhart, 50, diz que, mesmo com o crescimento do número de pousadas, hotéis e propriedades particulares para receber o turista, a demanda deve aumentar ainda mais.
Segundo ele, a região está se preparando para o turismo há mais de 20 anos, mas muitos empreendimentos ainda precisam de qualificação, tanto no atendimento quanto na estrutura. “Vejo que o número de turistas deve aumentar muito e a Amturvales está contratando mais profissionais para fazer o trabalho de campo e instigando os próprios municípios para que tenham seu departamento do turismo”, ressalta Arenhart. Não só com a atração do Cristo Protetor, o empresário acredita que o Vale como um todo tem potencial para o turismo mundial.
“A bem verdade é que o turismo no Vale do Taquari está crescendo, mas vai crescer muito mais. Hoje a gente tem 2,5 mil, 2,7 mil camas de hotéis, incluindo Guaporé, e talvez não seja suficiente. A perspectiva é de que haja cada vez mais empreendimentos de hospedagem na região”, afirma. E, por ter preços acessíveis e facilidade na busca por lugares diferentes, o Airbnb tornou-se um meio muito utilizado pelos viajantes.
Outra plataforma de hospedagem onde os anfitriões do Vale estão inseridos é o Booking que, na tarde desta terça-feira tinha 24 locais nas principais cidades do Vale cadastrados no site. Dez deles em Lajeado, oito em Teutônia, quatro em Encantado, um em Estrela e um em Arroio do Meio.
“A tendência é aumentar a procura”
Entre os destinos do mundo cadastrados no Airbnb, está Westfália, onde mora o veterinário Samuel Heemann. Membro da comunidade desde 2015, foi em 2017 que decidiu tornar-se anfitrião. No início a família relutava em hospedar “estranhos” na propriedade, mas a primeira reserva foi feita no Réveillon de 2017.
De lá para cá, a procura pela Residência Heemann aumentou e, no último verão, a média de visualizações mensais do anúncio no site alcançou mais de 1200 acessos, 400 a mais dos registrados no auge do verão nos anos anteriores.
Samuel está cadastrado na plataforma desde 2017 e percebe o aumento da demanda nos últimos anos (Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo pessoal)
“Acredito que, em função da pandemia, as pessoas estejam procurando locais isolados e espaçosos para reunir a família e fugir do fluxo intenso de pessoas que migram para o Litoral e a Serra”, avalia Samuel. A procura foi tanta no período, que ele foi obrigado a recusar algumas reservas.
Segundo Samuel, a plataforma impede a comunicação por fora do aplicativo, omitindo dados de telefone e e-mail, antes da confirmação da reserva, o que gera segurança na hora de anunciar.
A propriedade já hospedou mais de 30 grupos, sendo a maioria de Porto Alegre, e cidades do RS, de Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador e também de Portugal.
A residência pertencia aos avós paternos de Samuel e hoje é onde a família dele mora. Quando há confirmação de reserva, a esposa e o filho vão visitar parentes em Porto Alegre e os pais vão para casa da irmã na cidade. Samuel permanece na propriedade, para atender os hóspedes.
A renda dos aluguéis auxilia a pagar as contas da casa e fazer reformas. “Para o futuro a previsão é otimista. O Vale possui muitos atrativos e está tendo muito destaque nos investimentos turísticos, a tendência é aumentar a procura”.
“Sem aplicativos, fica difícil trabalhar na área”
A plataforma também anuncia casas de hospedagem como a Pousada e Hostel Vó Odete, em Lajeado. Idealizado por Sandra Regina Marzola, o espaço leva o nome em homenagem à mãe, que faleceu. Sandra mora na pousada, ao lado de Paulo Mallmann, da filha Michelli Marzola Guerhardt, do genro Adriano Luis Birkheuer, e dos netos.
Adriano conta que o estabelecimento está no mercado há seis anos e atende no atual endereço desde 2019, período em que passaram a se cadastrar no Airbnb e também no Booking, plataforma onde possuem a pontuação 9.2.
“Trabalhamos com essas plataformas, mas temos um grande retorno pelo Google também. Os turistas costumam procurar hospedagem primeiro nos sites. Hoje, sem os aplicativos, fica difícil trabalhar na área, a demanda cai bastante”, conta o empresário, que percebe um crescimento na demanda nos últimos dois anos.
O espaço possui cinco acomodações que levam nomes dedicados à família de Dona Odete. Entre eles, Tidão, o marido dela, e Bar São Luiz, empreendimento que era da família. A ocupação máxima do hostel é de cerca de 25 pessoas, já que alguns quartos são no estilo albergue, podendo receber mais hóspedes.
Paulo, Regina, Michelli e Adriano atestam a eficiência da ferramenta (Foto: Bibiana Faleiro)
“Acredito que somos pioneiros na região. O que temos visto são clientes que procuram hotéis baratos. O sistema de pousada não é tão luxuoso, não tem uma pessoa vestida a rigor que traz suas malas do carro, todo esse serviço. Mas oferecemos um atendimento familiar e isso também é um diferencial”, acredita Adriano. O preço da diária anunciado no aplicativo é R$ 50, o que também favorece na escolha pelo lugar.
