“A demanda aumentou muito de um ano pra cá. Tudo gira em torno da tele-entrega”, destaca Liane Rodrigues da Silva, 35. Motogirl há cerca de 10 anos, ela avalia o crescimento no setor depois de um ano de pandemia e diz que o maior movimento no período está no setor de alimentos, na entrega dos fast foods.
Seja por aplicativos ou empresas locais, os ciclistas e motociclistas responsáveis pelas entregas são cada vez mais essenciais diante da necessidade do distanciamento social.
Responsável jurídico do Sindimotos, Felipe Carmona, diz que o setor teve um aumento de 60% no número de motociclistas e ciclistas no estado durante o último ano, principalmente informais e por aplicativos. Isso se deve pelo período de fechamento dos estabelecimentos e necessidade do sistema delivery.
Segundo ele, até mesmo restaurantes que antes só ofereciam buffet, passaram também a aderir ao serviço de entregas. Em alguns casos, o próprio garçom virou motoboy. Além disso, profissões como porteiro, vigilantes e funcionários da indústria também passaram a realizar o serviço neste período.
E, se antes, motoboys e motogirls faziam em média nove entregas por dia, hoje elas chegam a 30. O motociclista Maiquel Cristian Kollet, 36, conta que hoje costuma fazer cerca de 20 entregas de galões de água por dia em Lajeado e região.
“Isso também significa um risco maior de contágio do vírus, porque eles têm contato com a máquina de cartão, dinheiro, e com a pessoa que recebe o produto”, ressalta Carmona. Por isso, as condições sanitárias mínimas são exigidas pelo sindicato, além de um local seguro onde os funcionários possam aguardar a próxima entrega.
Mais funcionários e maior produtividade
Em uma empresa de Lajeado, a sócia Cristina Barbosa conta que o telefone não pára de tocar. A demanda desde março do ano passado aumentou mais do que o dobro e foi preciso adquirir mais motocicletas e motoristas para atender os clientes.
Em maio do ano passado, a empresa já havia contratado três novos funcionários. Quase um ano depois, mais oito entregadores somaram o quadro, totalizando 28 funcionários. Isso porque estabelecimentos que antes não realizavam as entregas, passaram a oferecer o serviço e, com o período de fechamento de bares e restaurantes, os pedidos passaram a ser feitos de casa. Outro motivo que justifica a alta demanda é porque novas lancherias foram inauguradas no período, já com a possibilidade da tele-entrega.
As farmácias também são grandes utilitárias do serviço e hoje representam a maior parte do trabalho dos entregadores da empresa dirigida por Cristina. “As pessoas precisam dos medicamentos e muitas não querem sair de casa. Antes da pandemia a demanda já era grande no setor, mas agora aumentou muito”, conta a empresária.
Para garantir a segurança dos funcionários, são tomadas as medidas sanitárias e, neste um ano de pandemia, a empresa não teve casos da Covid. “Nós tomamos todos os cuidados e graças a Deus ninguém pegou. Com certeza estamos sendo protegidos, porque lidamos com bastante público, dinheiro. Mas as pessoas precisam de medicamentos, alimentos, precisamos trabalhar”, afirma Cristina.
Risco de acidentes
Este cenário também reflete no número de acidentes. “Requisitos como o uso de colete e outros equipamentos, a idade mínima de 21 anos e pelo menos dois anos de carteira foram deixados de lado, e muitas vezes, não são supervisionados. Isso reflete na qualificação desses profissionais”, acredita Carmona. Ele entende que, com o tempo, o setor vai se auto regular e vão voltar ao mercado apenas quem já exercia a profissão.