Novo adiamento do Censo aumenta defasagem nos dados

Apagão estatístico

Novo adiamento do Censo aumenta defasagem nos dados

Corte no orçamento do Ministério da Economia inviabilizou realização do levantamento pelo segundo ano consecutivo. Estudo é base para definição de políticas públicas e distribuição de recursos

Novo adiamento do Censo aumenta defasagem nos dados
Principal estudo conduzido pelo IBGE, Censo foi realizado pela última vez em 2010 (Foto: Divulgação)
Brasil

Pelo segundo ano consecutivo, a realização do Censo Demográfico foi suspensa no país. Mais do que fazer a contagem populacional, o estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também é fundamental para a construção de políticas públicas.

O último Censo, realizado em 2010, está com dados defasados. O levantamento atualizado, que não ocorreu em 2020 por conta da pandemia, desta vez ficou inviabilizado pelo corte de R$ 2 bilhões no Orçamento. Sem recursos, a solução foi suspender a pesquisa mais uma vez.

Os preparativos iniciaram ainda em 2018, de acordo com o coordenador do Censo na área da agência de Lajeado, Paulo Hamester. Uma equipe de quatro subcoordenadores foi contratada, cada um ficando responsável por quatro subáreas menores dentro da região. O novo adiamento pegou a equipe de surpresa.

“Já se tinha uma incerteza desde o início do ano devido à pandemia. E, para a nossa surpresa, a não realização desta vez se dá pelo corte no Orçamento. Ele já vinha sendo cortado desde o ano passado. A estimativa inicial era de R$ 3,4 bilhões. Depois passou para R$ 3 bilhões, e, por último, R$ 2 bilhões. Agora foi cortado quase em sua totalidade”, comenta.

FPM e vacinação

O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) é afetado diretamente pela não realização do Censo, já que a distribuição de recursos é baseada no número de habitantes. Hamester cita Encantado como um município que poderia receber uma fatia maior com a atualização do estudo.

“Alguns municípios que poderiam atingir uma nova faixa não irão alcançá-la. As estimativas populacionais são feitas sobre o total de habitantes, sem a faixa etária, e os movimentos migratórios acabam não refletindo nelas”, afirma, citando o exemplo dos haitianos que vivem na região.

Campanhas de vacinação também utilizam dados existentes no Censo para identificação de grupos prioritários e definição da quantidade de doses destinadas aos municípios.

Dados confiáveis

(Foto: Ana Carolina Becker)

Entidades como o Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat) se baseiam em dados do Censo para a implementação de projetos e planejamentos estratégicos à médio e longo prazo. O presidente Luciano Moresco comparou a não realização do estudo a dirigir à noite com os faróis desligados.

“Ter acesso a dados confiáveis é fundamental para conhecer a realidade brasileira e tomar decisões que afetarão suas vidas. Não ter dados precisos da população impacta inclusive na distribuição de recursos enviados para estados e municípios. É impensável não dominarmos as informações sobre a população, a economia e as prioridades que são evidenciadas a partir destes dados”, destaca.

Concurso cancelado

O Censo era realizado a cada 10 anos desde 1940. Trata-se do principal estudo conduzido pelo IBGE. Além da contagem populacional, traz dados sobre condições de vida, emprego, renda, acesso a saúde, escolaridade e saneamento.
Duas semanas antes da suspensão do Censo, o IBGE havia cancelado o processo seletivo para contratação temporária de recenseadores e agentes censitários. Somente no Vale do Taquari, eram 425 vagas disponíveis.

Políticas afetadas pelo Censo

  • Definição do número de deputados federais, estaduais e de vereadores;
  • Determinação dos públicos-alvo de políticas públicas em todas as esferas;
  • Detalhamento dos grupos prioritários para campanhas de vacinação;
  • Distribuição de recursos da União para estados e municípios que consideram dados da população.

Acompanhe
nossas
redes sociais