A gruta de Nossa Senhora de Lourdes, localizada em Rui Barbosa, interior de Canudos do Vale, alia fé e belezas naturais. Descoberta há mais de 60 anos por agricultores, o espaço é atração turística e anualmente recebe em torno de três mil visitantes durante a tradicional festa em fevereiro.
Moradores sonham com a possibilidade de transformar o espaço em santuário, melhorando a infraestrutura e estimulando o turismo religioso. “Desde guri acompanho o esforço da comunidade em estruturar aquele espaço anteriormente rodeado por mato e sem acesso”, comenta o morador Ermínio Berté, 77.
Localizada a nove quilômetros da sede de Canudos do Vale, limita-se com Progresso e Marques de Souza. O acesso asfáltico é uma das demandas para a localidade. “No ano passado, um trecho de dois quilômetros foi pavimentado, posso dizer que o trajeto mais íngreme do percurso. Agora precisamos arregaçar as mangas e batalhar para pavimentar o restante”, destaca Berté.
O empresário lajeadense Paulo Pretto, 59, é uma das lideranças acionadas para contribuir no projeto comunitário. “Meu avô, Henrique Pretto (in memorian) participou do processo de descoberta da gruta e implantação das primeiras estruturas do local. Sou agraciado por saber da história e de alguns relatos de graças alcançadas na gruta, por isso meu interesse em contribuir no desenvolvimento da localidade”.
Pretto recorda de projeto iniciado pelo ex-prefeito de Marques de Souza, Rubem Kremer (in memorian), com a intenção de pavimentar o acesso até a gruta. “Kremer tinha o sonho de Marques de Souza avançar na questão do turismo, para isso era preciso também um ponto religioso”, comenta Pretto.
Ainda de acordo com o empresário, autoridades de Canudos do Vale e Marques de Sousa retomaram o diálogo objetivando o acesso asfáltico entre os dois municípios, através de Rui Barbosa. “É uma região de grande potencial econômico, principalmente pelos investimentos na agricultura. O asfalto além de contribuir no turismo religioso é uma necessidade do setor produtivo”.
Sobre Rui Barbosa
Os primeiros imigrantes chegaram em 1910, vindos de Garibaldi e Linha Stefânia (Nova Bréscia). Região colonizada pelas famílias Pretto, Berté, Zanoni, Basségio, Morari e Caliari. A primeira missa foi celebrada em 1932, e o atual templo construído em 1958.
Local de devoção
Otomar Caliari, 72, é ministro na comunidade de Rui Barbosa e fala da importância da gruta para a renovação da fé. “Independente de religião, somos uma comunidade de católicos e evangélicos, a gruta transparece um local sagrado e rodeado pela natureza”, descreve.
Em tempos de pandemia a gruta é utilizada para missas e batizados. “Por ser uma área aberta, evita aglomerações e serve de inspiração. Diariamente pessoas passam pelo local para expressar sua devoção”, acrescenta Otomar.
Em relação a ideia de transformar a gruta em santuário, mostra-se otimista. “Precisamos verificar as possibilidades, mas no que depender da comunidade, faremos todo o possível para valorizar cada vez mais o espaço”, reitera Caliari.
O líder comunitário afirma ter sido testemunha de graças alcançadas no local. “Meu irmão sofreu um grave acidente e durante deslocamento para o pronto-socorro paramos na gruta para clamar por um milagre. Fomos atendidos com a melhora do seu quadro clínico”.
Entrevista
Dom Aloísio Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul
“Grutas e capitéis são privilegiados pela beleza e ambiente”
• No interior é comum encontrar capitéis e grutas. Como esses pontos ajudam na preservação e renovação da fé?
Estes locais se tornam símbolos da fé de um povo que, através destes sinais ou lugares, expressa sua devoção, por vezes muito simples, mas sincera e autêntica. Estes locais escolhidos costumam ser privilegiados pela sua beleza e ambiente, pois se deseja oferecer o melhor para Deus ou para os que lhe são próximos, como os santos(as).
• Por que estes locais viraram um símbolo de realização de milagres e bênçãos?
O termo milagre é usado popularmente com muitos sentidos, mas sempre é considerado como algo extraordinário. Até uma defesa espetacular de um goleiro, por vezes, é chamada de milagre. O que mesmo é um fato milagroso em nossa relação com Deus? Deus acompanha sempre o seu povo e em algumas ocasiões realiza ações extraordinárias, que fogem ao comum da vida humana, que chamamos sobrenaturais. Estas intervenções podem ser chamadas milagres.
• Como evidenciar e explorar mais o turismo religioso na nossa região?
Há algumas experiências muito interessantes que estão surgindo em relação a um autêntico turismo religioso, que sabe integrar, como afirma a expressão, o religioso e o turístico. Isso merece nosso louvor. Há também iniciativas que têm dificuldades para essa integração. Por isso, vale a pergunta: “É o religioso que se torna turismo ou é o turismo que se torna religioso?”.
Requisitos para santuário
- Grande afluência de público;
- Padre permanente no local para atendimento de confissões e missas;
- Acesso ao local permanentemente aberto;
- Aprovação do bispo e aval do Vaticano.
