“O piano me trouxe liberdade”

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“O piano me trouxe liberdade”

Arthur Sulzbach, 21, largou a faculdade de Agronomia em Minas Gerais para se dedicar ao reparo e afinação de pianos. Sem escolas para o ofício na América Latina, aprendeu sozinho como deixar instrumentos antigos, muitos esquecidos, prontos para um recital

“O piano me trouxe liberdade”
(Foto: Divulgação)
Estrela
  • Como a música e em específico o piano entraram na tua vida?

Surgiu quando eu tinha 11 anos. Ninguém na minha família tocava, nem tínhamos músicos que pudessem ter provocado em mim essa vontade. Foi algo espontâneo, um desejo que não sei explicar.

Pedi de presente um piano para meus pais. Mas, pensa só, uma criança, o que quer com um piano? Comecei a economizar. Os presentes de aniversário, de Páscoa, de Natal. Tudo ia para o piano.

Eu pensava nisso todos os dias. Em um ano, consegui juntar o dinheiro necessário. Comprei um piano velho, bem deteriorado, por R$ 2,8 mil. Então, fui atrás para restaurar e afinar. Foi muito difícil encontrar alguém. Quando achei, me assustei com o preço. Algo em torno dos R$ 10 mil.

Foi aí que comecei a mexer por conta. Passei a pesquisar para ver como funcionava a manutenção do piano e no fim, o resultado ficou bom.

  • Desta paixão pela música, pelo instrumento, quando se tornou um modo de vida, um sustento?

Com 18 anos, passei no vestibular para a federal de Viçosa, em Minas Gerais. Me mudei para lá para estudar Agronomia. Nada a ver com piano. Então para me manter, eu tinha de afinar pianos.

Foi em meio a esse trabalho, que percebi minha aptidão para isso. Trabalhar com os instrumentos me trouxe felicidade. Então larguei a faculdade e voltei para Estrela.

  • Mas como foi essa mudança, entre sair de Minas e voltar para a região?

Quando cheguei em Viçosa, fui me apresentar na orquestra da universidade. Falei com o maestro, me apresentei como afinador de pianos. Pensa só, são poucos afinadores no país. Todos com mais de 50 anos. Não há nenhuma escola na América Latina de concerto de pianos. Como um guri de 18 anos é afinador? Então ele me deu um teste. Me levou em um piano velho e disse: se deixar esse bom para tocar, pode afinar os outros. Deu certo e abri uma empresa lá em minas para restauro e afinação de pianos.

A decisão de voltar foi após um recital lá em Viçosa. Veio um grande pianista europeu se apresentar. Era um sábado, véspera do Dia das Mães. O maestro me ligou pela manhã, que eu precisava dar um jeito no piano de cauda. Eu fui. Trabalhei 9 horas direto no piano. Sem comer, sem ir no banheiro. Tinha que ficar perfeito.

Fui na apresentação no sábado a noite. E o pianista elogiou o piano. Eu lá, na plateia, anônimo, senti que aquilo era o que eu tinha de fazer. Na segunda-feira, já tranquei minha matrícula e me preparei para voltar.

  • O que significa esse trabalho para você?

O piano me trouxe liberdade. Hoje tenho mais de 400 clientes, em diversas cidades do Estado. Faço algo que sempre sonhei, desde criança. Estudar música, seja qual for o instrumento, traz muitos benefícios, na capacidade cognitiva, na habilidade psicomotora e também na socialização.

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