Um novo plano para o velho hotel

Hotel Dahlem

Um novo plano para o velho hotel

Histórico Hotel Dahlem passa por reforma e pode voltar a receber hóspedes a partir do ano que vem

Um novo plano para o velho hotel
Com investimento próximo a R$ 10 milhões, projeto de reforma prevê 73 dormitórios divididos em três pavimentos (Foto: Bibiana Faleiro)
Lajeado

Na década de 30, as ruas de Lajeado ainda não eram asfaltadas e as pessoas costumavam sentar em cadeiras de palha sobre o paralelepípedo para conversar. Um dos lugares preferidos era em frente ao Hotel Dahlem, na Júlio de Castilhos, uma das casas de hospedagem mais frequentadas da época.

Esta é uma das lembranças que Hedy Dahlem da Rosa, 92, guarda do tempo em que ajudava a família no gerenciamento do local. “Sentávamos na rua, os hóspedes conversando com a gente, os viajantes, as professoras. Nós éramos todos uma grande família”, comenta.

Ela é a última herdeira do fundador do hotel, Pedro Osvaldo Dahlem, e de Maria Hermina Senden, que inauguraram a hospedaria no início da década de 30. Mas, antes de se consolidar como hotel, a estrutura, a pedido do Dr. Fleischhut, servia para atender pacientes do então Hospital São Roque (hoje o HBB), que estava ainda em construção. Hedy lembra que os médicos também usavam o espaço para cirurgias.

Os fundadores, Pedro Osvaldo e Maria Herminia Dahlem, com os filhos Hedy, Anilda, Carlos e Lauro. O filho Hernani já era falecido (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 1932, o hotel foi oficialmente inaugurado e passou a receber, além de comerciantes e professores, algumas personalidades. “Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, e outros artistas se hospedavam no hotel. Naquela época, Lajeado já tinha interesse por trazer artistas. Quem passava por lá, queria voltar depois”, lembra. A família conta que esta foi a primeira vez que viram alguém “espalitar” os dentes cobrindo a boca com a mão, se referindo a Bibi, que sempre pedia o melhor dos 25 quartos do hotel.

Hedy trabalhava no salão de refeições e a irmã Anilda ajudava a mãe na cozinha que, por sinal, era uma das melhores da cidade. “Principalmente aos domingos, o hotel lotava. Casais e famílias iam almoçar no restaurante e elogiavam a comida da mãe”, conta Hedy. Outros eventos importantes que aconteciam no lugar eram casamentos e festas especiais. A própria Hedy casou-se no salão do hotel.

Incêndio e reconstrução

Anos mais tarde, o hotel foi alugado e, em 1949, ocorreu um incêndio no lugar. “Era 1º de novembro daquele ano. Foi a pior coisa quando pegou fogo. Vimos o nosso hotel queimando”, lembra Hedy. Depois do acidente, os pais voltaram ao hotel e reconstruíram a estrutura, desta vez, com mais banheiros e com uma nova “classe”, como conta Hedy.

Arno Portich, genro do fundador, alugou o hotel entre 1955 e 1960. Em 1968, Pedro Osvaldo Dahlem vendeu o empreendimento para a família Kunz e, em 1975, faleceu em Lajeado. Mesmo sem o fundador, o empreendimento seguiu atendendo diversas gerações de hóspedes e clientes e, como conta a sobrinha de Hedy, Idalaura Dahlem Fracaro, é o orgulho da família Dahlem.

Comida caseira e lugar de encontro

O lajeadense José Rudi Schnorr também lembra do estabelecimento nas margens da saudosa Júlio de Castilhos. Quando passava na calçada em frente à hospedaria, podia sentir o cheiro da comida de Maria Hermina Senden.

“A comida caseira era da época em que o hóspede tinha café da manhã, almoço e janta, era um ponto forte deles. Tinha bife na chapa, batatinha frita na banha, era um prato bem gostoso, com feijão, arroz e salada verde”, lembra.

Schnorr acredita que o local era escolhido principalmente por ser bastante movimentado. “Como o comerciante geralmente viajava solitário, as únicas pessoas com quem conversava eram os hóspedes e funcionários do hotel”, conta. Outro motivo que trazia viajantes era o hospital.

Quando o hotel passou a pertencer à família Kunz, os relatos são de que Hebhand Leberecth Kunz e Laura Kunz trabalhavam juntos das 5h30 às 00h30. Naquela época, os hóspedes mais tradicionais tinham livre acesso à copa para preparar o próprio chimarrão, e os aperitivos, pegavam os refrigerantes direto da geladeira, e cada um assinava espontaneamente o caderninho do “Seu Kunz”, também conhecido como “Seu Lebi”, que morreu em 1988. Durante este período, a estrutura passou por algumas reformas.

Depois disso, quem dirigiu o Hotel foi Laura Maria Kunz, esposa do Seu Lebi, juntamente com a filha Ieda Maria Kunz, até 2014. Em 2019, a família vendeu o hotel para a Construtora Zagonel.

Uma proposta de “revitalização”

Depois de quase sete anos sem atividades na hospedaria, a Construtora Zagonel está em fase final da reforma e adequação do histórico Hotel Dahlem, que tem conclusão prevista para o primeiro semestre de 2022 e deve voltar a receber hóspedes a partir do ano que vem.

Segundo um dos sócios proprietários da empresa, Jean Zagonel, este é um projeto de retrofit, com o desafio de “garimpar” propriedades para se tornarem rentáveis e, posteriormente, firmar parcerias para o gerenciamento dos espaços.

O investimento próximo de R$ 10 milhões iniciou em 2019, e o projeto original de revitalização do hotel com 1.711 metros quadrados prevê 73 dormitórios divididos em três pavimentos, com ocupação máxima de 142 hóspedes.

Mas a proposta é “mutável”, explica outro sócio proprietário da empresa, o engenheiro Joni Zagonel. Cinco lojas foram adicionadas à construção e nos outros pavimentos a prioridade é viabilizar a obra bruta e finalizar os detalhes internos apenas depois de fechada parceria para a gestão profissional do empreendimento hoteleiro. Também integram o projeto, um elevador, espaço de café, ar condicionado e banheiro em todos os dormitórios.

A expectativa da família Dahlem é que o hotel permaneça com o nome original, como uma homenagem aos fundadores, conforme reforça Idalaura Dahlem Fracaro. Segundo Joni, a empresa simpatiza com a ideia da manutenção do nome, mas isso ainda não foi definido e vai depender da gestão do hotel.

 

De volta ao centro

Em junho de 2019, o A Hora noticiou a venda do último hotel do centro de Lajeado. Hoje a proposta é reativá-lo em um cenário desafiador. “Sabemos que a situação envolvendo a covid impactou bastante este segmento, porém acreditamos na recuperação do segmento como um todo e principalmente no nicho de mercado que o hotel está inserido, dada a sua relação com o centro da cidade e seu natural vínculo ao hospital”, acredita Joni.

A revitalização do antigo Hotel Dahlem é vista com entusiasmo pelo Comitê Gestor do Centro Histórico de Lajeado. O projeto contou com o aval e parecer do presidente André Jaeger e demais integrantes da entidade voluntária.

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