Poucas regiões do país podem se orgulhar tanto da sua vocação ao cooperativismo quanto o Vale do Taquari. Desde os tempos de colonização, é uma característica que atravessa gerações e que resultou na formação e consolidação de grandes cooperativas, que atuam em diferentes áreas e setores da economia.
Mais do que a importância econômica, as cooperativas contribuem para o desenvolvimento regional como um todo, fortalecendo as comunidades onde estão inseridas. Nos últimos anos, muitas se expandiram para outras localidades do estado e até do país, sem perder, porém, o foco no Vale.
Um dos pontos-chave do sucesso do cooperativismo local é o fato de todos os associados serem os “donos” do negócio. Somente no ano de 2020, juntas, sete cooperativas somadas tiveram um retorno de R$ 138 milhões aos associados, fruto da distribuição das sobras que é feita anualmente, após fechamento e divulgação do balanço operacional.
Mesmo em um período de crise, com a pandemia da covid-19, muitas cooperativas registraram números históricos. Caso da Certel, que atingiu um faturamento total de R$ 380 milhões em 2020, expandindo sua atuação. “Mesmo com um ano atípico, o planejamento foi adaptado às novas realidades, sendo possível atingir resultados surpreendentes e positivos em todas as atividades”, destaca o presidente, Erineo José Hennemann.
Cooperativas do ramo alimentício, como a Languiru e a Dália registraram números expressivos em 2020, com faturamentos brutos bilionários. As cooperativas de crédito também tiveram números positivos apresentados nas assembleias gerais.
“Você pode opinar, exigir, fiscalizar”
A Sicredi conta com três cooperativas diferentes atuantes no Vale do Taquari. Uma delas é a Sicredi Integração RS/MG, com sede em Lajeado. O presidente Adilson Metz destaca um dos pontos positivos do cooperativismo é o protagonismo do associado frente ao negócio. Por isso, o modelo têm dado certo na região.
“O cooperativismo é nós mesmos fazermos. E você tem recurso sobrando e, ao invés de ir para fora, fica e gira aqui. A riqueza permanece na região. E o associado, como dono, pode opinar, exigir, fiscalizar. Sem dúvidas, as cooperativas são um diferencial para a nossa região”, argumenta.
Mesmo as cooperativas que trabalham com exportação, segundo Metz, trazem recursos de volta para o Vale. “Se analisar o volume de receitas que gira ao redor das cooperativas é algo incrível. Grande parte da economia local é movimentada por elas. E um dos grandes pontos é a preocupação com o social”, avalia.
Alma da cooperativa
Entre as cooperativas atuantes no Vale, há uma novata na lista. Embora tenha mais de 80 anos de atuação, a Arla ingressou no ramo somente em 2017, quando incorporou a antiga Cooperval. E a decisão, para o presidente Orlando Stein, não poderia ser mais acertada. O número de associados, em quatro anos, mais do que triplicou.
“De 500 associados passamos para 2,3 mil. Sem dúvidas, foi um acerto, tanto econômico quanto social. Consultamos um por um e todos os associados aceitaram na época, sabendo do poder do cooperativismo. E as pessoas continuam aderindo, apoiando, reivindicando e interagindo bastante”, salienta.
Stein também lembra que a Arla possui uma política diferente e, até pelo pouco tempo de cooperativismo, oferta descontos para os associados em produtos variados. “Isso está funcionando bem, pois o associado é a alma da cooperativa. Acredito que estamos no caminho certo”, avalia.
“Sentimento de pertencimento”
Na análise da economista Cíntia Agostini, o cooperativismo se fortaleceu no Vale graças ao legado deixado pelos antepassados, ainda no período de colonização e predomínio da população rural. Naquela época, as famílias passaram a se associar para obter melhores resultados.
“Quando eramos pequenas propriedades, com áreas muito restritas e indisponibilidade de bens, precisava me associar ao outro. Se tinha uma noção de coletividade e essa dinâmica vai se tornando muito próxima da dinâmica de negócios. É dessa noção, de estarmos juntos e que, associados, somos mais fortes, é que nascem as cooperativas. Todos os setores perceberam que formatar uma cooperativa a partir do que se tem é uma possibilidade de um bom negócio”, salienta.
O cooperativismo, para Cíntia, está enraizado no Vale, diferenciando-a de outras regiões por suas características. “Temos cooperativas que atuam em diferentes setores. Mas a relação delas com o seu parceiro, seu cooperado, as pessoas envolvidas na cadeia, é diferenciada. É um sentimento de pertencimento ao território”, afirma.