Pandemia agrava fome e estimula projetos solidários

Sem desperdícios

Pandemia agrava fome e estimula projetos solidários

Pesquisa mostra que 19 milhões de brasileiros enfrentam insegurança alimentar. Na região, Mesa Brasil Sesc lançou o Pomar Solidário 2021, que busca arrecadar frutas, legumes e verduras para alimentar famílias atendidas por instituições beneficentes

Pandemia agrava fome e estimula projetos solidários
Nas terras de Clédio Testa e Ângela Maria Kuhn, o que sobra da produção frutífera é doado para o Mesa Brasil (Foto: Divulgação)
Vale do Taquari

Nas terras do bancário aposentado Clédio Testa, 72, em Cruzeiro do Sul, há mais de 100 árvores frutíferas. É lá que ele cultiva laranja, limão, bergamota, abacate e outras frutas para consumo próprio. Mas a produtividade é grande e boa parte da safra também é doada para o Mesa Brasil Sesc, que lançou o programa “Pomar Solidário 2021” no início da semana. Esta é uma das iniciativas que buscam amenizar os problemas de enfrentamento à fome, agravados pela pandemia e que atinge 19 milhões de brasileiros.

Clédio já faz as doações há cerca de cinco anos e as entregas ocorrem de quatro a cinco vezes no ano, durante a safra das frutas em cada estação. “Eu produzo porque gosto, e como não vendo, acabo tendo muitas frutas. Depois de ver uma reportagem no jornal, eu conheci o Mesa Brasil e iniciei as doações”, conta. Em alguns anos, ele e a esposa Ângela Maria Kuhn, 57, chegaram a doar 1,5 mil quilos de frutas e alguns aipins. “No ano passado, demos muitos abacates”, comenta Clédio.

Assim como ele, outras pessoas da comunidade também costumam doar alimentos para a entidade. Este ano, a demanda é ainda maior. Segundo a nutricionista do Mesa Brasil, Juliette Carvalho, as doações diminuíram no último ano e, com isso, as arrecadações com Pomar Solidário são ainda mais incentivadas para distribuir frutas, legumes e verduras excedentes em pomares e hortas para as famílias atendidas pelas instituições sociais em situação de vulnerabilidade social cadastradas no Mesa Brasil.

“O nosso objetivo é evitar o desperdício de alimentos, por isso incentivamos a doação do que sobra nos pomares e hortas, mas também aceitamos doação de toda a comunidade em geral que queira fazer sua parte e ajudar o próximo”, explica Juliette. Apenas no ano passado, a campanha já arrecadou mais de 12 toneladas de alimentos.

19 milhões de brasileiros enfrentam a fome

Este cenário se espalha pelo Brasil e diversos projetos buscam minimizar os números da fome no país. Lançado neste ano pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN), Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil mostrou que do total de 211,7 milhões de brasileiros entrevistados, 116,8 milhões conviviam com algum grau de Insegurança Alimentar no período da pesquisa. Destes, 43,4 milhões não tinham alimentos suficientes e 19 milhões enfrentavam a fome.

Em Lajeado, segundo a coordenadora do Cras Espaço da Cidadania, Fátima Luciane Machado, o número de pessoas em situação de vulnerabilidade social cresceu durante a pandemia, em virtude do desemprego, diminuição da renda informal e permanência das crianças em casa, sem o funcionamento das escolas, projetos em turno inverso e creches. E, consequentemente, o aumento de cadastros para receber a cesta básica.

Esse recebimento também passou a ser agendado para evitar aglomerações. Segundo Fátima, a demanda diária de atendimento é de 40 famílias. No mês de março, 773 famílias receberam auxílio alimentação nos dois CRAS e no CREAS do município.Em 2

020, Lajeado buscou minimizar os efeitos da pandemia, realizando mensalmente a concessão de cestas básicas, contabilizando 2.939 cestas e 1.700 kits de limpeza. Além disso, cerca de 3 mil cestas básicas foram adquiridas através de recurso do governo federal para entregar às entidades socioassistenciais de atendimento a pessoas com deficiência e idosos.

Mas em 2021, o número de doações diminuiu. “O que percebemos agora é um movimento da comunidade novamente para a arrecadação e doação de alimentos, para auxiliar as pessoas em vulnerabilidade”, avalia Fátima.

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