Uma das principais cidades do Vale do Taquari completa hoje 106 anos. De colônia italiana até polo de serviços, comércio e industrial, Encantado se tornou um elo com as demais microrregiões.
Neste contexto, deixou para trás o perfil voltado apenas à produção primária e se apresenta como uma das economias mais diversificadas do Vale do Taquari, com destaque para os alimentos, exportação de erva-mate, fábrica de sorvetes, de chocolates, de saúde e do segmento de cosméticos.
Em meio a esses potenciais, forças sociais planejam o futuro e pelo esforço coletivo, percebem a dificuldade em implementar planos integrados e coletivos. Encontrar as aptidões e superar obstáculos são os desafios tanto para os gestores públicos quanto à iniciativa privada.
Entre essas ideias, surgiu o Comitê do Futuro, formado por diversos setores e com participação da Associação Comercial e Industrial de Encantado (Aci-E). O objetivo deste grupo é criar o Programa de Desenvolvimento Econômico Local (Prodel).
A presidente da entidade, Maria Cristina Castoldi, destaca que sucessivas gestões da associação, foram desenvolvidos programas para contribuir com o desenvolvimento do município.
Para ela, o associativismo se constitui em força estratégica capaz de promover a economia e melhorar as condições de vida das pessoas e da população. “As estratégias e as iniciativas para o desenvolvimento estimulam a diversificação da base econômica local, favorecendo o surgimento e a expansão das empresas.”
O Prodel tem como propósito de construir um modelo de Gestão e planejamento de longo prazo, visando ampliar a capacidade econômica do município, a geração de emprego e a qualidade de vida, por meio da atração de investimentos, do fortalecimento de parcerias público-privadas.
Barreiras para o crescimento
Autoridades públicas e empresários apontam a infraestrutura como o principal empecilho para o desenvolvimento social e econômico. Neste leque, entram o abastecimento de energia elétrica, a oferta de internet para o interior e também a precariedade das rodovias estaduais.
“São dificuldades comuns também para outras cidades da nossa região”, avalia o prefeito Jonas Calvi. Ainda assim, um dos projetos da administração municipal é dotar a zona rural do município de fibra óptica para melhoria nas conexões de internet.
“Queremos que o agricultor tenha autonomia, sem que seja prejudicado por um vento ou uma chuva que desconecta ele da internet.” Conforme Calvi, garantir mais qualidade representa novas oportunidades para o campo, seja no mais simples, acessar o talão do produtor, quanto para projetos de comercialização. “Temos produtores com adegas de vinho. Ele vai poder ter ali um canal de consulta, de venda. Apresentando o seu produto para consumidores de diversas localidades.”
Com relação às estradas, o movimento local sempre se posicionou de forma crítica ao trabalho desenvolvido pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Com a perspectiva do leilão da praça de pedágio, marcado para dezembro, as representações aguardam o estudo de viabilidade e as audiências públicas. Uma das principais reivindicações é a duplicação da ERS-130.
Inovação no ensino
No estado do Ceará, mais precisamente na cidade de Sobral, é que Encantado foi buscar um modelo de ensino. Na experiência do município nordestino, o então prefeito Adroaldo Conzatti (in memorian) e a equipe da Secretaria de Educação, alinharam a proposta voltada à educação criativa, inovadora e empreendedora.
O que chamou atenção dos agentes públicos gaúchos foram os resultados de Sobral no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Desde 2016, a cidade ocupa a 1ª posição no exame.
“Nosso foco passou a ser no treinamento dos professores. Repassando conceitos de economia criativa, inovação e empreendedorismo. Adaptamos o programa de Sobral com a nossa realidade”, diz o prefeito Calvi.
Foi criada uma escola de formação permanente de professores. “Esse é um programa de longo prazo.
Sabemos que se trata de uma mudança cultural e que demanda tempo. O importante agora é conseguir cada vez mais engajamento para essa iniciativa.”
Encantado na história
A formação do município se interliga com a consolidação do Vale do Taquari. Os ciclos históricos, da chegada dos primeiros açorianos ao sul, ocupando Taquari e cidades próximas, por volta de 1770. Mais tarde, com a imigração germânica e posterior a italiana. Essas etnias interferiram nas características de cada microrregião.
Ao sul, com a predominância de descendentes lusos e africanos. Ao centro, nas proximidades do Rio Taquari, maior presença de imigrantes alemães e na entrada da Serra, a ocupação das famílias italianas. Nestes limites, Encantado se tornou um polo de desenvolvimento da região alta.
Nos primeiros anos do Vale, as famílias dedicaram-se a uma agricultura de subsistência, mas gradativamente foram recorrendo à comercialização de excedentes que possibilitaram o surgimento do comércio e da indústria.
Em meio a essa formação regional, as últimas duas décadas foram de mudanças no perfil de Encantado. De economia com 50% de dependência da atividade campesina, hoje tem nos serviços e no comércio o principal fator de retorno aos cofres públicos.
Origens
Encantado começou a ser formado por volta de 1900, quando chegaram as primeiras famílias de imigrantes italianos. Em 31 março de 1915 foi criado o município.
Da cidade, foram desmembrados oito novos municípios. Arroio do Meio (1934), Arvorezinha (1959), Anta Gorda (1963), Ilópolis e Putinga (1963), Nova Bréscia (1964), Relvado (1988) e Doutor Ricardo (1995).