“A criança tem de ser feliz todo dia”

Abre aspas

“A criança tem de ser feliz todo dia”

Um sonho da infância transformado em movimento social. José Itamar Horn, mais conhecido como Bitti, 69, criou o projeto “Faça uma criança feliz”. Consiste em arrecadar doações de bicicletas, reformá-las e doar para menores carentes. Pelos cálculos do aposentado, já foram 12 entregues, sempre em datas festivas. Começou no dia 12 de outubro do ano passado. Depois outra remessa no Natal e uma nova agora para a Páscoa. Natural de Estrela, Bitti também é músico e enfrenta o mal de Parkinson faz 11 anos

“A criança tem de ser feliz todo dia”
(Foto: Arquivo Pessoal)
Vale do Taquari

Como surgiu o projeto “Faça uma criança feliz”?
A pandemia mudou muito da minha rotina. Resolvi lançar essa ideia para realizar o sonho de crianças carentes. Era o meu sonho quando criança. Eu não tinha bicicleta e ia para a praça, ficava olhando os outros andando de bici. Ficava torcendo para alguém me ver e me empresar para eu dar umas voltas.

Hoje, quero ajudar outras crianças. Faço as entregas no Dia das Crianças, no Natal e agora também farei na Páscoa. Estou com oito bicicletas para arrumar aqui em casa.

Neste tempo, quantas bicicletas entregou?
Calculo que tenha sido 12. Não sei ao certo, mas é por aí. Eu faço uma campanha nas redes sociais, falo com conhecidos, amigos aqui de Estrela, e peço doações de bicicletas velhas, de preferência as pequenas e médias. As grandes são muito complexas. Eu nunca fui mecânico de bicicleta, estou fazendo as reformas e aprendendo.

Então vou nas lojas de peças. Peço algumas usadas, compro outras. E vou criando uma rede para envolver mais as pessoas nessa ideia.

Bitti, quer dizer, agora, com quase 70 anos, está aprendendo a ser mecânico de bikes?
(Risos) Sim. Isso mesmo. As primeiras reformadas foram bem difíceis. Mas é bom, eu me ocupo, faz bem para minha mente, não fico pensando em coisas ruins. Passa a preocupação por causa dessa doença que está aí.
Estou com tantas bicicletas que não consigo sair da garagem. Coloquei o “auto” do lado de fora para ter mais espaço. Outra coisa, virei o mecânico da rua. As crianças daqui vem me procurar, pedem para trocar, pedem para eu ver algo. Ainda bem que não tem tantas crianças, pois uma vai falando pra outra, quando vejo, estão tudo aqui querendo que eu arrume ou troque (risos).

Além das bicicletas, também reformo baterias. Fico impressionado como tem músico relaxado com seu instrumento. Como não tenho conseguido ensaiar, minha relação com a música é essa. Toco um pouco de bateria e me dedico em reformar instrumentos.

Nestas entregas das bicicletas, o que mais te marcou?
Não tem explicação. Faço tudo isso pelo reconhecimento das crianças. Eu chego com as bicicletas, eles ficam olhando, meio receosos. Eu digo: “vai, pega. Pode andar. É tua”. É uma felicidade sem tamanho. Para mim, a criança tem de ser feliz todo dia. A infância é finita, passa muito rápido. Mas o que fica na memória é eterno. Nos acompanha toda a vida.

Bitti, já conversamos outras vezes. Em eventos como dos carrinhos de lomba, no Arte na Escadaria, no Clube do Rock. Como tem sido se afastar disso e também lidar com o Parkinson?
Hoje meu quadro é estável. Tomo minha medicação, tenho contato fácil com meu neurologista. Hoje me sinto quase normal. Estou faz 11 anos com a doença, e já estive pior. Atrapalha, sem dúvida. Para tocar bateria, por exemplo, tem muitas coisas que não consigo mais. Fazer pequenas atividades manuais, quando é muito pequeno, fica mais complicado.

Nesta pandemia, estou me cuidando muito. Saio pouco, pois sei dos riscos pela minha condição. Sinto falta de tocar com a turma, do churrasco no fim de semana, do abraço dos amigos. Mas agora temos de esperar. Me vacinei na sexta-feira, a primeira dose e, mesmo assim, não vou relaxar. Os cuidados vou manter por bastante tempo.

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