Velocidade sobre as águas do Rio

NOS TEMPOS DA MOTONÁUTICA

Velocidade sobre as águas do Rio

Veteranos da motonáutica relembram histórias do esporte que garantia emoção dentro e fora do Taquari

Velocidade sobre as águas do Rio
(fotos: arquivos pessoais)
Vale do Taquari

Corrida de barco era mais do que um esporte aquático nos anos 70. Exigia dedicação e cuidado em uma modalidade de risco. Foi naquela época que a motonáutica ganhou adeptos em Lajeado. Entre eles, o dentista Ariberto Wiebusch, 88, um dos primeiros pilotos da cidade a se arriscar nas águas do Taquari.
As primeiras corridas do Vale foram disputadas em 1972 e 1973, na prova do Costão, no bairro Carneiros.

“Quando surgiu a motonáutica aqui, havia só dois barcos. Depois mais pilotos começaram a participar”, conta Ariberto. Os municípios vizinhos também sediavam provas que saiam do rio e das lagoas que banham Estrela, Cruzeiro do Sul, Encantado e Teutônia.

Além de importantes troféus estaduais e nacionais, o ex-motonauta coleciona hoje histórias de um esporte praticado, igualmente, em família. “Teve uma corrida em Cachoeira do Sul muito bonita. Nós íamos antes com as esposas e os filhos. Lembro que na noite anterior jantamos, tomamos uma cervejinha, cantamos e todo mundo foi dormir cedo”.

Outra lembrança de Ariberto é o episódio em que juntou 12 pilotos para a prova disputada em Entre Rios. Os barcos foram transportados em reboques presos a carros e, vez ou outra, paravam no caminho para trocar algum pneu. “Era tudo na camaradagem, mas na hora de ir para a raia, o pau pegava e todo mundo queria vencer”, comenta.

 

Entre as lembranças de Ariberto Wiebusch, conquistas de títulos estaduais e nacionais

Um esporte familiar

Logo que Ariberto começou a competir, a esposa Sonia Wiebusch e os filhos André e Betina viajavam juntos para assistir as corridas do pai. Levavam chimarrão e calça-virada e se acomodavam à beira do rio, geralmente aos domingos.

Quando as provas eram disputadas em dois dias, era comum as famílias se hospedarem em hotéis ou dividirem casas. “A gente formava uma amizade muito grande, e quando as competições terminavam, almoçávamos churrasco todos juntos”, lembra Sonia.

Por cinco anos Ariberto esteve afastado das principais competições, mas, em 1987, voltou às raias de corrida para disputar a Copa Cosuel de Motonáutica, organizada por ele e outros pilotos da região.

 

José Schnorr lembra dos tempos áureos da motonáutica no Vale

Lembranças do tempo áureo

“Organizamos este campeonato e foi um sucesso, surtiu efeito no pessoal de Lajeado que ficou muito conhecido”, conta outro competidor da época, José Rudi Schnorr, 74. A maratona foi disputada em sete etapas: Encantado, Lajeado, Cruzeiro do Sul, São Leopoldo, São Jerônimo, Teutônia e de volta em Encantado.

Schnorr comprou seu primeiro barco de Ariberto, e colocou um motor Monark para disputar o Campeonato Gaúcho, do qual foi vice-campeão em 1978, no ano de estreia.

Durante o tempo em que correu, mantinha a profissão de industriário no ramo de malharia e confecções. “Quando eu viajava, levava minha hélice na mala e passava as noites preparando o equipamento”, lembra. Cada detalhe contava, e isso fez diferença nas competições.

Quando Schnorr parou de pilotar, tornou-se preparador de barcos e atuou na organização de alguns campeonatos estaduais. O ex-piloto guarda boas lembranças dos tempos áureos da motonáutica. “Era uma forma de viajar, de conhecer outros lugares. A motonáutica era uma família”, afirma Rudi.

 

Troféus de João Lange são memórias dos bons tempos de piloto

Modalidade de risco

Entre os amigos estava o ex-piloto João Lange, 79, que nos anos 70 vivia daquilo que o Taquari oferecia: pesca, remo, nado e, mais tarde, a motonáutica.

“Na época se tinha uma coisa muito forte com a água e ela devia ser respeitada”, conta Lange. Ele foi um dos primeiros pilotos da motonáutica na região e começou a competir assim que conseguiu comprar os primeiros equipamentos para as corridas.

Depois de muitos fins de semana de provas e pela conquista de inúmeros troféus, Lange só parou de correr em 2009, quando sofreu um acidente. “Foi durante uma prova em Santa Catarina. Tive costelas quebradas, pulmão perfurado, rim comprometido, braço fraturado, então optei por encerrar a carreira depois disso”, conta.

Os acidentes não eram raros na modalidade. Apesar disso, Lange não deixou de lado o gosto pelo esporte. “A motonáutica nos trouxe muitas amizades. Foram tempos bons”, afirma.

 

Foto do ex-motonauta André Lopes em uma corrida na Lagoa do Bonifácio, em 1995, em Cruzeiro do Sul

Circuito nas águas

Em 1994, os pilotos da região fundaram o Clube Náutico Delta, hoje instalado no município de Cruzeiro do Sul. Uma lembrança da época áurea da motonáutica, que teve João Lange como o primeiro presidente, e André Lopes, 57, como um dos fundadores.

O construtor lajeadense ganhou gosto pelas corridas com o exemplo dos vizinhos Ariberto e André Wiebusch. “Eles tinham um barco de corrida e nós íamos juntos pra barranca do rio”, lembra Lopes. Em 1990, comprou o primeiro barco para competir.

Geralmente os campeonatos eram aos fins de semana. Os treinos eram nos sábados, e as provas nos domingos, perto das 14h. Elas eram feitas em um circuito oval e as raias tinham tamanhos diferentes. Algumas possuíam 600 metros, outras 300. Geralmente eram feitas 13 voltas pelo circuito.

“A motonáutica era muito competitiva. Fora da água todo mundo se dava, mas dentro da água era outra história”, conta. Os pilotos costumavam esconder as hélices debaixo de panos e apenas tirar na hora de colocar o barco na água, para ninguém copiar o modelo.

Os pilotos usavam coletes salva-vidas e capacete. Também era necessário uma Carteira de Arrais Amador. Lopes lembra que durante as competições havia a escolha da Garota Motonáutica, um concurso com jurados entre as gurias da região.

Por cinco anos, ele também foi presidente da Federação Gaúcha de Motonáutica, que teve sede no Clube Náutico Delta. Hoje a federação não existe mais e as corridas perderam força no Vale. O Clube ainda existe no município.

 

Comunidade se reunia às margens do rio durante as provas

A motonáutica pelo Estado

Depois que a velha guarda se aposentou, as corridas de barco ainda tiveram palco no Estado, por meio da organização da Associação de Motonáutica do Estado do Rio Grande do Sul (Amorgs), que também é a responsável anualmente pelo Campeonato Gaúcho de Motonáutica desde 2013, conforme explica a presidente da associação, Cristina Coelho Trisch.

No Vale, os campeonatos também já fizeram parte de algumas edições da Multifeira.

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