“O leito de UTI está sendo liberado, não pela melhora de outro paciente, mas pelo óbito”. A afirmação é de Clóvis Soares, diretor da rede Divina Providência, que conta com duas casas de Saúde em Porto Alegre, e três no Vale do Taquari: o São José, em Arroio do Meio, o Santa Isabel, em Progresso, e o Hospital Estrela.
Na semana passada, o cenário teve uma sútil melhora: a cada quatro leitos vagos, dois morreram e dois estão em recuperação.
Soares enaltece o trabalho das equipes. Funcionários trabalham em turnos de 12h e até 24h. Mesmo assim, o esforço não é suficiente para atender a demanda. O diretor acredita que a única saída é a redução dos contágios. “A gente tá sobrecarregado, a gente tá gastando, a gente tá se endividando, mas a vida das pessoas vale muito mais. As pessoas tem que evitar ficar doente e o único modo é o isolamento social”.
A rede Divina Providência aumentou os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de 36 para 122.
Aumento de gastos
A alta demanda por medicamentos necessários na entubação de pacientes elevou os preços do remédio. Algumas drogas estão mais de 500% mais caras do que em 2020. O nidazolam custava R$ 3,08 e, agora, é vendido a R$ 17,40.
Já o rocurônio, medicamento mais utilizado em pacientes entubados saltou de R$12,58, em 2020, para R$ 33,30, em 2021. “Um fornecedor ofereceu para nós, em Porto Alegre, por R$ 300”, revela Soares.
Ele relata ainda que cada paciente em estado crítico necessita de 10 ampolas por dia de rocurônio. A rede compra cerca de 12 mil ampolas por mês.
Os hospitais menores, que não tem UTIs, mas possuem respiradores, também passam por essa elevação de gastos. É o caso do São José, em Arroio do Meio, com quatro pacientes entubados.
Falta aporte do governo
Em 2020, o Ministério da Saúde repassou recursos para custeio, compra de medicamentos e de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Conforme o administrador do Hospital Leonilda Brunet, e presidente do Sindicato dos Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos (Sindberf), do Vale do Taquari, Fernando da Gama, em 2021, o governo federal não repassa mais nada.
Conforme Gama, cada paciente de UTI custa por dia R$ 3 mil. Enquanto o Sistema Único de Saúde (SUS), paga R$1,6 mil para cada paciente.
“Essa discrepância ocorre porque a medicação usada por esses pacientes sumiu do mercado”, relata Gama.
Os grandes hospitais possuem melhores condições de compra. Além da falta de estrutura, as instituições menores sofrem com a falta de abastecimentos pois fazem aquisições em menor escala.
Reunião na Assembleia
Por mais de quatro horas, os dirigentes dos hospitais gaúchos relataram o cenário em sessão da Assembleia Legislativa na quarta-feira, 17.
“Os deputados tem que pensar em todo RS, não em suas bases eleitorais. Os hospitais estão com as mesmas dificuldades”, diz Fernando Gama.
Ele defende que os deputados repassem, pelo menos, R$ 50 milhões no combate à covid. Ao todo, os parlamentares dispõe de R$ 55 milhões em emendas.